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A utopia de governar

A sociologia das elites, ou realismo clássico como também é conhecida, do ponto de vista ontológico, postula a existência de elites como grupos minoritários de influência sobre o conjunto das sociedades, tanto nas suas dimensões estruturais, como conjunturais.
4 Outubro 2021, 07h45

O conceito de elites desenvolvido no âmbito do que se viria a designar por sociologia das elites a partir de Pareto (1848-1923), Mosca (1858-1941) e Michels (1876-1936), evoluiu como uma coleção de construções teóricas alternativas aos paradigmas do funcionalismo e do marxismo, para explicar a mudança social de forma diferente.

De facto, o conceito de elites desenvolvido no âmbito da sociologia das elites evita o recurso a explicações teleológicas ou a mecanismos sociais transcendentais, o que consideravam menorizar o papel de alguns atores, ou grupos particulares, na explicação da mudança social.

A sociologia das elites, ou realismo clássico como também é conhecida, do ponto de vista ontológico, postula a existência de elites como grupos minoritários de influência sobre o conjunto das sociedades, tanto nas suas dimensões estruturais, como conjunturais.

Presentes em todas as sociedades, tempos e espaços, como grupos de influência, poder e decisão, delineiam a dicotomia elite/massas como traço da ontologia social, sendo representados e explicados através de modelos epistemológicos, segundo uma perspetiva de condução dos destinos do mundo.

Neste domínio, particularmente na investigação dos papéis de atores singulares, a teoria das elites revela um quadro teórico interessante, que se traduz na análise dos agregados de indivíduos que dirigem e conduzem, ou condicionam, as sociedades e as estruturas, pelo fato de disporem de alguma vantagem ou poder, cujas decisões afetam a vida coletiva.

Nesta conceção, as elites são descritas como um círculo de pessoas que dirigem os destinos das massas sociais, governando-as pela apropriação que conseguem fazer dos sistemas de poder instituídos em cada sociedade (Bessa, 1993, 2002; Mosca, 1939; Higley, 2008; Busino, (s / data), Dahl, 1961; Bottomore, 1974; Bourdieu, 1984; Daloz, 2010, Hartmann, 2007; Wright Mills, 1956).

Neste quadro, é utopia pensar-se que qualquer grupo social pode almejar o poder e governar, relativizando-se a dimensão em favor da capacidade e da influência. Destarte, na prática o poder é sempre detido pelas elites, restrito a um reduzido número de indivíduos, umas vezes exercendo-o, outras vezes condicionando-o, mas, na realidade, são sempre as elites que ditam as regras; muito embora estas, por sua vez, admitam algumas exceções, que por fim absorvem.

Referências

Bessa, A. M. (1993). Quem governa?: Uma análise histórico-política do tema da elite. Lisbon: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

Bessa, A. (2002). Elites e Movimentos Sociais. Lisboa, Universidade Aberta.

Bourdieu, P. (1984). Distinction. A social critique of the judgement of taste, Harvard University Press: Cambridge, Mass.

Bottomore, T. B. (1974) – As Elites e a Sociedade, Rio de Janeiro. Edições Zahar.

Busino, G. (s/data) – Elites e Elitismo, Porto. Rés-Editora.

Dahl, R. A. (1961): Who governs? Democracy and power in an American city, Yale University Press,

Daloz, J. P. (2010): The sociology of élite distinction. From theoretical to comparative perspectives, Palgrave Macmillan, London.

Hartmann, M. (2007): The sociology of elites, Routledge, London/New York.

Higley, J. (2008). Elite theory in political sociology, University of Texas at Austin.

Mosca, G. (1939 [1896]): The ruling class, Westport: Greenwood Press.

Wright Mills, C. (1956): The power élite, Oxford University Press, New York/London.

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