Para que não restem equívocos, nem façam revisionismo histórico mais tarde, não devemos esquecer que foi a Rússia de Putin e Lavrov que invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro de 2022, depois de meses de exercícios militares na Bielorrússia, na Rússia e no Mar Negro.

Foi a Rússia de Putin e Lavrov que mentiu à comunidade internacional, negando que iria atacar a Ucrânia, montando um circo diplomático de simulação, informando que as tropas estavam a regressar às bases militares e que tudo não passava de paranoia do Ocidente, que se socorreu do seu gigantesco arsenal de munições e bombardeou instalações militares e civis ucranianas, falhando muitas vezes nos alvos, embora fizesse questão de afirmar que “foram atingidos alvos com mísseis de alta precisão”.

Foi a Rússia de Putin e Lavrov que provocou o maior fluxo e fuga de populações no coração da Europa, desde o pós-Guerra, mais de cinco milhões de ucranianos, e no total dez milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas por causa da guerra.

Foi a Rússia de Putin e Lavrov que reduziu a cidade de Mariupol a uma terra fantasma, com o complexo industrial de Azovstal praticamente destruído, onde centenas de civis estiveram semanas debaixo de bombardeamentos constantes da aviação e da artilharia russas.

Foi a Rússia de Putin e Lavrov que violou a Carta das Nações Unidas, atacou um Estado soberano, livre e independente, e desrespeitou as normas essenciais do direito internacional. Que ocupou, destruiu e pilhou cidades da Ucrânia, seguindo um padrão de devastação praticado anteriormente na Chechénia, Geórgia e Síria. Que compeliu o Ocidente a avançar com sanções económicas e financeiras concertadas (seis pacotes até agora só na União Europeia) contra a Federação Russa, e que foi condenada pela esmagadora maioria dos países da ONU, 141 Estados, pondo também em evidência o obsoleto sistema de votação do Conselho de Segurança.

Foi a Rússia de Putin e Lavrov que desestabilizou e perigou o sistema de arquitetura internacional erguido desde 1945 e que levou o mundo a fornecer armamento à Ucrânia para poder exercer o seu legítimo direito de defesa, que forçou à maior corrida ao armamento na Europa, que culminará num investimento em Defesa nunca visto no continente, sobretudo na Alemanha, que mantinha uma postura “abelicista” por razões históricas.

Foi a Rússia de Putin e Lavrov que deu uma nova vida à NATO e que levará, ao que tudo indica, à sua expansão à Suécia e Finlândia, até aqui desinteressadas de fazer parte da Aliança Atlântica, e que também fez com que a Suíça abdicasse da sua inédita neutralidade financeira e económica. Só os EUA já aprovaram financiamento militar e humanitário na ordem dos 38 mil milhões de euros.

Foi a Rússia de Putin e Lavrov que deixou provas evidentes de crimes de guerra nas zonas que estiveram ocupadas pelo exército russo e que deteve mais de 14 mil cidadãos russos que se opõem à invasão – cidadãos que não podem expressar-se livremente na sua pátria contra uma guerra que apenas pode ser qualificada de “operação militar especial”. Uma “operação” que persiste em ameaçar o mundo com o poder nuclear, socorrendo-se ora de uma retórica de guerra irresponsável, ora de uma chantagem de desespero perante os seus fracassos militares, que atacou Kiev com mísseis no dia 28 de abril de 2022, quando o secretário-geral da ONU era recebido pelo presidente ucraniano Zelensky, querendo humilhar as Nações Unidas e mostrar que a Rússia está acima da lei, despreza a ONU e só se rege pela lei da força.

A parada de 9 de maio, na Praça Vermelha, foi um monumental hino ao vazio, uma ofensa à memória de milhões de ucranianos que também morreram na Segunda Guerra Mundial. Putin é um criminoso hediondo, um cobarde de “bunker” e um monstro fracassado que queria mudar o curso da História, mas mais não tem feito do que escrever notas de terror e de sangue.