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África do Sul: resgate de vivos e de mortos continua em mina de ouro ilegal

Pelo menos 11 pessoas, quatro das quais mortas, foram içadas da mina de ouro abandonada de Stilfontein, na África do Sul, onde centenas de mineiros ilegais, nomeadamente moçambicanos, estão presos desde novembro. Número de mortos retirados já chega aos 24.
15 Janeiro 2025, 07h00

Equipas de salvamento retiraram vários sobreviventes e cadáveres de uma das minas mais profundas da África do Sul, onde centenas de mineiros em situação irregular estão presos há meses num poço abandonado – numa espécie de braço de ferro com as autoridades, cuja prioridade é expulsá-los do país.

“Podemos confirmar que a máquina está a funcionar. Trouxe de volta sete pessoas”, disse o porta-voz da organização da sociedade civil Sanco, Mzukisi Jam, referindo-se ao cesto e guincho especializados que entraram em ação em Stilfontein para trazer os mineiros presos à superfície. Quatro corpos foram também retirados da mina, disse o líder da comunidade local, Johannes Qankase, em declarações à agência France-Presse (AFP).

Mais de vinte mineiros ilegais foram resgatados e quinze corpos içados para a superfície da mina no espaço de dois dias, disse a polícia esta terça-feira. No total, “24 pessoas foram confirmadas como mortas” desde agosto no local, cerca de 140 km a sudoeste de Joanesburgo, disse o Comissário Nacional Adjunto, Tebello Mosikili. “Na semana passada, recebemos uma carta do subsolo indicando que havia mais de 109 corpos”, adianta a AFP. Os números são, de qualquer modo, poco coincidentes: Sabelo Mnguni, porta-voz do grupo Comunidades Afetadas pela Mineração Unidas em Ação, disse que “no mínimo” 100 homens morreram na mina, por fome ou desidratação.

Durante meses, o acesso a esta mina foi vedado no âmbito de uma operação policial destinada a prender centenas de ‘zama zamas’, os mineiros ilegais, muitas vezes estrangeiros. A exploração mineira ilegal é uma prática comum na África do Sul, com mineiros, por vezes menores de idade, a trabalhar em minas desativadas e abandonadas, principalmente na área da cidade de Joanesburgo e arredores. Pelo menos 100 mineiros em situação irregular morreram e mais de 400 continuam presos no subsolo após um impasse de meses com a polícia, segundo a Mining Affected Communities United in Action (MACUA).

A mina perto da cidade de Stilfontein, a sudoeste de Joanesburgo, tem sido palco de um tenso impasse entre a polícia, mineiros e membros da comunidade local desde novembro, quando as autoridades lançaram pela primeira vez uma operação para tentar forçar os mineiros a sair. Segundo relatos, alguns deles estão debaixo da terra desde julho ou agosto passado. As autoridades afirmam que os mineiros podem sair, mas que se recusam a fazê-lo, uma vez que não querem ser expulsos do país. Mas a informação tem sido contestada por grupos de defesa dos direitos humanos e por ativistas, que criticam as táticas da polícia de cortar o abastecimento de comida e água dos mineiros, numa tentativa de os forçar a sair.

A MACUA, que levou as autoridades a tribunal em dezembro para as obrigar a permitir o envio de alimentos, água e medicamentos para os mineiros, divulgou dois vídeos feitos com um telefone que mostravam dezenas de cadáveres de mineiros embrulhados em plástico e sobreviventes extremamente magros a pedir ajuda.

Os ministros da Polícia e dos Recursos Minerais da África do Sul planeavam visitar a mina esta terça-feira. A ministra da Presidência, Khumbudzo Ntshavheni, disse em novembro, recorda a agência Euronews, que o governo não iria ajudar os mineiros, que considerava serem “criminosos”.

 

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