A destruição coordenada de bases militares em território russo marca uma estratégia perigosamente ousada na guerra entre Ucrânia e Rússia. Batizada de “Teia de Aranha”, a operação demonstrou sofisticação tecnológica incomum para as capacidades ucranianas, sugerindo apoio direto — logístico, operacional e de inteligência — de potências ocidentais, como Estados Unidos e Reino Unido.
Essa incursão foi mais do que uma ação militar. Trata-se de uma cartada arriscada de Volodymyr Zelensky, cujo governo, desgastado por anos de Guerra, aposta na internacionalização do conflito para vincular definitivamente o Ocidente ao seu esforço bélico. Ao atacar diretamente o território russo, Kiev força Moscovo a reagir e, nesse processo, dificulta aos seus aliados a possibilidade de se manterem numa posição de contenção. E os Estados Unidos perderam, em razão de sua atuação, qualquer capacidade de mediar o processo de paz.
Putin, por sua vez, vê-se diante de um dilema estratégico. A guerra por procuração já custou caro à Rússia em termos de equipamento e reputação, mas uma resposta direta contra os países apoiantes da Ucrânia poderia desencadear um confronto nuclear de proporções catastróficas. Ainda assim, a provocação de Zelensky não passará incólume. Espera-se uma reação dura, em solo ucraniano — e a capital Kyiv será novamente alvo de uma ofensiva devastadora. O Kremlin sentirá a necessidade de demonstrar força, e o tempo de contenção nuclear pode estar se esgotando.
O ataque às instalações militares russas ajudou a dimensionar o quanto Moscovo considera uma afronta intolerável à sua soberania a possibilidade de entrada da Ucrânia na NATO. Este precedente é perigoso e arrasta o conflito para um novo limiar.
O drama se agrava ao se considerar que tanto Zelensky quanto Netanyahu – apregoando constantemente uma ação militar contra o Irão — são os líderes de duas guerras simultâneas de grande impacto geopolítico. Ambos veem no prolongamento das guerras a única estratégia eficaz para garantir permanência no poder, reforçando ideologias de guerra em detrimento de qualquer horizonte de paz. A retórica bélica, outrora legitimada por ameaças reais, tornou-se instrumento de sobrevivência política.
Neste cenário, os aliados da Ucrânia caminham sobre gelo fino. Ao estimular ações provocativas contra uma potência nuclear, arriscam-se a perder o controle sobre os desdobramentos. Os adjetivos encomiásticos à ação ucraniana na mídia ocidental jamais abordaram o perigoso jogo e suas consequências globais. A linha entre contenção e escalada sistêmica tem ficado cada vez mais tênue. A hora exige contenção estratégica, diplomacia hábil — não bravatas militaristas embaladas por ambições pessoais de um Ocidente em declínio e agendas eleitorais locais.