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A vida e a missão dos militares portugueses na República Centro-Africana

O governo português vai propor o prolongamento das duas missões neste país africano. Em Bangui, o ministro João Gomes Cravinho sublinhou o “papel de grande importância” de Portugal na construção de um país “democrático e estável.
  • Bangui, República Centro-Africana
9 Dezembro 2018, 17h00

“Amanhã será discutido no Conselho Superior de Defesa Nacional a colocação das nossas Forças Nacionais Destacadas em 2019, a proposta que vamos fazer vai no sentido da manutenção desta missão, naturalmente que não me posso antecipar às conclusões, mas acreditamos que temos um papel imprescindível ainda a desempenhar aqui na RCA”, afirmou João Gomes Cravinho, em declarações à agência Lusa, em Bangui, capital da República Centro-Africana.

Perante os militares que integram a missão de treino da União Europeia, comandada pelo general português Hermínio Maio, cujo mandato vai ser prolongado até julho do próximo ano – João Gomes Cravinho afirmou que Portugal é “especialista em exportar segurança onde é necessário”, e manifestou solidariedade para com o povo centro-africano.

“Aqui sentimos que estamos longe de casa, numa parte do mundo remota, mas tenho sentido um grande interesse e reconhecimento pelo trabalho de Portugal”, disse, numa intervenção no campo da EUTM, UCATEX. “A força está bem protegida, está bem treinada, é muito competente, é evidente que está em situações de risco, em situações em que são obrigados a utilizar tudo aquilo que aprenderam na sua formação e todo o equipamento que têm”, admitiu o governante.

O quarto contingente português na RCA enfrentou, um mês após a chegada a Bangui, sete horas de intensos confrontos com grupos armados numa das cidades mais problemáticas da RCA, Bambari, dos quais resultou um “ferido ligeiro” na força de reação rápida portuguesa. Portugal tem atualmente 214 militares empenhados em missões na RCA, 159 dos quais na MINUSCA, uma companhia de paraquedistas e elementos de ligação e 45 na missão da União Europeia de formação e assessoria às Forças Armadas da RCA.

Na segunda-feira, chegam a M`Poko os primeiros seis elementos do reforço de 20 militares previsto, que completarão o contingente até ao final de dezembro, com seis viaturas blindadas PANDUR, com mais poder de fogo, transporte e que também são empregues em evacuações sanitárias.

O perigo espreita em Bangui

O som dos disparos é uma constante nas ruas de Bangui, a capital da RCA. Diariamente, os militares portugueses patrulham os oito distritos que compõem a cidade, com o objetivo de controlar pontos de tensão e apoiar a população local. Catorze grupos rebeldes disputam entre si o controlo de recursos hídricos e das áreas ricas em diamantes. Desses, destacam-se duas grandes fações rebeldes: o Séléka, composto na sua maioria por muçulmanos, e o Anti-Balaka, de maioria cristã. Ao contrário do Séléka, o Anti-Balaka combate com armas artesanais e rudimentares e os seus membros têm por hábito andar sempre descalços. Já o grupo Séléka é mais organizado e equipado com armamento militar que circula por toda a África de forma mais ou menos clandestina.

Alojados numa das bases francesas, localizada junto ao aeroporto de Bangui, os militares portugueses integram a Missão Internacional de Apoio à RCA (MINUSCA), projetada pela ONU e que conta com cerca 12 mil capacetes azuis no terreno. A grande maioria são paraquedistas, membros do Exército e outros três elementos pertencem à Força Aérea.

O bairro PK5 é, por isso, uma das áreas mais críticas para a atuação das forças armadas. Em várias operações em que foram chamados a intervir, os militares foram fortemente atacados pelos rebeldes. As missões internacionais de manutenção da paz não são bem vistas pela população que deveriam proteger. Em março de 2014, um contingente militar do Chade, matou 24 civis em Bangui, sem ter havido qualquer tipo de provocação que justificasse o início dos disparos. O caso obrigou as tropas do Chade a retirarem-se do país e levantou desconfianças entre a população local sobre quais as reais intenções da comunidade internacional ao intervir no país.

No final de março, 60 militares portugueses da força de reação imediata (QRF) foram atacados por um ataque lançado pelas milícias locais. Um militar português ficou ferido, após ter sido atingido por uma pedra na perna. Em comunicado, o Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) explicou que o grupo armado terá utilizado mulheres e crianças como “escudo humano” para se protegerem e escaparem do local.

Um ranking elaborado pela revista Forbes traça um perfil cruel à RCA. Na lista de países mais felizes do mundo, o país aparece em último lugar, com a classificação de país mais triste do mundo. Em termos económicos, os números são pouco animadores. Apesar de ser um país rico em recursos naturais (incluindo diamantes) e possuir consideráveis recursos hídricos, agrícolas e minerais, a RCA ocupa os últimos lugares do Índice de Desenvolvimento Humano. Ainda assim, a economia cresceu 4,7% a 2016, depois de uma queda abrupta em 2013. Entre os principais parceiros de comércio estão a Alemanha, a França e a China.

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