No primeiro semestre do ano, o mercado de ações europeias valorizou significativamente, com o índice MSCI Europe a devolver 6,7% de retorno. A Itália foi o melhor contribuinte para esta subida, estando o Reino Unido na posição inversa; a estratégia de valor acabou por dar menos frutos do que a de crescimento e as pequenas e médias empresas geraram mais retorno do que as grandes corporações. Num continente em que a pesada máquina económica se move devagar, mas na direção certa, e após um abrandamento dos riscos políticos, este desempenho não terá terminado o seu curso e consideramos que, comparativamente a outras regiões, as ações europeias se mantêm atrativas e têm condições para continuar a devolver valor.

Por um lado, os inquéritos preditivos sobre a confiança na indústria e nos serviços, assim como os dados revelados pelos gestores de compras, continuam a indicar que o crescimento do PIB europeu em 2017 deverá manter-se dentro das antevisões, que apontam para 1,9%. Por outro lado, mantêm-se as perspetivas positivas sobre os resultados das empresas, que têm sido revistos em alta, fruto de uma maior capacidade empresarial para a fixação de preços e da melhoria operacional resultante de um crescendo na utilização da capacidade instalada. Embora a diminuição das expetativas para o aumento da inflação sugira que este contexto de preços mais compensadores possa ser difícil de manter, é improvável que os resultados empresariais sofram, no resto do ano, uma mudança dramática.

Porém, esta trajetória positiva de recuperação continua vulnerável às condições internacionais e, na análise que fazemos, os principais riscos vêm do exterior, sendo eles a contração do crédito na China e a hipótese de um abrandamento económico nos EUA.

No primeiro caso, somam-se as evidências de que a China está a restringir o aumento do crédito através de uma redução do dinheiro disponível (embora a situação monetária pareça ter estabilizado após um início de ano de forte queda). E isto sucede ao mesmo tempo em que outros grandes bancos centrais deixam antever uma progressiva redução das suas políticas monetárias extremamente acomodatícias.

Nos EUA, aumenta o descrédito de que Trump consiga implementar as medidas que, há meses, concentraram a atenção dos investidores. As promessas iniciais em áreas como os cortes de impostos, o aumento do investimento público em infraestruturas ou a desregulamentação da indústria e da banca atraíram muitos investidores para as ações de empresas norte-americanas, em especial para os setores que mais beneficiariam com a agenda presidencial, desde a energia à banca e a algumas tecnológicas, entre outras. Mas à medida que o tempo passa sem que nenhuma medida avance e com uma administração que se mantém algo desconcertada, arrefece o interesse dos investidores e arrefecem as expetativas sobre o crescimento económico.

Apesar dos dados salariais sugerirem que a economia norte-americana mantém o seu desempenho, este é tipicamente um indicador que nos dá informação relativa ao passado e o que nos importa aferir é a sustentabilidade futura do mercado de ações caso as empresas não continuem a registar um crescimento nos seus resultados. O nível de lucros que tem vindo a ser registado não deixa margem para grande melhoria e, de resto, as ações norte-americanas estão já a transacionar a valores que as tornam menos atrativas do que as europeias.