Tenho um primo que após 2 anos no Rio de Janeiro dizia bastarem “uns calções, uma t-shirt e uns chinelos para ter uma boa qualidade de vida “ na cidade maravilhosa. Na Madeira também a natureza, e o muito que os madeirenses construíram, favorece(m) a existência de um dia-a-dia prazeroso. O que chamamos qualidade de vida. Mas a verdade
é que existem constrangimentos permanentes decorrentes da pequenez geográfica destas ilhas, e da descontinuidade
territorial inerente à condição insular, que apenas podem ser percebidos por quem vive num arquipélago.
Não quero ser fastidioso, e já referi nestas páginas o quanto pode ser mais oneroso viver na Madeira por termos um mercado pequeno, condição cuja existência de mar a toda a volta a torna irreversível. Acresce que pelo facto de
termos poderes próprios limitados, gozando de Autonomia Política que não um Estado Independente, nos retiram instrumentos que poderiam esbater esses constrangimentos.
Não seria problema se a República os utilizasse, como devia, em favor desta(s) parcela(s) do seu território. Mas infelizmente não é isso que acontece recorrentemente, sendo que o atual governo de António Costa cultiva uma posição com requintes de malvadez. Já lá vamos.
Há um exemplo histórico que demonstra que só quem vive na Ilha, percebe os constrangimentos que isso acarreta. Fez 87 anos que eclodiu uma revolta na Madeira contra a ditadura nacional de 1926 -1933. O curioso dessa revolta é que esta tomou forma através dos militares que haviam desembarcado na Região apenas 2 meses antes para controlar uma outra revolta, a da Farinha, que resultara da medidas draconianas implementadas pelo Ministro das Finanças Oliveira Salazar, nomeadamente o Decreto-Lei que acabava com a livre importação de trigo e farinhas, ingredientes fundamentais para a confeção do alimento referência da sociedade do início do século: o pão.
Bastaram portanto 2 meses para que os militares percebessem as condicionantes de se viver num arquipélago, e que se tornassem eles próprios os revoltosos. Quanto à ação do Governo de Costa, está à vista que pretende massacrar ainda mais os madeirenses do que intentou Salazar. Não cumpre com as obrigações de continuidade territorial, coloca o Estado na inaceitável posição de agiota de uma parte do país, ao lucrar com juros cobrados à Região, e mente descaradamente ao acusar a Madeira de agravar o défice. Tem o executivo nacional uma prova do algodão, no contexto das negociações do próximo Quadro Plurianual da UE.
Após o acórdão de Maiote não há mais desculpas para que as Regiões Ultraperiféricas não tenham o tratamento que a profundidade geográfica global que conferem à União exige. O Governo e Assembleia Regionais preparam Resoluções que expressam a sua posição relativamente à natureza dos fundos, e sua elegibilidade, bem como a eterna
questão dos sobrecustos.
Veremos se a Geringonça assumirá a defesa que se Impõe destas Regiões de Portugal. No essencial cabe aos madeirenses resistir à irresponsabilidade política de Costa e dos seus representantes na Madeira, não aceitando
imposições ilegítimas democraticamente. É tempo de honrar os nossos antepassados, incluindo os que vieram para nos oprimir e acabaram por se juntar a nós.
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