Nascido a 13 de setembro de 1885, no concelho de Sernancelhe, viria a morrer em Lisboa, em 1963. Pouco se sabe da sua infância, apenas que terá sido bastante travesso. Destinado pela família ao sacerdócio, ingressa no Colégio da Senhora da Lapa, em 1895, a que se seguem Lamego, Viseu e o Seminário de Beja, donde é expulso em 1904. Uma vez em Lisboa, dedica-se à escrita e à tradução e torna-se feroz defensor das ideias republicanas, o que o levará à prisão. A sua evasão algo rocambolesca e a fuga para Paris são descritas no livro de memórias “Um Escritor Confessa-se”, publicado postumamente. O início da Primeira Guerra Mundial força-o a regressar deste seu primeiro exílio parisiense, agora acompanhado de Grete Tiedemann, sua primeira mulher. Depois de três anos como professor no Liceu Camões, torna-se segundo bibliotecário na Biblioteca Nacional.
É precisamente devido ao seu futuro casamento com esta jovem oriunda de Meclemburgo, no norte da Alemanha, que Aquilino conhecera na Sorbonne, que faz a sua primeira viagem à Alemanha, em 1912, ficando algumas semanas em Berlim e em Parchim. O pai da noiva não via com bons olhos que a filha casasse com um homem de um país pequeno e anárquico, e Grete teve de lutar durante dois anos para o convencer a ceder a mão da filha a este homem sem “profissão lucrativa”, como confessaria o escritor português na correspondência trocada com o seu amigo Carlos Malheiro Dias.
O trabalho na Biblioteca Nacional proporcionar-lhe-ia uma segunda viagem à Alemanha, em 1920, para efetuar pesquisas bibliográficas, a que se seguiria a participação num congresso bibliotecário em Bruxelas. Usando a sua acreditação de jornalista, dado que fora convidado a escrever uma série de cartas para “A Pátria”, Aquilino teve acesso a um campo de prisioneiros de guerra e pôde escrever sobre o que mais lhe interessava: “sentir a nova Europa, as suas lutas, as suas esperanças”. “Alemanha Ensanguentada” é o relato dessa viagem, em que teve ainda de tratar de negócios familiares, devido à morte do sogro durante a guerra. Na descrição da vida das pessoas, das grandes mudanças sociais e políticas, está patente a sua germanofilia e a perspicácia na avaliação do sentir do povo alemão, humilhado pelo Tratado de Versalhes. Por isso, este seu “caderno de um viajante” (subtítulo da obra), publicado em Portugal em 1934, viria a ser uma ajuda preciosa para entender a tomada do poder por Hitler no ano anterior.
As observações vão sendo mescladas por pormenores históricos, descrições dos lugares e da gastronomia, como um almoço no Kempinski, em Berlim, e até o encontro com um patrício, filho de boas famílias, perdido de amores por uma empregada de um antiquário, em Charlottenstrasse, uma perpendicular da avenida com um dos nomes mais bonitos do mundo: Unter den Linden (Sob as Tílias). O pequeno e belíssimo capítulo sobre Hildesheim, cidade que passa à História a partir de Carlos Magno, é o exemplo perfeito da admiração do escritor português pela alma alemã.
A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com