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Trabalhadores da Groundforce: “Se Alfredo Casimiro tem dinheiro para ir ao aumento de capital, porque é que não paga os salários?” (com áudio)

O acionista privado da Groundforce vai hoje ao Parlamento explicar o impasse financeiro em torno da empresa, que continua sem fim à vista e com os salários de 2.400 trabalhadores ainda por pagar. “Alfredo Casimiro está a espera de ser o novo David Neeleman e quer receber milhões” para sair, acusa a comissão de trabalhadores (CT), “Tenho ido à casa de colegas que só têm dois iogurtes no frigorífico para comer”, denuncia Luísa Borba da CT da empresa.
André Kosters/LUSA
18 Março 2021, 08h15

O acionista privado da Serviços Portugueses de Handling (SPdH)/Groundforce vai hoje ao Parlamento explicar o impasse financeiro em torno da empresa de gestão de bagagens, passageiros e carga, num momento em que os 2.400 trabalhadores continuam sem receber os seus salários de fevereiro.

Alfredo Casimiro, dono da sociedade Pasogal, vai responder às questões dos deputados da comissão de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação. Hoje também vão ser ouvidos vários sindicatos de trabalhadores da Groundforce, assim como a Comissão de Trabalhadores da SPdH. Por último, vai ser ouvido o presidente do conselho de administração da TAP, Miguel Frasquilho.

A Serviços Portugueses de Handling (SPdH)/Groundforce é detida em 50,1% pela Pasogal, de Alfredo Casimiro, com o grupo TAP a deter 49,9%, com a companhia aérea a ser detida em 72% pelo Estado português.

Esta semana, a TAP propôs um aumento de capital de 6,97 milhões de euros na Groundforce com o objetivo de “evitar” um “cenário de rutura iminente” na empresa de handling.

Em resposta enviada à TAP na terça-feira, a Pasogal disse estar disponível para “considerar a realização de um aumento do capital social da SPdH, reservado a acionistas, na modalidade de aumento de capital por novas entradas em dinheiro, com emissão de novas ações, a subscrever a um valor por ação baseado na avaliação da SPdH [Groundforce] já feita em 2018 pela Sycomore Corporate Finance”.

Na sua carta, citada pela Lusa, o acionista privado escreveu que “esse aumento de capital, a deliberar oportunamente em Assembleia Geral da SPdH”, terá “como pressuposto a reunião das condições necessárias à preservação e continuidade da empresa””.

Apesar das muitas cartas trocadas entre a Pasogal e a TAP, o processo continua sem fim à vista, e os trabalhadores continuam sem receber os seus salários.

A Comissão de Trabalhadores (CT) da SPdH/Groundforce tem muitas dúvidas sobre este processo, continuando a defender a nacionalização da companhia.

“Se ele diz que tem dinheiro para o aumento de capital, porque é que não paga os salários?”, questiona Luísa Borba da CT da SPdH. “Não pode estar com ordenados em atraso e depois vir dizer que tem dinheiro”.

“Alfredo Casimiro está a espera de ser o novo David Neeleman e quer receber milhões” de euros para sair da empresa, disse esta responsável da CT ao JE, recordando o empresário norte-americano que recebeu 55 milhões de euros para vender a sua posição na TAP ao Estado português.

“A minha conta continua sem nada. E tenho ido à casa de colegas que só têm dois iogurtes no frigorífico para comer”, afirmou Luísa Borba.

A CT da SPdH convocou para hoje mais uma manifestação que vai ter lugar às 11h30 na zona das chegadas do aeroporto de Lisboa, seguindo depois para o Edifício 70, sede da empresa.

Por sua vez, a TAP exigia na carta, enviada no domingo, várias condições para avançar com o processo de aumento de capital, incluindo saber como está o processo de pedido de obtenção de financiamento. O grupo TAP quer estar “devidamente informado acerca das diligências efetuadas no sentido da obtenção do financiamento garantido que a SPdH solicitou, sob a forma de um empréstimo concedido pela Caixa Geral de Depósitos com a prestação de uma garantia por parte do Banco de Fomento a favor dessa instituição de crédito, no montante de 30 milhões de euros, em particular sobre a evolução do processo de aprovação e concessão desse financiamento garantido”, segundo a carta da companhia aérea.

Paralelamente, a companhia aérea também exige que a Pasogal preste, por escrito, esclarecimentos sobre quaisquer penhores sobre as ações detidas por Alfredo Casimiro. “A SPdH e a Pasogal prestam, por escrito, os esclarecimentos solicitados pelo grupo TAP na carta datada de 8 de março de 2021, relativamente à existência de eventuais penhores ou outros ónus que impendem sobre as ações detidas pela Pasogal no capital social da SPdH e/ou os equipamentos da SPdH”.

A tutela de Pedro Nuno Santos disse na semana passada que “não foi possível chegar a acordo porque Alfredo Casimiro disse que não tem as ações para dar como penhor”, segundo revelou fonte oficial do ministério ao JE. O empresário terá dado estas ações como garantia noutro empréstimo bancário impossibilitando o seu uso neste empréstimo, apurou o JE.

No Parlamento, vão hoje ser ouvidos: a Plataforma de Sindicatos de Terra do grupo TAP, que representa vários sindicatos – SIMA, SINTAC, SITAVA, SQAC, STHA -, seguido do Sindicato dos Trabalhadores dos Transportes de Portugal (STTAMP), a Comissão de Trabalhadores da SPdH/Groundforce, e o Sindicato dos Trabalhadores dos Aeroportos de Manutenção e Aviação (STAMA).

Ainda antes da Pasogal responder à carta da TAP, o ministério das Infraestruturas veio a público exigir uma resposta formal do acionista maioritário da empresa.

“É importante que o sócio maioritário da Groundforce responda oficialmente à proposta do Grupo TAP com aquelas que são as suas intenções neste processo, para que se possa o quanto antes resolver a situação dramática que se vive na empresa”, de acordo com a tutela.

“Os trabalhadores da Groundforce não podem continuar à espera que Alfredo Casimiro viabilize, de uma vez por todas, a resolução desta situação, uma vez que a perda de salário afeta cerca de duas mil famílias neste momento”, disse o ministério de Pedro Nuno Santos numa nota enviada na terça-feira.

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