As ações da CK Hutchison, do bilionário Li Ka-shing, subiram depois de um dos seus filhos ter sido convidado para um fórum com altos funcionários chineses, em Pequim, apesar da venda dos portos da empresa no Panamá.
Richard Li foi convidado, na qualidade de fundador do Pacific Century Group, para o Fórum de Desenvolvimento da China do Conselho de Estado, de acordo com uma lista de participantes, citada pela agência de notícias Bloomberg.
O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, e o vice-primeiro ministro He Lifeng participam no evento de dois dias que reúne executivos de algumas das maiores multinacionais do mundo, incluindo Tim Cook, da Apple, Albert Bourla, da Pfizer, ou Amin Nasser, da Saudi Aramco.
Apesar de Richard Li supervisionar o próprio grupo empresarial e não ter qualquer papel na CK Hutchison, os investidores parecem ter interpretado a sua presença como um sinal positivo para a família Li.
As ações da CK Hutchison subiram 5,2% na segunda-feira de manhã, a maior subida em mais de duas semanas.
O principal conglomerado do império empresarial global de Li Ka-shing foi alvo de críticas num comentário difundido por um jornal de Hong Kong e, mais tarde, republicado nos portais oficiais da administração chinesa na região e na cidade vizinha Macau.
O jornal Ta Kung Pao considerou que o negócio que transferiu para um consórcio, que inclui a gestora de ativos norte-americana BlackRock, uma participação de 80% num conjunto de subsidiárias portuárias, que gerem 43 portos em 23 países, incluindo portos em ambas as extremidades do Canal do Panamá, em Balboa e Cristobal, “não é uma prática comercial normal”.
“Muitos internautas [chineses] criticaram fortemente este acordo e a CK Hutchison Holdings, considerando-o como uma cedência sem espinha, visando apenas o lucro e esquecendo a justiça, ignorando os interesses nacionais e os grandes princípios nacionais, traindo e vendendo todo o povo chinês. Estas expressões emocionais são completamente compreensíveis”, lê-se.
Um analista chinês negou à agência Lusa, no entanto, que o comentário represente a posição oficial de Pequim.
“O negócio é um acordo puramente privado” e “de modo algum o comentário representa a posição oficial da China”, afirmou Gao Zhikai, que serviu como intérprete do antigo líder chinês Deng Xiaoping e é atualmente um dos mais conhecidos comentadores da televisão chinesa.
“A empresa concluiu que o preço que o comprador norte-americano ofereceu é um bom preço, ou mesmo irrecusável, e essa é a principal razão por detrás do acordo. O Governo chinês não tem nada a ver com este negócio”, acrescentou.
A Bloomberg avançou, no entanto, que as autoridades chinesas estão a investigar o negócio por potenciais violações da segurança nacional e da legislação antimonopólio.
Espera-se que a CK Hutchison assine o acordo sobre a venda dos seus dois portos no Panamá até 02 de abril.
Um comentário mais recente publicado pelo Ta Kung Pao instou a CK Hutchison a desistir do negócio, alegando que arrisca violar as leis de Hong Kong relativas à salvaguarda da soberania nacional, da segurança e dos interesses de desenvolvimento.
O jornal criticou a empresa por se ter “rebaixado” ao Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que fez do Canal do Panamá um dos seus principais alvos, assim que regressou à Casa Branca em 20 de janeiro. Trump acusou a China de dominar as operações no canal e prometeu “tomá-lo de volta”.
Vários políticos proeminentes de Hong Kong também se pronunciaram sobre o acordo, com o líder da cidade, John Lee, a prometer tratar o negócio “de acordo com a lei e os regulamentos”.
A CK Hutchison está registada nas Ilhas Caimão e obtém cerca de 12% das suas receitas de Hong Kong e da China continental, enquanto a Europa, o Canadá e a Austrália compõem a maior parte das suas receitas.
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