A uma semana de celebrarmos os 50 anos do 25 de Abril, é importante refletir sobre o seu legado e reconhecer o papel fundamental das mulheres na arquitetura portuguesa. É preciso honrar as suas contribuições, ampliar as suas vozes e continuar a lutar por uma sociedade mais inclusiva.

O 25 de Abril abriu o caminho para transformações sociais e políticas profundas. Entre estas mudanças, destacam-se os avanços no campo da arquitetura, nos quais as mulheres desempenharam papéis cruciais e muitas vezes subestimados.

Como já escrevi em artigos anteriores, mesmo com uma maioria de mulheres a frequentar o ensino superior e consequente número significativo na Ordem dos Arquitetos, tal não quer dizerque se assista ao seu reconhecimento pleno no exercício da profissão e na sociedade.

Recuando 50 anos, as mulheres desempenharam um papel fundamental num país que reclamava por mais habitação, contribuindo com as suas ideias, esforços e experiências para criar espaços habitáveis e dignos para as suas famílias e comunidades.

A arquiteta Lia Antunes salienta os contributos das mulheres moradoras, arquitetas e técnicas de intervenção social, tanto na criação, como no desen­volvimento, na materialização e na divulgação do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL). Na sua investigação, destaca o papel do episódio sobre Direito à Habitação, emitido na RTP1, “Nome Mulher”, como um importante recurso neste reconhecimento crítico e revelador da realidade das mulheres no Portugal da época. Neste programa, a arquiteta Margarida Coelho, cocoordenadora do SAAL no Norte, destaca o trabalho das mulheres na luta pelo direito à habitação.

Divulgar este legado permite compreender que as arquitetas têm perspetivas e sensibilidades para o campo da habitação, desafiando e explorando novas formas de expressão arquitetónica. Estas trouxeram questões de género para o centro do debate arquitetónico, questionando a forma como os espaços são concebidos e apropriados, defendendo uma abordagem mais inclusiva e sensível às necessidades do habitat, incluindo comunidades marginalizadas socialmente.

Contudo, apesar dos avanços alcançados, as mulheres na arquitetura continuam a enfrentar desafios consideráveis, desde a falta de representação nos cargos de liderança até à disparidade salarial. Em suma, continua a ser necessário ouvir as vozes das 13.527 arquitetas, para valorizar o seu trabalho, não apenas como profissionais no campo da arquitetura, mas também como agentes de mudança social e cultural.