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“Simplificação na forma como os produtos são apresentados é essencial”, diz diretor da Corum em Portugal

Principal desafio da literacia financeira é duplo, defende José Gavino. Por um lado, simplificar a forma como os produtos financeiros são apresentados. Por outro, informar e formar os clientes.
7 Novembro 2021, 14h00

O diretor geral da Corum em Portugal acredita que é necessária uma estratégia nacional para reforçar a literacia financeira dos portugueses, que envolva os supervisores, os intermediários financeiros, as escolas e as instituições da sociedade civil. A gestora de fundos imobiliários espera uma melhoria das rentabilidades no próximo ano, depois de em 2019 e 2020 a pandemia de Covid-19 ter tido um impacto “praticamente nulo”, garante José Gavino.

 

Na sua opinião, quais são os principais desafios na literacia financeira em Portugal?
O principal desafio a nível global, Portugal incluído naturalmente, é um trabalho duplo de simplificação da forma como são apresentados os produtos financeiros e o aumento da literacia através da informação e formação a clientes. Este é um ponto que muito defendemos na Corum Investments, apresentamos os nossos produtos de forma simples, clara e transparente. Por outro lado, a literacia financeira está muitíssimo ligada à literacia e às habilitações académicas o que faz com que Portugal compare mal com os restantes países da UE (existe uma correlação positiva entre as habilitações académicas e a propensão para investir, segundo estudo da CMVM). Logo o desafio é de literacia no senso lato do termo. Finalmente, considero que os bancos e as gestoras de ativos têm o enorme desafio de manter as suas equipas comerciais não só formadas e informadas, mas orientadas para uma apresentação clara, pedagógica e comparativa dos produtos. Esta apresentação deve ainda ser adaptada ao interlocutor, só assim se poderá trazer mais portugueses para literacia financeira.

 

O que falta fazer para melhorar a literacia financeira dos portugueses?
O caminho ainda é longo, nós na Corum Investments notamos a diferença do feedback que recebemos de clientes nos vários países onde estamos implantados. O trabalho de literacia financeira é um trabalho de longo prazo, deve começar nas escolas com uma orientação para a gestão de um orçamento e da poupança. Este trabalho é também uma obrigação da sociedade como um todo. O Banco de Portugal e a CMVM têm o seu papel, os intermediários financeiros têm o seu papel, as escolas têm o seu papel, e porque não outras organizações da sociedade civil como por exemplo já acontece com a CFA Society Portugal. No imediato apenas os distribuidores de produtos financeiros podem fazer a diferença. É primordial que as equipas comerciais dos bancos, sociedades gestoras ou intermediários financeiros passem a ter um trabalho e um cuidado de esclarecimento do cliente final. Sem olhar apenas o interesse da venda, mas também ao esclarecimento, aconselhamento e a comparação das opções de investimento e poupança disponíveis para os seus clientes. Olhando noutro prisma vemos que os reguladores, bem-intencionados, obrigaram os produtos financeiros a apresentarem-se através de documentos europeus, transversais e desinteressantes para o investidor. Vale a pena retomar uma iniciativa britânica do fim dos anos 70, Plain English Campaign, onde se procura incessantemente a simplificação das mensagens comerciais, legais e regulamentares. A clareza é certamente um caminho para a literacia financeira dos portugueses.

 

A proposta de OE2022 apresentada pelo Governo (e chumbada esta semana no Parlamento) tinha as medidas certas para incentivar a poupança e o investimento dos particulares?
A luz do que é conhecido, tanto quanto pude perceber, não existe qualquer medida ou preocupação com a poupança e investimento neste orçamento de Estado.

 

No próximo domingo, 31 de outubro, assinala-se o Dia Mundial da Poupança. O que falta fazer para incentivar a poupança? Nomeadamente do ponto de vista fiscal.
A resposta a sua pergunta poderia ser uma simples enumeração: reduzir impostos no trabalho e na poupança, simplificar regras fiscais em IRS e aumentar incentivos na poupança de longo prazo. É fundamental incentivar a poupança, numa ótica formativa e numa ótica fiscal. No que toca à ótica formativa, é preciso mostrar com exemplos que se pouparmos um euro por dia no café, no bolo ou na raspadinha vamos ter mais 30 euros ao fim do mês que em 20 anos serão 7.200 euros, investidos e capitalizados num produto de longo prazo a uma média de 3% ano chegamos a quase dez mil euros. Um simples euro. De acordo com o INE, um casal sem filhos recebeu em média cerca de dois mil euros líquidos por mês, ou seja se usarmos uma taxa de poupança de 10% e o raciocínio anterior chegamos a quase 66.000 euros em 20 anos. Já em relação à ótica fiscal, a realidade portuguesa é na minha opinião muito desadequada. Portugal é um dos países com a taxa mais baixa da poupança da União Europeia. Em parte, divido aos impostos sobre o trabalho uma vez que mais de metade do rendimento disponível dos portugueses têm origem exatamente no trabalho. Isto é, como mais impostos há menos rendimento disponível logo menos poupança. A taxa de poupança atingiu um máximo de 14,2% em junho quando, em igual período, chegou a 21,4% em França: uma diferença muito relevante. A via fiscal é claramente uma forma eficiente de incentivar a poupança, senão vejamos o exemplo dos PPRs noutros tempos onde os benefícios fiscais eram mais evidentes. Ainda os há. A visão deve ser o longo prazo, ou seja incentivar poupança recorrente com objetivo de longo prazo. Para a reforma, um curso para os filhos, uma casa, etc. Existe esse incentivo nos seguros de capitalização e PPR, parece importante que seja alargado a mais produtos. Assim, acredito que se deva e que se pode incentivar a poupança pela via fiscal. Seja reduzindo os impostos sobre o trabalho, seja beneficiando os investimentos e poupanças de longo prazo. Esperava-se pelo menos, uma busca pela simplificação fiscal, exatamente a caminho contrário ao que está a ser percorrido. Por fim, é preciso que seja bem comunicado. A maior parte destes benefícios são totalmente desconhecidos do grande público.

 

Agora falando da Corum, quais são as vossas perspectivas para 2022? Em que áreas esperam maior crescimento?
A Corum tem as características todas que aqui fomos falando. Tem um objetivo de simplicidade e transparência claro. Tem uma visão de longo prazo muito marcada que não segue as modas do momento, neste caso no imobiliário. O facto de termos como política de investimento o Imobiliário Comercial (compra de escritório, lojas, fábricas, hotéis, logística, etc.) sempre tendo como primeiro filtro a capacidade financeira do arrendatário e um contrato de longo prazo, leva-nos a acreditar que a melhor forma de gerir não é submeter-nos aos ciclos de mercado, mas tirar partido deles. Isto resultou num impacto praticamente nulo de COVID nas rentabilidades de 2019 e 2020, e ainda com perspetivas de melhorias já em 2021. Assim, em 2022 esperamos encontrar oportunidades de compra de imóveis em setores negligenciados como os hotéis e oportunidade de venda em setores que todos procuram com a saúde. Aliás, tal como aconteceu em junho e voltará a acontecer em dezembro, a venda de um edifício e laboratório arrendados a uma empresa farmacêutica na Holanda permite uma mais-valia significativa que resulta em mais rentabilidade para os nossos clientes. No que toca à nossa presença em Portugal, temos a perspetiva de continuar a crescer a bom ritmo em numero de clientes e volume sob gestão dado selo de qualidade em que 2019 e 2020 se tornaram para os nossos fundos: foi comprovada a qualidade da estratégia implementada desde 2012.

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