A atual pandemia que alastra pelo mundo teve origem na China. Uma das poucas afirmações que o regime de Pequim não ousa desmentir. O vírus surgiu, portanto, num país onde vigora um populismo totalitário. Uma ditadura onde o partido comunista se afirma como a vanguarda do povo. O mesmo povo a que não reconhece as liberdades. Daí a forma como, a nível interno, lidou com a pandemia.

Porém, não foi apenas dentro das suas fronteiras que o comportamento do regime de Pequim foi intolerável. Na realidade, é difícil aceitar que a China tivesse escondido à comunidade internacional a dimensão do desastre. Xi Jinping sabia que, num mundo global, o vírus não tardaria a espalhar-se, mas agiu, bem para além do limite, como se a situação estivesse controlada.

Uma atitude que a Organização Mundial da Saúde (OMS) não teve coragem de denunciar e que contou, igualmente, com o beneplácito de muitos governos que se limitaram a desvalorizar a ameaça iminente. Por isso os regimes populistas decidiram nada fazer a não ser acusar quem ousava denunciar o perigo.

Foi esta estratégia, ou melhor, a falta dela, que explicou o elevado número de mortos e de infetados nos países liderados por partidos populistas ou onde os populistas integram o governo. Que o digam os italianos desgovernados pelo Movimento 5 Stelle (M5S). Ou os espanhóis que viram o PSOE de Sánchez esticar a mão ao populista Podemos de Pablo Iglésias.

Por falar em Espanha, a vice-presidente do governo espanhol, Teresa Ribera, não encontrou melhor forma para justificar o exagero de mortes por Covid-19 no seu país quando comparado com Portugal do que dizer que tudo se devia ao facto de o vírus vir do leste e Portugal estar a oeste de Espanha. Uma explicação pueril e que não teve em conta que a pandemia tinha continuado a rumar a ocidente atravessando o Atlântico para se instalar na América.

Ora, do outro lado do oceano, dois populistas voltaram a fazer jus à imagem que têm cultivado: Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil. Assim, inicialmente recusaram qualquer alteração na vida dos respetivos países decorrente daquilo que designaram como uma gripezinha. Depois, face ao crescimento do número de infetados e de vítimas mortais, mantiveram um ar de valentões de peito feito e sem máscara no rosto, enquanto iam demitindo ou desvalorizando todas as vozes que os pretendiam chamar à realidade.

No Norte, o presidente empresário só tinha olhos para a reabertura, a qualquer preço, da economia. No Sul, o presidente, talvez por contar com a bênção evangélica, acredita, como o Governo do Burundi, que o país estava sob a graça divina. A mesma proteção que teria dotado os brasileiros de uma imunidade congénita ilimitada.

Os exemplos elencados tornam desnecessário elencar outros países onde os líderes populistas minimizaram o problema e, logicamente, maximizaram o número de mortos. Sendo certo que o vírus continua – e continuará – a fazer vítimas em todo o mundo, não é menos verdade que o desastre humano é bem maior nos países liderados por populistas totalitários. Mesmo nos casos em que os governos recorrem a uma contabilidade criativa e paralela.

A demografia dá conta de que a Humanidade já se viu confrontada com três pretensos “mundos cheios”. Os populistas não têm dúvidas de que estamos a viver no quarto momento. Daí a atitude face aos imigrantes e aos refugiados. Por isso a naturalidade com que aceitam o ofensivo número de vítimas. Aliás, outra coisa não era de esperar. Afinal, o populismo anseia transformar-se no vírus da democracia.