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“Alcochete? Menos mal. Mas o que vai acontecer à TAP?”, questiona especialista aeronáutico

Em entrevista ao JE, Rui Quadros diz que é fundamental perceber “como fica a companhia que vai ser responsável por agregar a maior parte dos movimentos” na nova infraestrutura. “Definir um aeroporto até 100 milhões de passageiros significa que teremos uma TAP brutal”, realçou.
TAP
16 Maio 2024, 07h30

Definida a localização do novo aeroporto de Lisboa, com a escolha do Campo de Tiro de Alcochete como foi anunciado esta semana, o destino da TAP é outra questão que deve ser colocada em cima da mesa, de acordo com a opinião de Rui Quadros, especialista em gestão aeronáutica com experiência na Iberia, PGA e Grupo SATA e professor no ISEC Lisboa, expressa em entrevista ao JE.

O novo aeroporto será no Campo de Tiro de Alcochete e será designado Aeroporto Luís de Camões, sendo que Portela é para fechar; avança a terceira travessia sobre o Tejo e o Governo vai pedir à Infraestruturas de Portugal a conclusão dos estudos sobre alta velocidade Lisboa-Madrid, tal como anunciou esta terça-feira o primeiro-ministro.

Sobre esta decisão, o especialista considera positivo que se tenha decidido pela localização mas adverte que há outra questão que já deveria estar em cima da mesa: “Menos mal, não discordo da situação geográfica e daquilo que se pretende fazer com esta escolha. É uma vitória do Governo mas o mais importante é perguntar o que vai acontecer à TAP”.

No entender de Rui Quadros, “é impossível não deixar de pensar na TAP e como fica a companhia que vai ser responsável por agregar a maior parte dos movimentos no aeroporto”. Para este especialista, existem várias reflexões que devem ser equacionadas: “Uma coisa é virem passageiros de Frankfurt para Lisboa e virem desfrutar do país e outra é virem os mesmos passageiros para depois irem para o Brasil. No primeiro caso, a TAP fomenta o turismo em Portugal, no segundo vai fomentar o turismo no Brasil. Vai fomentar o seu core business que é ser uma companhia de hub e se é para crescer, o que é representa a TAP nestas duas realidades?”, questiona.

O especialista em gestão aeronáutica recorda a importância de perceber que “com Madrid aqui ao lado” e com os comboios de Alta Velocidade a fazer o trajeto entre as capitais dos dois países da Península Ibérica, “toda a Europa está a reduzir o número de voos em curta distância privilegiando a ferrovia e estamos a dizer que vamos aumentar o número de aviões só para dizer que o número de passageiros vai aumentar. Isso a mim não me convence porque não sei o que querem fazer com a TAP”.

Com a Iberia a moldar a sua estrutura para transportar 90 milhões de passageiros por ano, como foi anunciado em janeiro deste ano, Rui Quadros perspectiva que Madrid fique “extremamente competitiva até ao nível do handling e questiona como vai a TAP posicionar-se nesse contexto: “Vamos ter uma TAP super subsegmentada e um turismo de nicho? Se é isso que querem têm que trabalhar para isso mas se nas capitais estão a reduzir o número de turistas, em Portugal vamos aumentar? Há aqui coisas que deviam ser explicadas”.

Sobre o novo aeroporto de Lisboa, este especialista com experiência na Iberia, PGA e Grupo SATA questiona o que significa “definir um aeroporto de 90 a 100 milhões de passageiros até 2050” e se essa dimensão quer dizer “que iremos ter uma TAP brutal ou então vamos ter a Lufthansa com um mini hub em Lisboa”, sugere

“Se é para ter a TAP na esfera do Estado, então a companhia tem que ser extremamente agressiva e não pode ter estes desequilíbrios como ficou demonstrado no primeiro trimestre. Estes tempos são fantásticos para as companhias ganharem dinheiro e não para entrarem em retrocesso”, realça o professor no ISEC.

Relativamente às companhias low cost, Rui Quadros é taxativo: “Não vale a pena ter uma super estrutura”. Este especialista quer ver o que vai acontecer ao Aeroporto Humberto Delgado: “Quando e se vão desmantelar. Se o aeroporto de Alcochete for caro, as companhias low cost não vão para lá ou então, à velha maneira portuguesa, subsidiamos e vai para lá tudo”.

Este especialista e professor no ISEC Lisboa é um dos nomes que irá integrar o painel de investigadores, especialistas e líderes do sector de aviação que se propõe a discutir os desafios do sector na IX Ridita 2024, uma conferência que vai ter lugar em Lisboa a 27, 28 e 29 de junho. Serão debatidos temas importantes como a privatização dos aeroportos, o futuro das parcerias publico–privadas, o controlo de tráfego aéreo e as
possibilidades de operação por entidades privadas, questões de sustentabilidade do sector e as necessárias adaptações tanto nos serviços como nas infraestruturas.

Vão estar presentes oradores do principal Instituto de Transporte Aéreo, ITA Brasil, bem como os principais centros de investigação ativos na América do Sul, nomeadamente Brasil, México, Peru, Equador, Chile e Argentina, bem como de Portugal e Espanha.

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