Francisco Seixas da Costa, embaixador, analista internacional ‘de serviço’ no JE, volta a dar à estampa um livro: “um tijolo de quase 700 páginas” onde conta episódios avulsos do seu dia a dia, um lugar de intensidades prováveis mas algumas delas imprevisíveis. É de algum modo o lado ‘core’ da atividade de uma das figuras mais destacadas da diplomacia portuguesa das últimas décadas. E é também um prefácio para um desejável novo volume que desta vez aborde o lado ‘hardcore’. A haver um, evidentemente.
Para além da evidência do título, o que esteve por trás da elaboração de ‘Antes que me esqueça’?
Basicamente, foi a vontade de dar guarida, em livro, a relatos de memória que tinha juntado no meu blogue “Duas ou Três Coisas”, nos últimos 15 anos. Não tenho quaisquer arquivos, papeis, registos. Apenas possuo uma memória que considero boa (já foi bem melhor, claro!) e, com ela, fui reconstituindo episódios que pessoalmente me marcaram, quer na vida diplomática, quer na passagem pelo governo, a qual, de certo modo, foi também um tempo diplomático, dessas quase quatro décadas. Assim, à medida que me recordava de factos e pessoas relevantes, ou que algum acontecimento os suscitava, elaborava textos e publicava-os, de imediato, no blogue. Sempre num estilo completamente despretensioso e sem a menor preocupação literária. Criei assim uma espécie de “gaveta” de episódios e retratos. O “Antes que me esqueça” é, no fundo, um “best of” daquilo que, sobre a minha profissão, tinha escrito no blogue. E tenho escrita uma imensidão de outras recordações (não gosto de chamar a isto memórias) que não excluo poder vir a publicar.
A memória futura – é aí que, digo eu, o livro se inscreve – é uma forma de combater as ‘fake news’? Ou mais de explicar o passado recente de uma forma linear e inteligível?
Não tive um objetivo concreto ao fazer este livro. Não quis repor qualquer verdade que estivesse prejudicada por relatos falsos ou distorcidos. Procurei apenas dar um testemunho de cenas que testemunhei, quase sempre na qualidade de ator secundário, porque é esse o papel de um diplomata ou de um político “por empréstimo” como eu fui. Entendi que seria uma pena perder-se o registo de certos episódios, alguns dos quais, por vezes, contava a amigos, que me estimulavam a dar-lhes uma forma escrita. Mas – que fique claro! – não tive a menor pretensão de vir a fazer História! Admito que algumas coisas que coloquei no livro possam ajudar as pessoas a contextualizar certas questões internacionais de que ouviram falar. Em especial, estou seguro que talvez isso os ajude a compreender melhor, quer as tarefas dos diplomatas, quer, em especial, a lógica subjacente a certas tomadas de posição da diplomacia portuguesa. Mas, repito, sou muito modesto quanto aos objetivos deste livro. Longe de mim querer “to put the record straight”.
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