No meio de duas guerras a que não se consegue colocar um fim (ou ao menos um interregno), no quadro do drama dos refugiados e no contexto da epidemia da fome as Nações Unidas promoveram a sua 79ª assembleia-geral. É um lugar de onde todos os anos emana uma dúvida: afinal, a ONU serve para o quê?
Duas ‘escolas’ têm pensamento sobre a matéria: uma que recusa qualquer lógica à organização e que tende a vê-la como uma espécie de órfão da Guerra Fria; e outra que lhe encontra virtudes para além da guerra e da paz. Ambas convergem na evidência de que o ‘cancro’ da ONU só tem um nome: Conselho de Segurança. Jaime Nogueira Pinto e Francisco Seixas da Costa fazem parte dessas escolas, cada um na sua, e o JE ouviu os dois sobre o assunto.
O ‘não’
“Como realista e ‘pessimista antropológico’, nunca tive, nem tenho, grandes ilusões sobre a ONU. Historicamente foi uma forma de, no fim da Segunda Guerra Mundial, os vencedores ocidentais e soviéticos – ou melhor, americanos e soviéticos – criarem uma espécie de palco ou teatro do mundo, com um regulamento de boas intenções e que equilibrasse e sobretudo tornasse ‘politicamente correta’, para os que a iam suportar, a nova Ordem Mundial”, refere Nogueira Pinto.
E com o andar do tempo, “cada vez mais absurda e irreal em termos de representatividade e ação, a ONU foi sobrevivendo. Na realidade, a organização conheceu os tempos da Guerra Fria (desde a sua fundação até 1989-1991); depois foi a hegemonia norte-americana; agora é o mundo e a ordem multipolar que nasceram da crise ou colapso da ordem liberal internacional, um mundo em que não reconhece o equilíbrio de poderes que persiste há quase 80 anos. Os poderes e Estados emergentes do Sul Global são críticos do sistema”, recorda.
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