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À segunda foi de vez: Merz confirmado chanceler após derrota histórica na primeira tentativa

Foi a primeira vez na história alemã pós-Guerra que um chanceler não foi confirmado pelo Bundestag à primeira tentativa. Merz teve 310 votos favoráveis na primeira tentativa apesar de a coligação que sustenta o governo contar com 328 deputados, levantando questões sobre a união entre CDU e SPD, além de no seio de cada um dos partidos.
Reuters
7 Maio 2025, 07h00

Após um surpreendente voto desfavorável na primeira tentativa (o primeiro na história da Alemanha pós-Guerra), Friedrich Merz conseguiu ser confirmado como novo chanceler alemão à segunda votação, garantindo a transição para a nova legislatura. De qualquer das formas, as dúvidas sobre a união entre os partidos coligados estão levantadas após a humilhante rejeição na manhã desta terça-feira.

À segunda foi de vez, mas não sem antes danos reequacionais consideráveis para o novo governo alemão formado pelos conservadores da CDU/CSU e pelos socialistas com o chumbo à primeira tentativa de Merz como novo chanceler. Com 328 deputados na coligação, o político de 69 anos necessitava de 316 votos favoráveis, um cenário que se apresentava como altamente provável na antecâmara da votação.

O choque foi generalizado quando a contagem mostrou apenas 310 votos a favor, sugerindo que 18 deputados das bancadas da CDU/CSU e SPD não haviam seguido a linha partidária. Sendo os votos secretos, não será possível apurar quem foram estes deputados.

Recorde-se que os conservadores da CDU e do seu partido irmão na Baviera, a CSU, venceram as eleições de fevereiro, mas com apenas 28,5% dos votos, ficando longe da maioria absoluta necessária para garantir a formação de governo. A solução encontrada foi coligar-se com o SPD, do incumbente Olaf Scholz, que conseguiu 16,4% dos votos.

Na segunda votação, Merz reuniu 325 votos favoráveis, ultrapassando assim o impasse gerado de manhã. Ainda assim, este resultado volta a ficar aquém dos 328 parlamentares na coligação, o que constitui “um arranque infeliz” para o novo governo, ilustra a análise do banco ING – sobretudo se comparado com o ímpeto inicial gerado pela reforma da norma constitucional que limita os gastos públicos e a contração de dívida ao nível federal.

“Infelizmente, o que se seguiu foi uma série de deslizes e até decisões políticas trapalhonas”, consideram os analistas do ING, apontando à “falta de reformas estruturais abrangentes e planos de financiamento pouco claros”.

Junta-se a isto a insatisfação de fações mais conservadoras do lado orçamental dentro do partido de Merz que terão ficado desiludidas com a rápida inversão de política do novo chanceler, que havia passado boa parte da campanha a opor-se a mexidas no travão constitucional da dívida.

Olhando para o futuro, “os eventos de hoje são uma lembrança dolorosa de que será difícil ao novo governo cumprir as elevadas expectativas quanto ao investimento e reformas”, dado o ambiente económico e político na Alemanha. Após dois anos de recessão, o motor industrial europeu enfrenta um modelo esgotado e o resultado de anos de subinvestimento, uma dinâmica agravada pelo ataque norte-americano ao comércio livre global.

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