A Inteligência Artificial (IA) é aplicada e necessária nos mais variados sectores económicos, da tecnologia – de onde é nativa – à saúde ou à banca. Porém, a utilização de processos de automação ou de sistemas próximos ao raciocínio humano requer, além de investimento financeiro, recursos humanos altamente qualificados. É neste ponto que tecnológicas, instituições financeiras e hospitais estão de acordo: escasseiam pessoas especializadas em IA.
“É importante que todos falem a mesma língua e que tudo o que é feito de novo possa ser já a pensar no que é pode ser a aplicação futura. Ó único problema que temos neste momento é que não há gente suficiente no mercado que saiba efetivamente de IA. Encontrar pessoas disponíveis para vir trabalhar é um problema que temos tido para conseguir fazer mais”, advertiu Francisca Leite, diretora executiva do Hospital da Luz Learning Health na conferência “Inteligência Artificial: Do laboratório à sociedade”, que foi transmitida esta quinta-feira a partir da sede do BNP Paribas, em Lisboa.
Rui Lopes, gestor técnico de IA na tecnológica Critical Software, é cético quanto à substituição dos empregos dos humanos pelas máquinas, porque ao investir na analítica, ciência de dados, IA e Big Data está-se também a criar novos postos de trabalho, mais especializado, e oportunidades de formação ou requalificação. A seu ver, os robôs são um apoio à decisão. O manager da Critical Software começa por explicar que a IA parte de uma definição filosófica, que poderia estar duas horas a ser debatida, mas consiste em sistemas que conseguem deduzir comportamentos próximos dos humanos. Porém, é composta por duas vertentes: a IA fraca, a que está no dia a dia das pessoas e das empresas e hoje é “ganha-pão”, e a IA forte, que ainda não passa de uma “inspiração”. “Ainda estamos longe”, assegura.
Então, que utópica IA é essa que extravasa os algoritmos com que nos deparamos nas rotinas diárias e nos quais as organizações investem anualmente? “Ainda não há sistemas capazes de fazer isto que estamos aqui a fazer: a falar abertamente de temas, apesar de haver uns que se aproximam”, sintetiza Arlindo Oliveira, professor catedrático do Instituto Superior Técnico. E vai mais além: a lacuna da autosupervisão da IA, ou seja, sistemas que conseguem aprender o suficiente simplesmente olhando para o mundo (para os dados) sem ter sempre alguém a dizer à máquina o que fazer. O docente académico exemplifica com as crianças e adolescentes à medida que vão crescendo e deixam de precisar dos pais a qualquer momento a alertar ou a explicar que se puserem as mãos numa superfície quente queimam-se.
“Hoje, os algoritmos simplesmente são treinados em dados de uma maneira supervisionada, como por exemplo Covid-19 numa radiografia, mas alguém lhe disse que essa radiografia tem Covid-19. A ideia aqui é que o algoritmo aprenda por si o que é um pulmão normal e outro não, sem um médico por trás”, detalha ao Jornal Económico (JE). Arlindo Oliveira diz que esta é uma tecnologia que está a ser testada por todas as grandes empresas e universidades do mundo e “Portugal está nessa liga”. “As nossas universidades de Lisboa, Porto e Coimbra têm grupos de investigação, incluindo o meu, a trabalhar nisso. É uma área conhecida, há muito desafio à volta dela e ninguém sabe exatamente como fazê-lo”, reconhece. Mais desenvolvimentos? Só nas “próximas décadas”.
Portanto, os oradores concluem que neste momento a IA é essencialmente análise de dados (através de informação recolhida, fazer analítica e extrair externos que permitam tirar conclusões) e automação (digitalizar tarefas monótonas que até há uns anos eram feitas por seres humanos) alertam os cidadãos e empresários não a confundirem com a nuvem (cloud) ou com a descentralização da blockchain.
No ramo financeiro, Diogo Malato Moura, responsável de Mercados Globais no BNP Paribas Portugal, dá o exemplo da aplicação que é utilizada para detetar comportamentos anormais que possam prevenir o branqueamento de capitais e do software por trás das chamadas telefónicas, que interpretam as necessidades do cliente/colaborador e a transformam numa ordem.
Já na saúde, Francisca Leite admite que o que está a ser posto em prática “não é assim tanto” quanto o sector apreciaria, dada a quantidade de regulação, contudo os robôs começam a entrar de mansinho nas salas de consultas e cirurgias. “A evolução nem sempre é tão rápida, mas existe muita IA entregue em sítios que nem percebemos, como a monitorização de imagem das máquinas de ressonâncias magnéticas e TAC, e depois existem os modelos de apoio à decisão. A substituição total de um médico ou enfermeiro ainda não temos, mas já começam a dar-se muitos passos por aí”, afirma a executiva do Hospital da Luz, no debate moderado por Diogo Malato Moura, do BNP Paribas.
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