A capacidade de nos colocarmos no lugar do outro é uma qualidade fundamental e tem uma relevância cada vez maior na advocacia. A citação que consta do título traduz essa necessidade de estarmos atentos à diversidade de perspetivas, de sabermos – umas vezes com humildade, outras com coragem e às vezes até com uma indignação que não confessamos – ver a realidade sem ser pelos nossos olhos.

Este exercício pode ser excessivamente emocional, resultando num melindre que pode ter um efeito paralisante ou vir a resultar na ditadura do politicamente correto. Mas fora destes domínios patológicos, a empatia é essencial para assegurar que o nosso trabalho contribui para que o cliente atinja plenamente os seus objetivos.

A criatividade fez sempre parte da profissão jurídica, não só para estruturar negócios, mas também para imaginar vias de ação e reação na resolução de litígios. Esta criatividade tem agora de ser usada para ver a realidade da perspetiva do cliente.

Um exercício que tenho repetido com insistência e que não resisto a tentar contaminar outros na PLMJ, é aplicar à minha vida profissional (e não só!) é aplicar a metodologia de design thinking na forma de abordar um problema.

A ideia é utilizar abordagens e ferramentas do design para inovar e criar soluções centradas no ser humano, algo que se tem revelado bastante útil quando aplicada aos serviços jurídicos, na medida em que tem precisamente uma análise empática como elemento central. Essa mesma análise empática inicial visa compreender as necessidades, desejos e desafios do cliente, passando sobretudo por ouvi-lo atentamente, sem preconceito ou juízo, compreendendo o seu contexto e motivações.

A fase seguinte desta metodologia envolve a definição do problema a ser resolvido, partindo da análise inicial. Aqui o essencial é o ponto de vista dos clientes, considerando as suas necessidades e desafios.

As restantes fases incluem a geração de uma ampla gama de ideias e soluções possíveis (ideação), a criação de representações tangíveis das ideias para testá-las e desenvolvê-las e a experimentação de soluções com utilizadores finais para obter feedback e refinar a abordagem.

Os desenvolvimentos recentes no domínio da inteligência artificial baseada em modelos de linguagem representam um avanço extraordinário e, para além do impacto imediato que já estão a ter, irão certamente revolucionar a advocacia.

Aliás, basta pensarmos como raciocinar de um determinado “ponto de vista” é precisamente o que a Inteligência Artificial (IA) já está a exigir de nós, se quisermos – e temos de querer – tirar proveito das suas virtualidades. O que é a experiência de usar o ChatGPT senão um exercício de empatia? Na procura de obtenção das melhores respostas deste tipo de sistemas é essencial o desenho do legal prompting (o questionamento do sistema para obter respostas relevantes para o trabalho jurídico), sobretudo a criação de uma persona que ajude a manter a consistência no tom e no estilo das respostas.

Aqui também a perceção da perspetiva do outro é muito importante, sendo relevante não só para efeito do desenho do questionamento aos sistemas de IA, como sobretudo para efeito da determinação dos objetivos que se pretendem com essa interação.

O bom advogado, agora e ainda mais no futuro, tem de saber colocar-se na posição do outro para assegurar que os objetivos do cliente são atingidos e para saber extrair o melhor resultado dos sistemas de inteligência artificial.