O presidente do Governo da Madeira, Miguel Albuquerque, pede alteração da taxa de juro do empréstimo com a República, sublinhando que o Estado está a ganhar dinheiro à custa da região. O governante, em entrevista ao Económico Madeira, alerta que se não existir alteração de políticas o país vai continuar a empobrecer.
Sobre a mobilidade este tema do vento é um entrave?
É um problema pontual.
Existe alguma solução para isto?
A solução é esta. É termos tecnologia ao serviço da operacionalização.
É possível ter um espécie de backup com o Porto Santo e uma ligação marítima?
Sim. Mas isso é mais fácil. Nós neste momento temos de ter maior fiabilidade no aeroporto. Isto traz-nos constrangimentos mesmo que sejam cinco ou seis dias por ano. Traz-nos uma imagem má para cá.
Já foi abordado com o concessionário da Porto Santo Line a possibilidade?
Isso podemos fazer. Temos essa capacidade instalada. Agora a grande questão que está aqui é encontrar uma melhor forma de garantir uma maior operacionalidade do aeroporto. E isso tem de ser feito através dos sistemas tecnológicos mais avançados.
É preciso uma coisa chamada Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), que tem uma série de administradores, decidir. Como a ANAC funciona muito bem, entre aspas, está há nove anos para decidir.
Houve uma vez alguém que publicou um livro muito engraçado que era os organismos inúteis em Portugal. E olhe que são milhares em que eles metem as primas, e as tias, e uns tipos importantes. Estão lá a ganhar. Chegam lá às 09h30. Vão ao meio-dia tomar café, almoçam, tomam uma garrafa de vinho. Chegam às 15h30. Às 17h00 vão buscar os pequenos. E aquilo continua a funcionar. E a gente paga aquilo. Muitos deles que nem sabiam que existiam.
É impressionante.
E aí eu gosto muito dos americanos. Têm sempre uma pergunta. What you are doing with my money (O que estão fazendo como o meu dinheiro?).
E relativamente ao empréstimo da República …
A taxa é de 2.7% e qualquer coisa. E nós pedimos para se fazer a revisão dessa taxa. E nesta altura o Estado está a ganhar dinheiro à nossa custa.
E houve abertura do Governo para essa revisão?
Quando nós pedimos este empréstimo de 457 milhões de euros para fazer face aos apoios às empresas, à saúde, face à pandemia. Porque o Estado não nos ajudou em nada. Ficamos aqui sozinhos. E nem o aval nos deram. Nós fomos ao mercado porque tínhamos credibilidade. Estávamos com um rácio de dívida pública inferior a 100%.
E fomos ao mercado e conseguimos juros em muito boas condições no mercado internacional. Mas nem o aval do Estado tivemos.
Esse cenário preocupa?
Toda a gente deve estar preocupada. Porque a taxa de juro significa um acréscimo de despesa enorme para nós e para o país.
Sem o Banco Central Europeu (BCE) comprar a dívida nacional você tem um país com um endividamento de 130% e que não cresce economicamente.
Portugal está encalhado. Portugal não consegue crescer acima dos 2%. Isto é um problema. Todo o discurso político em Portugal está inquinado. O que se disse nos últimos três anos. Mas o discurso recorrente é que tudo está a correr bem. Portugal cresceu acima da média da União Europeia. Cresceu acima da média porquê? Cresceu acima da média nestes últimos três anos porque a França, a Espanha, Itália e a Alemanha, que são as grandes economias, cresceram pouco.
Compare nestes três anos o que a Irlanda cresceu e o que Portugal cresceu. O que a Lituânia e Letónia e Portugal cresceu. A República Checa e Portugal. Nós estamos a ficar para trás. Não vale a pena estarmos com ilusões. Ou há uma mudança das políticas ou nós vamos continuar a empobrecer cada vez mais. E não vai ser a bazuca que vai resolver nada disso. A minha ideia de país é de um país que não precisa-se dos fundos europeus para nada.
Qual é o motivo para a Madeira continuar sob liderança política do PSD e mais recentemente com o auxílio do CDS-PP?
Nós não temos partidos radicais na Madeira. E porque não temos? Porque tem um bom Governo. Primeiro temos um bom Governo e depois eu acho que o sucesso da Madeira e o sucesso dos Governos da Madeira é a circunstância de terem sempre tido uma política reformista. Ou seja nós nunca tivemos uma atitude conservadora de dormir à sombra da bananeira face aos sucessos que alcançamos. Nós estamos sempre a olhar para o mundo. Quais são as grandes questões? Onde é que pudemos ir buscar e tomar decisões em consonância com as mais avançadas do ponto de vista da racionalidade política?
E toda a gente ficou um pouco estupefacta a nível nacional com a gestão que fizemos da pandemia. Mas esta gestão foi feita tendo por base aquilo que sempre nós sabíamos. Nós vimos quais eram os países mais avançados e quais eram as decisões tomadas e fomos atrás.
Edição do Económico Madeira de 4 de março.
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