A região nordeste de Moçambique tem sido flagelada nos últimos três anos por ataques, cada vez mais ousados, perpetrados por grupos armados, que se reclamam pertencer ao Estado Islâmico. Na recente acometida contra Mocímboa da Praia (23 de março) em Cabo Delgado, os insurgentes atacaram o quartel das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e içaram a bandeira do Estado Islâmico (EI), sinalizando a fraqueza do estado moçambicano. Embora não se conheçam os líderes rebeldes, nem o seu programa e agenda política, um dos atacantes disse num vídeo ser objetivo do grupo impor a lei islâmica na região.

Os sucessivos ataques provocaram a fuga generalizada da população e um número considerável de mortos. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de 100 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas residências para procurar refúgio em locais seguros. O relato das mortes ronda os 350.

A ausência de uma resposta assertiva por parte do estado moçambicano poderá ter efeitos demolidores no médio e longo prazo. Essa resposta terá de ser primariamente militar, mas não aquela dada pelo estado moçambicano. O governo de Moçambique enviou as FDS para a região, que se têm revelado incapazes de derrotar os rebeldes, com a agravante de se registar um número elevado de deserções. A aposta do governo em mercenários não teve sucesso. A aposta nos russos da Wagner Group revelou-se desastrosa e a aposta em mercenários sul-africanos está a ser ineficaz.

Moçambique confronta-se com uma guerra subversiva no seu território assente em grupos radicalizados, com fortes relações externas e financiados por elementos radicais islâmicos, através do Médio Oriente. É disso que se trata e não de outra coisa. Como noutros sítios, nomeadamente no Afeganistão, a incorreta identificação da ameaça pode ser fatal. Por isso, deve evitar-se confundir terrorismo com guerra subversiva.

O estado moçambicano tem de estabelecer rapidamente uma estratégia de luta contra subversiva, em que os militares desempenham um papel importante, mas que não pode ser levada a cabo exclusivamente por militares. Essa estratégia terá de conter medidas de natureza política, social, económica, religiosa, etc. em apoio de uma manobra de ação psicológica, que permita ganhar a população e separá-la dos insurgentes, sobretudo os segmentos mais jovens recetivos a narrativas radicais.

Se nos restringirmos aos aspetos militares, as forças armadas devem ser empregues contra o inimigo, mas também apoiar a população fornecendo-lhe ajuda médica, bens alimentares e, eventualmente, assegurar o funcionamento de serviços públicos. Só isso lhes permitirá obter a confiança da população, e implementar uma estratégia de intelligence assertiva. A adoção de uma estratégia contra subversiva implica igualmente atuar fora do território, impedindo o estabelecimento de um santuário na Tanzânia, o que exige uma concertação estratégica com aquele país.

Faz sentido que as autoridades moçambicanas se rodeiem de conselheiros e especialistas na guerra contra subversiva, que as auxiliem na conceção e implementação dessa estratégia. Portugal tem um capital humano e de conhecimento que poderá ser de extrema utilidade ao seu país irmão.