Avaliar a mentira tem sido um tema estudado amplamente a nível clínico desde os primeiros estudos na área da psicologia cognitiva com o termo malingering e na área da psicologia psicanalítica com o termo impostor. No entanto, o termo mentira não é o mais correto de ser utilizado. Embora este possa deixar o público leigo no tema mais curioso, o termo correto a utilizar deverá ser “credibilidade do testemunho”.

Uma das esferas da realidade corporate onde este tipo de saber psicológico poderá ser aplicado é a área da fraude corporativa, onde se continua progressivamente a observar um impacto elevado no bem-estar das sociedades em geral e das pessoas em particular. O último relatório da Association of Certified Fraud Examiners reportou mais de 2500 casos de fraude, identificados em 125 países, e com um total de perdas num valor superior a 3.6 biliões de dólares. Os casos analisados reportaram a situações de fraude em vários setores, transmitindo a ideia de que, atualmente, nenhum setor se encontra isento de sofrer as consequências de um evento desta índole.

Após serem conduzidos diferentes procedimentos de análise documental, financeira e/ou digital, um dos desafios com que as equipas que conduzem uma investigação de fraude se deparam diz respeito à forma e conteúdo das perguntas a serem realizadas com pessoas de interesse para a investigação, onde eventualmente poderão constar alegados suspeitos.

A fim de inferir sobre a credibilidade das respostas durante as entrevistas, é importante não só fazer as perguntas certas, mas da forma correta. Ao mesmo tempo, não só se poderá analisar o conteúdo das respostas a nível verbal para confirmação de factos, mas todo um conjunto de indicadores (designadas cues) não verbais, bem como outros pressupostos de observação clínica integrados na avaliação da credibilidade. No entanto, para essa ação ser bem-sucedida, é necessário que as equipas estejam munidas de profissionais especializados nas temáticas da avaliação da credibilidade do testemunho e da condução de entrevistas forenses.

Não só pela aplicação científica de metodologias reconhecidas a nível internacional, mas pela capacidade de desenvolver conteúdos que podem ser utilizados enquanto meios complementares de prova num tribunal e/ou de inteligência numa investigação interna, as organizações devem munir-se de todas as ferramentas que possam elucidar sobre os factos e responsabilidades num eventual caso de fraude.

Assim, a fim de responder a necessidades das organizações, de forma inovadora a equipa de Forensic & Integrity Services da EY tem investido nas suas equipas de investigação de fraude, complementando às áreas de análise documental e financeira, diferentes experiências e saberes tais como psicologia forense e investigação criminal. Este tipo de background multidisciplinar das equipas que conduzem uma investigação de fraude, previne erros típicos de confirmação de expectativas durante entrevistas, como se observa regularmente nas situações de enviesamentos cognitivos (também designados por heurísticas), e promove um olhar científico e rigoroso sobre dimensões não avaliadas até então, como o caso da credibilidade do testemunho através de ferramentas de observação psicológica.