Existem em Angola 800 mil muçulmanos provenientes da África ocidental, mas cada vez mais nacionais convertidos, em particular mulheres. Há mesquitas em todas as províncias, totalizando actualmente 176, sendo que igrejas de matriz cristã são 90. Contudo, o Conselho Islâmico de Angola clama pelo reconhecimento, pois apesar de já estarem no país há 50 anos, ainda não têm o aval estatal.
O islamismo deixa-nos desconfiados, sendo que os seus praticantes já foram estigmatizados e perseguidos. Não temos dados oficiais que nos permitam quantificar o seu crescimento, contudo, se perguntar a qualquer residente do Mártires, zona próxima ao aeroporto internacional, ou do Hoji-ya-henda, onde estão muitos armazéns de venda de produtos alimentares, domésticos e não só, dir-vos-ão que estão por todo o lado.
Algo que é importante dar conta é que, por norma, estes comerciantes chegam ao país sozinhos e acabam por criar família. Daí que não seja invulgar ver senhoras de burka ou hijab.
Para muitas destas mulheres, casar com um muçulmano é uma forma de sair da pobreza e assegurar subsistência, apesar de já ter visto muçulmanas zungueiras. Os seus filhos, após uma determinada idade, são enviados para o país de origem do pai, para estudarem o Corão.
Preocupa-me que não estejamos a acompanhar convenientemente o fenómeno, e que não o regularizemos. Não sou apologista da diabolização da religião e muito menos da associação do extremismo à mesma, pois existem denominações religiosas cristãs com práticas impróprias, como o cárcere privado ou a ausência de alimentação que origina inanição e para as quais também não damos a devida atenção.
Porém, é importante que tenhamos respostas para os motivos que levam os cidadãos a converter-se, o papel que as mesquitas têm nessas comunidades e que tipo de informação é veiculada.
O governo não pode continuar em silêncio e tem de dar resposta à formalização, para que não se alimente um sentimento de estigma e rejeição, que pode originar extremismos. Creio que ainda estamos distantes do exemplo de Cabo Delgado, mas será mesmo assim?
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.