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Afinal, o que aconteceu entre o grupo Wagner e as forças russas?

Este sábado foi marcado pela rebelião do grupo Wagner contra o comando militar russo. Quando estava a 200 quilómetros de Moscovo, o líder dos mercenários, Yevgeny Prigozhin, acabou por aceitar parar a marcha.
Reuters
24 Junho 2023, 20h10

Yevgeny Prigozhin, líder dos mercenários Wagner, protagonizou nas últimas horas um desafio inédito à autoridade do Presidente russo, Vladimir Putin, mas deteve a sua “marcha” sobre Moscovo contra a cúpula militar russa, rebelião com contornos de guerra civil que sobressaltou o mundo.

As tensões entre os mercenários e Moscovo agudizaram-se na sexta-feira, quando Prigozhin, de 62 anos, acusou o Exército russo de realizar ataques a acampamentos dos seus mercenários, causando “um número muito grande de vítimas”, acusações que foram negadas pelo Ministério da Defesa da Rússia. O líder do grupo paramilitar desmentiu ainda Moscovo, ao dizer que as forças russas estavam a recuar perante a contraofensiva ucraniana.

Como resposta, Prigozhin convocou uma revolta contra o alto comando militar da Rússia, garantindo ter 25.000 soldados e convocando os russos a juntarem-se no que designou por “marcha pela justiça”, sem esconder que estava disposto a “ir até ao fim” nesta rebelião, embora rejeitasse a existência de um golpe militar.

Moscovo não demorou a reagir e os serviços de segurança russos (FSB) acusaram o chefe do grupo paramilitar de lançar uma guerra civil e apelaram aos mercenários para deter o seu líder. Nesse sentido, o Ministério da Defesa russo prometeu “garantir a segurança” dos combatentes se eles se dissociassem da “aventura criminosa” encetada por Prigozhin.

As primeiras movimentações na sexta-feira à noite foram recebidas com prudência pela Ucrânia, cujo exército sublinhou estar “a observar” os desenvolvimentos do conflito entre o grupo Wagner e o alto comando militar russo. Foi já com a tomada da cidade de Rostov (sul) e o discurso de Putin, a rotular a rebelião como uma “traição” e a prometer “defender o povo”, que o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apontou a autodestruição russa.

“A fraqueza da Rússia é evidente. Quanto mais tempo a Rússia mantiver as suas tropas e mercenários nas nossas terras, mais caos, dor e problemas criará para si própria”, referiu Zelensky, continuando: “Quem escolhe o caminho do mal destrói-se a si próprio”.

Perante o maior desafio à sua autoridade desde o início da guerra na Ucrânia, Putin não nomeou Prigozhin no seu discurso na manhã de sábado através da televisão estatal russa, mas defendeu que a revolta do grupo Wagner foi causada por “ambições desmesuradas por interesses pessoais”.

Reiterou ainda que não iria deixar cair o país numa “guerra civil”, enquanto o grupo paramilitar já assumira o controlo das instalações militares e do aeródromo de Rostov, uma cidade-chave para o ataque à Ucrânia.

A comunidade internacional segue atentamente os acontecimentos em Moscovo e a NATO assegurou que estava “a monitorizar a situação”, enquanto a Comissão Europeia descreveu a rebelião como “um assunto interno” da Rússia e o G7 – que reúne Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido – falou sobre o tema com o líder da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.

Por outro lado, Turquia e Irão declararam apoio a Putin, com as autoridades russas a responderem com manobras defensivas para travar o avanço do grupo Wagner sobre Moscovo e noutras cidades, além do avanço das forças chechenas de Ramzan Kadirov e de avisos para o “Ocidente russofóbico” contra o aproveitamento da situação.

Já a Bielorrússia, um dos aliados mais próximos do Kremlin, catalogou a rebelião como “um presente para o Ocidente”, tendo o Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, anunciado ao final da tarde de sábado que, na sequência de conversações, Prigozhin teria aceitado parar.

A confirmação do grupo Wagner chegou pouco depois, também pela rede social Telegram, numa mensagem assinada por Prigozhin, que ordenou aos seus mercenários que interrompessem a marcha rumo a Moscovo e se retirassem para os seus campos na Ucrânia, para evitar derramar sangue russo, colocando, assim, um ponto final na rebelião.

Depois disso, o Kremlin veio dizer que Prigozhin vai viver para a Bielorrússia no âmbito do acordo negociado com o presidente bielorusso para pôr fim à rebelão militar contra as forças russas.

Notícia atualizada às 22h

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