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Primeira ‘zero waste store’ na Europa é portuguesa, biológica e a granel

A Maria Granel foi um projeto concebido em 2013 por Eunice Maia, uma professora de origem minhota, e pelo marido, um economista açoriano, que surgiu da vontade de recuperarem a imagem das mercearias tradicionais da infância e reintroduzi-las na grande cidade.
22 Maio 2019, 07h40

Foi há seis anos que Eunice Maia e o seu marido escolheram Lisboa para ser palco de um projeto que viria a revolucionar Portugal – A Maria Granel, a primeira zero waste store do país que hoje promete ser mais que uma loja.

A loja biológica promove apenas um tipo de venda: cada cliente serve-se apenas da quantidade que precisa ou deseja levar e paga a peso ou à unidade. Ou seja, nada está previamente embalado para assim promover o consumo sustentável.

O projeto concebido em 2013 por Eunice Maia, uma professora de origem minhota, e pelo marido, um economista açoriano, surgiu da vontade de recuperarem a imagem das mercearias tradicionais da infância e reintroduzi-las na grande cidade. A primeira loja, “começou por ser uma homenagem a estas raízes e à recuperação da tradição e da memória associadas ao campo”, explica Eunice Maia. Mas rapidamente “foi despertando dentro de mim uma consciência de ambientalista e ativista que antes não tinha”, confessa

Em conversa com o Jornal Económico, a professora de português e de literatura revela que nem ela, nem o marido, tinham qualquer experiência na área. Tinham apenas “uma vontade muito grande de ajudar a reduzir o desperdício e a eliminar o plástico descartável”.

“Estudámos o mercado internacional, e falámos com os fundadores de lojas pioneiras em todo o mundo,” conta a professora “e achámos que fazia todo o sentido introduzir em Portugal a venda a granel de produtos biológicos, dispensado totalmente as embalagens”.

Quando abriram as portas em Alvalade, contavam apenas com 240 produtos expostos num espaço de 70 metros quadrados. Hoje, têm um segundo espaço de 150 metros quadrados em Campo de Ourique, que se dividem por dois pisos: o primeiro é dedicado à alimentação, e o segundo, a acessórios e produtos de higiene, entre os quais se destacam os detergentes naturais – que são vendidos a granel, é claro.

“Neste momento temos mais de mil produtos, uma loja online e uma nova secção de detergentes e de beleza a granel”, sublinhou Eunice Maia enquanto explicava o crescimento que a loja tem vindo a ter, não só em termos de faturação mas também na comunidade local. Atualmente a loja dá trabalho a oito mulheres e dois homens. Entretanto estima-se que já terão surgido umas dezenas de mercearias que seguem os mesmos conceitos de “Zero Waste Store”, espalhadas pelo país.

É também no segundo piso que Eunice organiza eventos e workshops, num espaço equipado com material de cozinha, onde se espera fazer crescer o interesse e conhecimento sobre a prática de consumo mais ecológica, sustentável e consciente que o projeto Maria Granel defende desde o seu início.

O feito, que surgiu de um sonho, foi considerado pioneiro no espaço europeu e valeu-lhe o prémio atribuído pela Fundação Yves Rocher, o Prémio Terre de Femmes 2019.

Ao educar a comunidade para a reutilização de frascos e sacos de pano, em menos de três anos Eunice Maia “conseguiu desviar cerca de um milhão de sacos de plástico de aterro”, indica a organização do prémio em Portugal. A justificar a escolha de 2019, sublinham “o compromisso de sustentabilidade” assumido por Eunice, que se “estende aos produtos que vende: 100% ecológicos, certificados, livres de organismos geneticamente modificados, respeitando os solos e o ritmo das estações e da terra”.

Em 10 anos, este prémio já distinguiu em Portugal 22 mulheres eco-empreendedoras e eco-cidadãs. A nível internacional, a iniciativa vai na 18.ª edição, tendo já apoiado 400 mulheres em 50 países, e investido cerca de 1,8 milhões de euros nos seus projetos.

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