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Alemães investem 28 milhões em projeto solar na mina de São Domingos

É um projeto ambicioso com um custo total de 500 milhões de euros, mas os promotores dizem que é para o “longo prazo” e com “várias fases”. Projeto no concelho de Mértola, distrito de Beja, prevê energia eólica, solar, hidrogénio verde e armazenamento através de bombagem hídrica. Para já, o objetivo é avançar com 100 MW de energia solar. Promotores garantem que não estão interessados na exploração mineira.
CM Mértola
29 Agosto 2024, 07h30

No tempo dos romanos já era extraído ouro, prata e cobre na zona da mina de São Domingos, distrito de Beja. Na sua fase industrial, produziu durante mais de 100 anos até ao seu encerramento em 1966. O projeto mineiro no distrito de Beja foi explorado pela empresa inglesa Mason & Barry.

Aqui foram extraídos mais de 20 milhões de toneladas de minério. Uma linha férrea escoava o minério para o antigo porto fluvial do Pomarão, descendo o rio Guadiana até Vila Real de Santo António. Foi aqui que também foi construída a primeira central elétrica do Alentejo. No seu auge, empregava, a dado momento, mais de mil trabalhadores.

Para trás, ficou uma área com os solos contaminados, como é regra nos projetos mineiros. Em 2016, foi anunciado o arranque do programa de descontaminação, mas há agora um novo projeto para esta área.

Em 2023, um grupo de investidores alemães comprou a já desativada mina alentejana de São Domingos, concelho de Mértola, e têm um projeto para construir uma central solar e outra eólica, e um projeto de hidrogénio verde.

A La Sabina Green Energies é a dona dos dois mil hectares de terreno onde foi minerado, principalmente, cobre e enxofre para a produção de ácido sulfúrico, assim como outros produtos secundários: chumbo, níquel, cobalto, ouro, prata, cádmio, arsénio antimónio e estanho.

“Somos três investidores alemães. Comprámos as ações da empresa La Sabina Mineira Turística no ano passado. Eu tinha laços porque o meu pai investiu nesta empresa há 30 anos”, disse, ao JE, um dos investidores Hubertus Prinz zu Hohenlohe-Langenburg, que não revelou os valores da operação. “A nossa abordagem é produzir energia renovável, porque a localização é perfeita para produzir a eletricidade a partir de solar fotovoltaica ou eólica, e também para produzir hidrogénio verde para o mercado português”.

“Queremos também recultivar a terra que foi usada antes como mina, embora algumas partes ainda estejam contaminadas e precisem de ser tratadas. Somos um projeto ecológico, de longo prazo, com várias etapas. Vamos começar numa pequena escala e tentar crescer para atingir os objetivos”, acrescenta este advogado alemão sediado em Munique, especializado em energia e que tem investido no sector.

A empresa tem estado a colaborar com a Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM), companhia pública responsável pela descontaminação da mina, com um custo de 20 milhões de euros. Cumpridas duas fases, faltam agora quatro fases para a descontaminação ficar concluída.

Para já, na primeira fase o objetivo é avançar com um projeto de 100 MW de energia solar, com os promotores a estimarem um custo de 28 milhões de euros para este projeto, que está a ser licenciado, tendo já submetido o projeto à Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG).

Para financiar o projeto, contam com capitais próprios, financiamento bancário e fundos europeus. Só depois é que avançam para o projeto eólico com 80 MW, na primeira fase. No hidrogénio verde, o objetivo é ter um eletrolisador inicial com 7,5 MW de capacidade de eletrólise.

Com dois mil hectares de terra, os promotores já foram abordados por outros promotores, com o objetivo de arrendar terra para a instalação de projetos de energia renovável, mas esclarecem que o objetivo neste momento é avançarem com os seus próprios projetos.

O projeto também visa a criação de armazenamento, através de bombagem hidroelétrica. “Existem possibilidades na mina de ter um reservatório de água e usar isto para bombar hídrica. À noite, quando não há sol, ou quando não há vento, bomba-se a água para produzir energia para o eletrolisador”, afirmou, por sua vez, Jurgen Magnus, outro dos investidores alemães, sediado na Bélgica, e diretor-geral do projeto.

Sobre o projeto de agricultura, Hubertus Prinz zu Hohenlohe-Langenburg destaca que uma possibilidade é o “recultivo da mina a céu aberto”, recorrendo a “solo artificial”. “É possível fazer crescer algo mesmo debaixo dos painéis fotovoltaicos. Fui informado pela EDM que já fizeram pesquisas sobre este tipo de recultivação. Penso que é muito interessante porque cultivam plantas que tornam o solo mais fértil, e pode-se deixar os animais pastar. Estamos a fazer algo pela natureza, por um lado, e por outro, estamos a criar possibilidades agrícolas, que ainda não existem porque o solo é muito fino, existe muita erosão”.

Em agosto de 2023, o jornal “Público” noticiou que a empresa Almina – Minas do Alentejo SA ia desenvolver trabalhos de pesquisa num território de 500 km2 nos concelhos de Mértola e Castro Verde, que engloba as áreas das antigas minas de São Domingos e de Chança.

Mas os responsáveis garantem que não estão interessados na exploração mineira. “Somos donos da terra, mas não detemos os recursos, que são detidos por Portugal. Não temos licença [de exploração mineira] e não vamos pedir uma. Esse não é o nosso negócio”, diz Hubertus Prinz zu Hohenlohe-Langenburg. “O dinheiro está no que se faz da terra. Como não somos uma empresa mineira, não é o nosso foco. Isso [exploração mineira] depende do Governo. Depende do investidor que tiverem e teríamos de concertar isso”.

Dentro da propriedade encontra-se o Alentejo Star Hotel, mas é explorado por terceiros.

Características do projeto:

– Capacidade fotovoltaica – 500 MW
– Capacidade eólica – 50 MW
– Capacidade eletrólise – 100 MW
– Produção de hidrogénio – 9 mil a 10 mil toneladas/ano
– Investimento previsto: 500 milhões em duas a três fases

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