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AD quer IVA a 6% com limite no valor das casas. Construção diz que taxa não deve ser vista como exceção

Aliança Democrática mantém a ideia de descer o IVA para 6% na construção, mas quer que os imóveis abrangidos não possam posteriormente ser vendidos ou arrendados por qualquer valor, cujos limites ainda não foram definidos. AICCOPN desconhece a proposta e pede a criação de um quadro regulatório e fiscal com regras “claras, estáveis e eficazes”.
obras construção
23 Abril 2025, 07h00

A descida da taxa de IVA para 6% nas obras de construção e reabilitação tem um novo episódio. A Aliança Democrática tinha colocado a medida no seu anterior programa eleitoral de maio de 2024 e um ano depois, com eleições legislativas novamente em cima da mesa, o partido insiste nesta proposta, mas com alterações.

A AD quer agora colocar um limite de preços aos imóveis que sejam abrangidos, para que estes não possam ser vendidos ou arrendados posteriormente por qualquer valor. A informação foi avançada na última semana pelo “Jornal de Negócios”, sendo que esses limites ainda não estão definidos. No entanto, o setor da construção já reagiu e entende que a descida da taxa de IVA não deve ser vista como uma exceção.

Em declarações ao JE, a Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), liderada por Manuel Reis Campos, assume que desconhece em detalhe a proposta da AD e defende a aplicação da taxa reduzida de IVA a um conjunto mais alargado de obras de reabilitação e construção de habitação, “utilizando toda a margem de manobra que a Diretiva Europeia concede, de modo a enfrentar a grave crise de oferta habitacional que o país atravessa”.

Com esta proposta, a AD espera evitar ganhos especulativos na venda ou arrendamento de casas através do benefício fiscal. A AICCOPN alerta que a aplicação da taxa reduzida de IVA não deve ser encarada como uma exceção, mas como um verdadeiro instrumento de política fiscal estruturante, ao serviço das necessidades reais da população.

A sua extensão, dentro dos limites permitidos pelas normas comunitárias, permitirá estimular tanto a reabilitação do edificado como a construção de nova habitação, contribuindo para um mercado mais acessível, funcional e equilibrado”, aponta a associação, relembrando que Portugal, na última década, praticamente deixou de construir e de reabilitar habitação, acumulando um défice estrutural que hoje se reflete nos preços e na escassez de casas disponíveis.

Perante este novo capítulo, o setor da construção considera ser fundamental a criação de um quadro regulatório e fiscal com “regras claras, estáveis e eficazes”, que promovam um verdadeiro aumento da oferta de habitação a preços compatíveis com os rendimentos dos portugueses, num ambiente de confiança e previsibilidade para todos os agentes envolvidos.

Esta proposta da AD surge depois do Supremo Tribunal Administrativo (STA) ter decidido uniformizar a jurisprudência em relação à aplicação da taxa reduzida de 6%. Esta decisão estabelece não apenas a delimitação de uma Área de Reabilitação Urbana (ARU), mas também a existência prévia de uma Operação de Reabilitação Urbana (ORU) aprovada, como condição para a aplicação da taxa reduzida de IVA (6%).

Um cenário que tem sido encarado, pelo setor imobiliário e da construção, com muita preocupação e que pode adiar ou anular vários investimentos em curso e abre espaço a uma crescente incerteza no mercado da reabilitação urbana, comprometendo seriamente o acesso à habitação.

Por outro lado, existe o risco de empresas terem de encerrar, pelo facto de terem assumido a aplicação da taxa reduzida, podendo agora enfrentar liquidações adicionais, que, em alguns casos, podem atingir os 17% de acréscimo sobre o valor da empreitada. Este impacto será sentido não só nos projetos já concluídos, mas também naqueles cujas obras estão em curso ou a iniciar.

Como tal, esta é uma decisão que vai significar a devolução de milhões de euros, algo que está fora do alcance de muitas empresas do setor e que coloca em causa vários postos de trabalho.

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