Não será perigoso visitar o Líbano?” Quando colocaram essa questão ao Papa Leão XIV, deixou claro que não iria alterar os seus planos de visitar o país. Mais de um ano após o cessar-fogo de hostilidades entre Israel e o Hezbollah, o Líbano já não surge com tanta frequência nas notícias, mas na realidade continua a sofrer bombardeamentos israelitas, numa tentativa de enfraquecer o Hezbollah. É uma situação catastrófica que não permite ao país recuperar de sucessivas crises.
Mas apesar do estado de guerra permanente que assombra o Levante, nada iria impedir os libaneses de dar as boas-vindas ao Papa Leão XIV, na sua primeira visita oficial ao país. O Líbano é dominado por um regime confessional único no mundo, uma “comunidade de comunidades”, onde diversos grupos etno-religiosos coexistem e partilham entre si o poder político. É onde se encontra uma das maiores comunidades cristãs do Médio Oriente, composta por uma diversidade de igrejas cristãs orientais que criaram raízes no Líbano desde os primórdios do cristianismo. Mas longe de se limitar a ser recebido pela sua própria comunidade, o Papa foi também acolhido pelos líderes muçulmanos e drusos, bem como outras minorias.
Num mundo cada vez mais polarizado, a visita de 3 dias foi a demonstração de um raro ecumenismo. O Líbano enfeitou-se com as bandeiras do Vaticano, declarou feriados e as ruas encheram-se com o som das festividades da dança folclórica libanesa, o Dabke. É no Líbano que o Papa ouviu o canto da oração em aramaico, a língua de Cristo, e é também no Líbano que recebeu uma porção de solo libanês por parte de jovens libaneses, como um símbolo da recusa de partir para o exílio. Muitos foram forçados a abandonar o Líbano nos últimos anos em busca de melhores condições, mas nem todos escolheram partir.
Na sua última paragem no Líbano, o Papa rezou no Porto de Beirute, junto ao monumento erigido em homenagem às vítimas da explosão de 2020, e conversou com os familiares das vítimas, a quem foi recusada a justiça. Cinco anos depois, a corrupção das autoridades libanesas continua a impedir que os responsáveis sejam levados a tribunal.
Numa visita que pretendia inspirar esperança, o Papa alertou para o fim dos horrores da guerra e para a união, mesmo enquanto o Líbano estava a ser bombardeado por Israel durante a sua visita. Ao enfrentar a tempestade, Leão XIV está a provar ser um sucessor na linha humanista do Papa Francisco.