A subversão da democracia

Donald Trump e o Partido Republicano têm perspetivas bastante baixas de ganhar estas eleições, mesmo tendo em conta a surpresa que entregaram em 2016. Não só a vantagem dos Democratas é mais confortável desta vez, como as técnicas de sondagem se têm tornado mais robustas e cuidadosas desde então e do referendo ao Brexit. No entanto, Donald Trump não verga.

Em parte há que lhe dar mérito pela resistência política depois dos últimos quatro anos de governação, que apesar de terem atingido alguns objetivos, também foram recheados de falhanços, mentiras descaradas e escândalos variados. Muitos dos dos pontos baixos da governação da Administração Trump seriam suficientes, individualmente, para acabar com a carreira política de qualquer outro presidente dito “normal”, mas Trump é um verdadeiro fenómeno político (no bom e no mau sentido), e por isso resiste.

A resistência e garra política perante baixas perspectivas podem ser de se admirar (ou não, se ponderarmos o que as motiva), mas estão a levar a Administração por um caminho obscuro. Desde a criação de obstáculos ao normal funcionamento da logística da contagem de votos (particularmente difícil em contexto de pandemia) que prejudica mais o Partido Democrata, à descarada intimidação e opressão de eleitores Democratas, ou ao não tão subtil apoio de grupos extremistas.

Donald Trump e a sua ala do Partido Republicano estão a levar a cabo táticas de verdadeira subversão da democracia, que podem levar a uma crise constitucional nos EUA, e pior, colocam a possibilidade de mais protestos violentos. É um jogo sujo, que só um fenómeno como Trump consegue jogar sem grandes consequências políticas.

Os mercados estão cientes dos riscos que esta subversão da democracia representa, e parte da recente correção do mercado acionista parece estar relacionada com isso também, mas ainda não assumem o cenário de uma crise constitucional como cenário base. Algo que será testado já nos próximos dias.

Um possível topo nas tecnológicas?

Nos últimos dias do mês de outubro foram divulgados os resultados da maior parte das maiores empresas do mundo, popularmente conhecidas como FAAMG – Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Google/Alphabet – que causaram uma reação de mercado atípica.

Todas elas divulgaram resultados financeiros acima do consenso dos analistas, mas em todos os casos (com exceção da Alphabet), os resultados foram recebidos com quedas expressivas dos preços das ações. Mais um pequeno sinal de que se está a tornar mais difícil saciar as expetativas implícitas em avaliações relativamente altas de algumas mega caps norte-americanas. Estaremos, finalmente, ao fim de duas décadas de extraordinários desempenhos das ações destas empresas, perante um topo das suas avaliações?

É evidente que empresas como a Amazon, Alphabet ou Apple vão continuar a ser mega empresas, a dominar os seus mercados e a liderar a inovação tecnológica durante vários anos (diria que aprenderam com os casos da Nokia ou da Kodak). Mas isso não está necessariamente correlacionado com o desempenho das suas ações em mercado. O desempenho das ações em mercado está principalmente correlacionado com as expectativas dos investidores, e é possível que a pandemia tenha levado a um pico de expectativas positivas relativamente ao negócio das empresas que estão a beneficiar com os confinamentos a nível global (entre elas estas mega caps, mas não só).

Não sei se o topo das avaliações já ficou para trás, mas parece provável que o desempenho de um índice como o Nasdaq 100 Index (concentrado em empresas tecnológicas) seja bastante mais contido nos próximos anos. Quem sabe, talvez até abaixo do desempenho do resto do mercado…