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Alexandra Leitão: “O turismo é fundamental para Lisboa”

Candidata do PS à Câmara de Lisboa, quer repor as finanças da cidade em ordem, quer regular mais o alojamento local, acabar com o AL ilegal, proibir a vendas de bebidas alcoólicas na rua a partir de determinada hora. Quer menos carros particulares e mais transporte público. E tranquiliza os empresários: nada têm a temer.
4 Julho 2025, 07h05

Que decisões boas para a cidade encontra no mandato de Carlos Moedas?
O problema da governação de Carlos Moedas é a falta de decisão e de execução, não basta comunicar bem. Houve anúncios e discursos, mas a cidade ficou parada, adiada. Teve os maiores orçamentos de sempre e não os soube usar. Dou-lhe alguns exemplos. Lisboa está entre as 10 cidades que mais perderam posições no Global Liveability Index; ocupa o penúltimo lugar no ranking europeu de mobilidade urbana infantil, e caiu para o 115.º lugar no Smart City Index, descendo 40 lugares em cinco anos. E não é preciso recorrermos a rankings, basta ouvir as pessoas. Ainda esta semana foi lançada a Plataforma de Cidadãos, formada por 17 associações e movimentos de moradores e de cidadãos que consideram que Lisboa se tornou agressiva para com os seus habitantes. Queixam-se ainda do ruído, da sujidade, da degradação e da vandalização do espaço público.

O que lhe têm dito os lisboetas com quem tem falado?
Dizem-me que perderam a paciência. Estão cansados de promessas que não saem do papel. Falam-me do lixo acumulado, dos buracos nas ruas, do mau estado de conservação do espaço público, das rendas incomportáveis, da degradação dos edifícios escolares (a câmara não mobilizou um tostão do PRR para modernizar as escolas, ao contrário de várias autarquias que estão já a inaugurar essas obras), da falta de resposta para os idosos, da lentidão dos transportes, da insegurança. Nos bairros municipais queixam-se da degradação do edificado, dos elevadores avariados (os idosos ficam sequestrados nos seus andares porque não conseguem subir e descer as escadas), da exclusão. Outra observação que têm feito, e que já testemunhei, tem a ver com o impacto de alguns excessos cometidos durante a noite, motivados pela venda de bebidas alcoólicas para consumo na via pública, que resultam, muitas vezes, em ruído, falta de higiene e até em insegurança, com grande prejuízo para a vida dos moradores. Lisboa merece uma vida noturna vibrante, mas não à custa da qualidade de vida dos lisboetas. Se eu for eleita presidente da Câmara de Lisboa, vamos proibir a venda de bebidas alcoólicas para consumo na via pública depois de determinada hora, regulamentar e fiscalizar com rigor a vida noturna na cidade. E dizem que querem uma cidade que oiça as suas necessidades e que funcione, que volte a ter a dinâmica e a ambição que já teve no passado.

Melhorar a qualidade de vida é seguramente uma ambição. Não há casas, as que há mais acessíveis, não o sendo na verdade, são em regra de má qualidade. Como resolver numa legislatura?
Precisamos de construir e reabilitar mais imóveis para habitação a custos acessíveis, utilizando, por exemplo, construções modulares, que são mais baratas e rápidas de construir. Isto implica recuperar edifícios camarários que estejam devolutos ou que tenham outras utilizações, e transformá-los para habitação acessível. Carlos Moedas travou os projetos que herdou e desperdiçou recursos, são exemplos muito concretos os PRA do Restelo, Benfica e Parque das Nações. A câmara deve ainda exercer mais vezes o direito de preferência para adquirir imóveis para colocar no mercado a custos acessíveis. Em quatro anos é possível fazer muito se houver vontade de fazer. Lisboa é hoje uma cidade adiada.

Lisboa registou resultados líquidos negativos nos últimos dois anos, com um prejuízo de quase 10 milhões de euros em 2024. Que medidas concretas propõe para inverter esta tendência e garantir a sustentabilidade financeira da autarquia?
A sustentabilidade financeira faz-se com rigor, mas também com estratégia. A câmara perdeu capacidade de atrair investimento, dispersou-se em propaganda e projetos avulsos. Vamos rever prioridades, cortar na despesa inútil (por exemplo em propaganda municipal) e apostar em projetos que gerem valor para a cidade, com planeamento e visão.

Como pretende reduzir a dependência de receitas voláteis e evitar o recurso recorrente a empréstimos, que aumentam o passivo da câmara?
Vamos procurar apostar na reorganização orgânica do município e do setor empresarial municipal – Carlos Moedas nada fez nesta matéria – garantindo ganhos de escala e de eficiência que protejam o município de ciclos económicos desfavoráveis, com uma política financeira prudente. É preciso reforçar a gestão patrimonial do município, orientada para as políticas de habitação, e garantir um planeamento financeiro que evite o recurso sistemático ao endividamento.

Dado o aumento de 52 milhões de euros na dívida e de 120 milhões no passivo em 2024, quais são os planos para controlar o endividamento municipal?
O investimento público será feito com critério e planeamento, com responsabilidade. Não por ciclos mediáticos, mas sim alinhado com um plano de médio e longo prazos, permitindo melhores condições de financiamento. Vamos avaliar contratos, renegociar quando necessário e garantir que cada euro investido melhora efetivamente a vida dos lisboetas, incluindo nas empresas municipais. Os resultados orçamentais de Carlos Moedas são muito preocupantes, revelam descontrolo, sem que seja visível em que é que o dinheiro foi gasto. Onde está a melhoria de qualidade de vida dos lisboetas? Pelo contrário, a qualidade de vida na cidade piorou.

Vai rever a política fiscal?
A política fiscal municipal deve ser avaliada com equilíbrio, tendo em conta a justiça social, a atratividade da cidade e a sustentabilidade financeira a médio e longo prazos. A política fiscal a nível local deve ser encarada na sua globalidade. Promoveremos essa visão de forma ponderada e dialogada.

Lisboa ocupa atualmente o 39.º lugar no ranking Mercer de qualidade de vida, atrás de cidades como Viena, Zurique e Munique, mas à frente de Paris, Londres e Madrid. Que indicadores considera prioritários para melhorar a posição de Lisboa nestes rankings internacionais?
Habitação acessível, mobilidade eficiente, espaço público limpo e seguro, serviços de proximidade e cultura diversificada e disponível para todos, segurança de proximidade. Lisboa precisa de uma política urbana coerente, com foco nas pessoas. Lisboa precisa de uma cidade em cada bairro.

A cidade é considerada uma das mais seguras da Europa do Sul, mas enfrenta desafios como o congestionamento de tráfego e limitações na infraestrutura aeroportuária. Que propostas tem para ultrapassar estes pontos negativos e aproximar Lisboa das cidades líderes europeias?
Na mobilidade: mais transporte público, mais faixas BUS, mais e melhores interfaces e corredores rápidos, além de semaforização moderna com uso de inteligência artificial (ainda ontem visitei a Carris e foi-me relatado que os atuais semáforos não permitem maior fluidez da circulação). Vamos implementar a gratuitidade dos transportes públicos para residentes; uma medida com impacto direto na mobilidade e também no orçamento das famílias. Quanto ao aeroporto, é essencial que o atual tenha o menor impacto possível na vida dos lisboetas, em termos de ruído e poluição. É urgente começar a preparar o futuro: os terrenos do aeroporto podem ser a base de uma nova cidade, pensada com foco na habitação acessível para as famílias, com espaços verdes e equipamentos coletivos.

A crise na habitação é um dos principais problemas da cidade. Que soluções tem para tornar a habitação mais acessível sem comprometer a sustentabilidade financeira do município?
Reabilitar património público, adquirir imóveis para arrendamento acessível, por exemplo exercendo mais vezes o direito de preferência (mas não só), construir habitação pública, recorrendo também à construção modular, relançar programas de renda acessível e apoio ao arrendamento. É possível fazer tudo isto com financiamento europeu, do Estado e da própria autarquia – basta executar. Sob a gestão de Carlos Moedas, projetos estruturantes para Lisboa que já estavam preparados não saíram do papel e não foram lançadas bases para outros projetos. Veja-se, por exemplo, que não está sequer iniciado o processo de revisão do Plano Diretor Municipal, que já devia ter sido revisto em 2022.

Lisboa foi considerada uma das cidades mais caras do mundo para viver. Que medidas concretas propõe para inverter esta tendência sem comprometer o desenvolvimento económico da cidade?
Habitação pública, regulação do alojamento local, incentivos ao arrendamento de longa duração, contenção da especulação. Ao mesmo tempo, apoio às famílias nas rendas, nos transportes e serviços básicos, além de mais creches e jardins de infância públicos ou em parceria com privados e com IPSS. O custo de vida não se baixa com discursos, mas com políticas concretas.

Lisboa e Portugal continuam a ser criticados pelo excesso de burocracia, que limita a competitividade, atrasa investimentos e complica a vida de pessoas e empresas. O que fazer?
Simplificação de processos, digitalização dos serviços, transparência nos prazos e criação de uma estrutura dedicada a agilizar licenciamentos, especialmente na área da habitação e da atividade económica. O Executivo anterior deixou iniciado o processo de desmaterialização de gestão urbanística, mas o Executivo de Carlos Moedas não avançou. A governança da cidade, que inclui a simplificação administrativa, será seguramente um dos pontos do nosso programa. Queremos uma cidade onde os processos são rápidos, previsíveis e acessíveis a todos, com a utilização da inteligência artificial.

A segurança urbana tem sido apontada como ponto forte de Lisboa. Que medidas propõe para reforçar a segurança. Pensa que é preciso ou há muita demagogia sobre este assunto?
A segurança é uma prioridade. Não posso acompanhar o discurso alarmista daqueles que preferem ignorar as evidências e os números, mas tenho dito muitas vezes que, havendo um aumento da perceção de insegurança dos lisboetas, esse aumento deve merecer em si mesmo a nossa atenção e a adoção de medidas concretas. Vamos fazer tudo para aumentar o número de agentes da Polícia Municipal, reforçar o policiamento de proximidade, melhorar a iluminação pública, instalar câmaras de videovigilância e investir nos bairros vulneráveis com políticas sociais e urbanas integradas. Carlos Moedas fala muito de segurança, mas não age: o número de agentes da Polícia Municipal está no valor mais baixo dos últimos anos (412), as lâmpadas LED prometidas na campanha eleitoral não existem e das 216 câmaras de videovigilância que o anterior Executivo deixou licenciadas, quatro anos depois, estão instaladas 64.

O congestionamento rodoviário e a oferta de transportes públicos são pontos a melhorar. Que investimentos ou reformas considera prioritários?
Reforço da frota da Carris, alargamento da rede e dos horários, criação de parques dissuasores, corredores BUS, mais interfaces e investimentos coordenados com a área metropolitana, por exemplo, melhorar a articulação entre a Carris e a Carris metropolitana. Temos propostas concretas e realistas nesse sentido. Nestes quatro anos apostou-se quase exclusivamente no carro particular, com grande prejuízo para o ambiente e para a transição climática.

Lisboa lidera as reclamações nacionais relativas à falta de recolha de lixo e limpeza urbana….
Mais equipas de recolha, empresarializar o sistema de gestão (mantendo o serviço público), modernizar o sistema de limpeza e melhorar a articulação com as Juntas de Freguesia. Deixo uma palavra aos trabalhadores da higiene urbana, que fazem um ótimo trabalho, mas é preciso melhor gestão por parte do município. Garantir a limpeza da cidade é uma tarefa fundamental, na qual Carlos Moedas tem falhado rotunda e repetidamente.

Os empresários genericamente receiam que seja muito à esquerda. Vai, por exemplo, limitar mais o alojamento local?
O problema é o excesso de AL, muitos deles ilegais, e a falta de regras. Não sou contra o AL, sou contra o descontrolo. Vamos regulamentar, fiscalizar, limitar em zonas críticas. Quem investe com regras não tem nada a temer. O que queremos é uma cidade para viver, não só para visitar. O turismo é uma atividade económica fundamental para a cidade, mas é preciso melhorar a qualidade do turismo, descentralizar a sua localização e garantir que não põe em causa, de forma intolerável, a qualidade de vida dos lisboetas. Os empresários nada têm a recear, pelo contrário, também beneficiarão com uma cidade com planeamento estratégico.

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