A subida das taxas do Banco Central Europeu (BCE) impulsionou a margem financeira do Banco Santander Portugal, bem como de todo o setor, num efeito que, admite a instituição financeira liderada por Pedro Castro e Almeida, continua a fazer-se sentir nos resultados mas a um ritmo cada vez menor. Perante a inversão da política monetária, o banco espera compensar o ciclo de juros mais baixos com o crescimento do número de clientes e, consequentemente, do volume de negócios.
Quando o banco central liderado por Christine Lagarde decidiu começar a descer os juros em junho deste ano, a taxa estava há vários meses num máximo histórico de 4%. Desde então, o BCE já avançou com três cortes, levando os juros para os 3,25%, num movimento que representa um alívio para as prestações que as famílias pagam aos bancos, mas, para o setor, um travão no crescimento exponencial da margem financeira que se observou nas contas dos últimos trimestres.
A diferença entre os juros recebidos nos créditos e aqueles pagos nos depósitos “ainda continua a beneficiar da subida das taxas de juro de referência executada até setembro de 2023, mas a um ritmo progressivamente menor, pois o BCE já tem em curso um ciclo de descida das taxas de referência” que “começa a afetar a dinâmica intra-anual da margem, que se traduz numa redução face quer ao pico, observado no quarto trimestre de 2023, quer ao trimestre anterior”, indica o Santander num comunicado divulgado no dia em que apresentou um aumento de 25% dos lucros, para 778,1 milhões, à boleia de um crescimento de 20% da margem financeira.
Apesar de reconhecer esta tendência, o banco liderado por Pedro Castro e Almeida está confiante de que vai conseguir compensá-la. “A evolução dos resultados depende de vários fatores, sendo a taxa de juro um deles. Por isso, os resultados alcançados nos primeiros nove meses decorrem da nossa atividade recorrente e da transformação comercial e digital que temos vindo a executar nos últimos anos e não apenas da evolução das taxas de juro”, refere fonte oficial do Santander ao Jornal Económico.
Assim, continua a mesma fonte, “embora seja expectável que a descida de taxas de juro que teremos nos próximos trimestres venha a reduzir a margem financeira, a continuação do crescimento de clientes e de volume de negócio (que têm evoluído de forma muito positiva e permitido alcançar os resultados que atualmente temos) devem permitir atenuar o impacto que essa descida pode ter no resultado do banco”.
Nos primeiros nove meses do ano, a instituição financeira captou mais 68 mil clientes ativos. Neste período, aumentou o crédito em 6,6%, alcançando os 47,9 mil milhões de euros, “continuando a beneficiar de sólidos volumes de nova produção de crédito à habitação, nos nove meses de 2024”, indica no comunicado referente aos resultados até setembro divulgado esta terça-feira. A carteira de crédito hipotecário cresceu 3,9% em termos homólogos, para 23 mil milhões de euros, enquanto o crédito ao consumo aumentou 7,8% para 1,9 mil milhões de euros. O crescimento dos empréstimos para a compra de casa acompanha a descida dos juros, que se traduz em mensalidades mais acessíveis para as famílias.
Depósitos crescem apesar da descida dos juros
Além de ter visto o crédito concedido a aumentar, o Santander Portugal assistiu também a um crescimento dos depósitos. Os recursos de clientes cresceram 5,5% face a setembro de 2023, para 45,6 mil milhões de euros, com os depósitos a subirem 4,2%, para 37 mil milhões de euros.
Questionado se a mudança das regras nos Certificados de Aforro, permitindo, por exemplo, um montante máximo de subscrição que é o dobro do anterior, e a descida nos juros dos depósitos – hoje a maioria dos bancos paga menos do que os Certificados – podem tornar os produtos de poupança do Estado mais atrativos do que os da banca, o Santander sublinha que a “remuneração da poupança não se limita à rentabilidade dos depósitos”, havendo “uma ampla diversidade de soluções que as instituições financeiras disponibilizam e que os clientes podem escolher para aumentar os rendimentos das suas poupanças”.
“Exemplo disso mesmo é o crescimento que temos tido de aplicações de clientes em recursos fora de balanço. O banco manteve a comercialização de soluções de recursos fora de balanço, com condições de rentabilidade atrativas no contexto do novo ciclo de taxas de juro, com um incremento nos primeiros nove meses do ano de 11,7% face ao período homólogo: os fundos de investimento cresceram 14,8% e os seguros de capitalização e outros recursos 8,2%”, conclui.
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