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Actor e encenador Tiago Rodrigues vence Prémio Pessoa 2019

Diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, desde janeiro de 2015, recebeu, há um ano, exatamente em dezembro de 2018, em São Petersburgo, o Prémio Europa de Teatro – Novas Realidades Teatrais, criado pela Comissão Europeia, para distinção daqueles que, através do seu percurso nesta área, promovam “o entendimento e a troca de conhecimento entre os povos”.
13 Dezembro 2019, 14h59

A atribuição do Prémio Pessoa, hoje, ao encenador Tiago Rodrigues, de 42 anos, culmina um ano em que somou salas esgotadas em Paris, levou as suas produções da Europa à Oceânia e anunciou a estreia na Royal Shakespeare Company.

Diretor artístico do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, desde janeiro de 2015, recebeu, há um ano, exatamente em dezembro de 2018, em São Petersburgo, o Prémio Europa de Teatro – Novas Realidades Teatrais, criado pela Comissão Europeia, para distinção daqueles que, através do seu percurso nesta área, promovam “o entendimento e a troca de conhecimento entre os povos”.

Na altura o júri reconheceu-lhe a capacidade de “lutar por um novo Teatro Europeu, que vá além de qualquer barreira ou preconceito”. À Lusa, Tiago Rodrigues defendeu a cultura como “uma questão dos dias úteis”, algo sempre presente no quotidiano.

Em abril, Tiago Rodrigues recebeu a Ordem das Artes e Letras de França do Governo francês.

Dramaturgo, encenador e ator, Tiago Rodrigues soma uma carreira de mais de duas décadas, que conta com a presença regular em palcos internacionais, mas que teve sempre por base Portugal, fosse através da companhia que criou, Mundo Perfeito, ou do compromisso assumido com o Teatro Nacional D. Maria II, na capital.

“Trabalho há muito tempo fora de Portugal e nunca emigrei. Quis sempre viver em Portugal, porque gosto mesmo de lá viver e de Lisboa. O meu compromisso neste momento é radical e feroz com o TNDM II, e tenho um mandato a cumprir até 2020”, disse à agência Lusa, em Paris, no passado mês de setembro, quando esgotou o Teatro da Bastilha com a estreia francesa de “Como Ela Morre” (“The Way She Dies”).

Tiago Rodrigues foi nomeado para diretor do Teatro D. Maria II em outubro de 2014, pelo então secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, que o apontou como “um dos mais destacados nomes do sistema teatral português”.

Rodrigues tinha-se evidenciado, no âmbito da Plataforma das Artes, contra os cortes na Cultura pelo Governo liderado por José Sócrates.

Encenador, ator e autor de textos teatrais, Tiago Rodrigues foi cofundador e diretor artístico da companhia Mundo Perfeito, tendo ao longo de cerca de uma década, criado mais de 30 peças, apresentadas em cerca de 15 países da Europa, América do Sul, Médio Oriente e Ásia.

“Uma das coisas que aprendemos cedo em teatro é que temos de deixar que o nosso fascínio se sobreponha ao pudor de pegar em grandes textos. Se a imponência da literatura levasse a melhor, não se fazia o ‘Hamlet’ há mais de 50 anos, porque já foi tantas vezes feito e tão bem”, disse Tiago Rodrigues em setembro último, à agência Lusa.

Na companhia Mundo Perfeito, desenvolveu várias iniciativas entre as quais o projeto “Urgência” (2004-2007) que promoveu a nova dramaturgia portuguesa e levou à cena mais de 20 textos inéditos de autores portugueses, e o projeto “Estúdios” que, ao longo de cinco edições, entre 2008 e 2012, promoveu a colaboração entre artistas portugueses e estrangeiros.

Tiago Rodrigues foi o curador português do projeto europeu de laboratório artístico “Try Angle”, apoiado pelo Culture Programme da União Europeia, e foi professor convidado na escola de dança contemporânea PARTS, em Bruxelas, com a qual teve o primeirto contacto aos 21 anos, quando deixou os estudos na Escola Superior de Teatro e Cinema. Durante o curso nesta escola, foi jornalista no semanário regional Grande Amadora. Publicou pela primeira vez aos 13 anos, no DNJovem.

Deu aulas em diversas escolas de teatro e dança em Portugal, entre as quais a Universidade de Évora, Escola Superior de Música, Artes e Espetáculo do Porto, Escola de Tecnologias Inovação e Criação e Escola Superior de Dança de Lisboa.

Em setembro último, marcou a temporada no Teatro da Bastilha, em Paris, com a estreia em França de “The Way She Dies” (“Como ela morre”), uma história de leitores do romance “Anna Karenina”, de Tolstoi, que esgotou na capital francesa.

A peça esteve igualmente em cena em Toulouse, no sudoeste de França, e foi realizada em cooperação com a companhia belga STAN, enquanto o processo de escrita recebeu os contributos de Frank Vercruyssen, Isabel Abreu, Jolente de Keersmaeker e Pedro Gil, permitindo a apresentação em três línguas (francês, neerlandês e português).

“Bovary” e “António e Cleópatra”, criações anteriores de Rodrigues, também estiveram em cena em teatros parisienses.

Em março, iniciou uma digressão internacional que levou as peças “By Heart” e “Sopro”, que escreveu e dirigiu, a palcos internacionais. “By Heart” foi da Austrália a Itália, Suíça, Canadá, Espanha, França e Grécia.

“Sopro”, que se estreou no Festival de Avignon, em julho de 2017, passou, entre outras, por salas de espetáculo de Áustria, Espanha, França, Rússia e Suíça.

A obra é uma peça de teatro sobre teatro, a partir das memórias de Cristina Vidal, ponto do D. Maria II.

No Festival de Outono de Paris, este ano, Tiago Rodrigues apresentou ainda “Please, please, please”, um projeto de dança com as coreógrafas La Ribot e Mathilde Monnier.

O seu texto “Tristeza e alegria na vida das girafas”, que viria a inspirar o filme homónimo de Tiago Guedes, foi nomeado para o Prémio Ubu 2018, na área da escrita dramatúrgica.

No próximo ano, em agosto, ”Blindness and Seeing”, peça encenada por Tiago Rodrigues, concebida a partir de dois romances de José Saramago, será estreada pela companhia inglesa Royal Shakespeare Company.

Quando lhe foi atribuído o Prémio Europa de Teatro – Novas Realidades Teatrais, o júri disse que Tiago Rodrigues tem “dado vida a uma nova forma pessoal de construir pontes entre cidades e nações, tanto na cooperação civil, como artística, entre diferentes povos”, sendo assim um dos que “continuam a lutar por um novo Teatro Europeu, que vá além de qualquer barreira ou preconceito”.

“A cultura ainda é tratada em Portugal como um momento de celebração ou a efeméride que se põe na lapela em vez de ser uma questão dos dias úteis. O acesso à arte tem de ser uma coisa de segunda a sexta”, afirmou o encenador à Lusa, em setembro, quando estreou “Como Ela Morre”, no Teatro da Bastilha.

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