Nas últimas semanas as taxas Euribor aceleraram a subida que já se vai notando desde o início do ano. O movimento é mais evidente na maturidade a 12 meses e faz com que esta taxa já se encontre perto de -0,10%, o que compara com os -0,501% registados em 31 de dezembro. Por isso, apesar de se ir alertando que as taxas de juro podem subir em 2022, a realidade é outra: as taxas que indexam muitos dos empréstimos em Portugal já estão mais altas.

Para as empresas, este fenómeno ainda não é tão percetível dado que a maior parte dos contratos tem 0% + spread como taxa mínima. Portanto, só quando as Euribor se tornarem positivas é que as empresas irão começar a pagar mais juros. Mas esse dia não parece estar longe: observando as taxas forward, verifica-se que o mercado está a descontar que a Euribor a 12 meses passe a positiva já no próximo mês e que as referências a seis e três meses ultrapassem os 0% nos inícios de agosto e de outubro, respetivamente.

Até ao final do ano passado, a comunicação do BCE foi no sentido de mostrar pouca vontade em subir os juros para não colocar em risco a recuperação económica pós-Covid. Em janeiro, já pressionados pela inflação, um número crescente de membros do banco central forçaram a uma mudança de tom, admitindo-se uma subida de taxas. A invasão russa à Ucrânia deu ao BCE um excelente argumento para adiar o processo de normalização monetária, mas a mensagem na reunião de março foi clara: o combate à inflação ganhou prioridade.

O mercado monetário está a descontar uma subida de taxas por parte do BCE de 67 pontos até ao fim do ano e a pergunta que se pode colocar é se estas expectativas são ou não exageradas. Na quarta-feira, os conselheiros governamentais alemães cortaram em mais de metade a sua previsão de crescimento económico para este ano de 4,6% para 1,8%, alertando para riscos de recessão. Isto no mesmo dia em que a inflação homóloga naquele país ultrapassou os 7%. Ou seja, cada futura reunião do BCE será um “braço de ferro” entre economia e preços.