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Algoritmos já concedem crédito

Bancos e FinTech entraram num jogo de soma positiva, inovando o modelo de negócio. Tudo em nome da satisfação dos consumidores.
3 Março 2019, 20h00

O futuro da Caixa Geral de Depósitos (CGD) é assegurado no laboratório digital. Dividido em várias secções, como a análise de risco, o crédito ao consumo, crédito à habitação ou gestão de empresas, cerca de 100 pessoas contribuem para a transformação digital da Caixa. Nas paredes lê-se, um pouco por todo o lado, a frase “done is better than perfect”, de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook.

“O objetivo é fazer com que a Caixa assegure a sua posição de liderança neste mundo novo que já chegou à banca”, assegura Rui Soares, responsável máximo pela banca digital da CGD. “Não se trata de garantir a sustentabilidade de curto prazo, mas potenciar o que nos trouxe até aqui com a nova mudança de paradigma”, frisou. A CGD tem cerca de 1,4 milhões de clientes ativos no digital.

A banca, em profunda mutação, já não está apenas nos balcões. Está agora também na internet e nas apps dos nossos smartphones. “Está onde o cliente quiser”, disse Rui Soares.

Ao contrário da CGD, há bancos que já nasceram digitais. O BNI Europa é “um banco digital, focado em nichos de mercado e que vai ao encontro de necessidades que ainda não estavam a ser atendidas pelos bancos tradicionais”, explicou Pedro Pinto Coelho, CEO do banco. O BNI nunca abriu balcões e, “como não tinha o legado dos bancos tradicionais, passou logo a ser um challenger bank”, disse o CEO.

Além da app que permite a abertura de conta, os cerca de 17 mil clientes do BNI conseguem gerir as suas contas com o dedo indicador. Com o ‘Puzzle’, a solução de crédito do banco, os clientes conseguem obter financiamento a qualquer hora, 24h/7dias, processado por softwares inteligentes, numa “experiência totalmente digital”, frisou Pinto Coelho. Em apenas dez minutos “conseguimos identificar o cliente, analisar o perfil de risco e assinar o contrato de crédito digital, sem que o cliente precise de assinar um só papel”, disse. Como é que isso faz? “Através de um algoritmo que define se devemos ou não conceder o crédito”, explicou.

A CGD também consegue ser ágil, trabalhando em soluções semelhantes. “A decisão automatizada de crédito está para breve”, revelou Rui Soares, que promete não ficar por aqui. “Brevemente teremos uma solução de levantamento de dinheiro através de uma app, como o MB Way”.

A mudança de paradigma da banca passa pelo “totalitarismo do consumidor”, como lhe chamou Rui Soares. “Por via da tecnologia, o consumidor tem um poder como nunca antes teve, e isso determina como [os bancos] vão prestando serviços”, explicou. Através da tecnologia, isto significa colocar no mercado produtos mais convenientes para os consumidores.

A adaptação dos modelos de negócio dos bancos às novas tecnologias também passa pelas parcerias com as FinTech. “Se há uma solução que tem uma melhor experiência para o cliente e a um custo mais barato, há que incorporá-la”, salientou o diretor da CGD. “Nunca tive a visão que as FinTech constituem uma ameaça”, disse.

Do mesmo jeito, o BNI “tem muito interesse em fazer parcerias com as FinTech”, assegurou Pinto Coelho. “A ideia é fazer a seleção de uma determinada FinTech que traga alguma tecnologia que nós não temos”.

O BNI fez mais de 18 parcerias com as FinTech que operam no mercado de crédito, em quase toda a Europa.”São empresas digitais que originam crédito de forma digital junto de particulares ou de empresas”, explicou o CEO.

Na área dos depósitos, o BNI também estabeleceu parcerias com FinTech que “permitiram angariar clientes de outros países, como a Alemanha, Holanda e Áustria”, revelou Pinto Coelho. “Isto permitiu fazer crescer o balanço de forma rápida e fora de Portugal”.

O futuro é, por natureza, incerto. Mas, para se ter um vislumbre sobre o que será o futuro do setor financeiro, pode olhar-se para a China, onde existem 500 milhões utilizadores de pagamentos móveis, que contrastam com os cerca de 200 milhões de utilizadores de internet banking. “Na China, é possível viver sem um renminbi na carteira durante meses; só é preciso ter um smartphone”, disse Rui Soares. “A bancarização deles foi feita pelos pagamentos móveis, não foi por bancos tradicionais: foi feita pelo Alipay e pelo Wechat Pay”, explicou.

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