O retorno acionista europeu tem sido uma desilusão, este ano, com o índice MSCI Europe (em euros) sem grande variação no acumulado de 2018 em termos de retorno total (incluindo dividendos) face aos EUA, com retornos acima dos 10% (em dólares).

A nossa previsão inicial era de que o mercado de ações do Velho Continente se valorizasse em linha com o crescimento dos lucros na Europa, mas até agora isto não sucedeu, em parte porque os lucros não cresceram ao ritmo esperado, que rondava os 10%, situando-se entre os 5 e os 6%.

Esta revisão de lucros em baixa não é um tema inédito, nem nos parece que explique per se a ligeira desvalorização do mercado europeu, que parece mais relacionada com fatores políticos, como a guerra comercial alimentada por Trump e a situação na Itália e em vários países emergentes.

Embora os receios em torno da escalada das taxas alfandegárias tenham contribuído para uma pequena revisão em baixa do crescimento global, vemos a atividade nos EUA a manter-se, com as obrigações do Tesouro acima dos 3% e perspetivas de aumento de inflação, e o crescimento económico da zona euro a continuar estimulado pelo consumo, com o Índice dos Gestores de Compras igualmente robusto, embora com a vertente de produção industrial um pouco mais fraca, em virtude dos ajustes da procura internacional às alterações tarifárias.

Reduzir diferencial Europa-EUA

Da mesma forma, parece-nos que o sentimento em torno das políticas de Trump já está a ser razoavelmente descontado no preço das acções, e que o atual contexto económico europeu deveria ser suficiente para suportar os lucros e a valorização do mercado neste final de ano.

Temos visto já algumas evidências desta tendência neste início de trimestre, com o desempenho das ações cíclicas e de valor a reduzir o diferencial de desempenho face aos EUA, e esperamos que assim se mantenha.

Esta perspetiva de recuperação baseia-se na extrema divergência no crescimento dos lucros por ação entre Europa e EUA, que se encontram atualmente alavancados pelo programa de recompra de ações pelas empresas norte-americanas (estimado em um trilião de dólares), impulsionado pelos cortes de impostos de Trump e que é, em última análise, responsável pela escalada da dívida empresarial nos EUA.

Em paralelo, vimos a valorização do dólar, em parte financiada por vendas europeias significativas, sendo importante reter que, segundo estima a Morningstar, o resgate de fundos de investimento, até ao presente este ano, deverá ter totalizado 22 mil milhões de euros.

A principal incerteza relaciona-se agora com o acordo para o Brexit ou a falta dele. Qualquer que seja o resultado, o sentimento face aos mercados europeus será afetado, embora relativamente contido no tempo, já que se estima um impacto mínimo na economia.

Assim, acreditamos que neste final de ano há oportunidades no mercado acionista europeu: o mercado permanece atrativo, com o CAPE (preço dividido pelo lucro ajustado ciclicamente) 20% abaixo da média histórica; há segmentos igualmente atrativos, a exemplo das ações de valor mais cíclicas; e a volatilidade esperada deve ser usada de forma inteligente para identificar ativos que, nesta situação, acabam por ser subavaliados.