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Alunos da Universidade de Coimbra testam Covid-19 virtualmente

Estudantes de Medicina da Universidade de Coimbra usam ferramenta de ensino a distância para assistirem pacientes virtuais infetados com o novo coronavírus. A tecnologia é portuguesa e está disponível no mundo.
28 Março 2020, 11h15

Catarina Dourado, aluna do 4º ano de Medicina da Universidade de Coimbra, não teve de sair de casa para mergulhar na realidade do doente infetado com o novo coronavírus. No conforto do sofá testou-se num Caso Clínico Virtual desenhado na Universidade de Coimbra e disponibilizado pela Body Interact, uma plataforma inovadora mundialmente, desenvolvida pela empresa Take The Wind. Fez tudo através do computador portátil.

Nesta aula virtual, em que assistiu um paciente com Covid-19, aplicou conhecimentos adquiridos anteriormente na sala de aula. “Tudo se passa como se fosse uma consulta. Chega-nos o doente, temos que identificar os sintomas e a seguir tratá-lo”, explica ao Jornal Económico a também presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina da Associação Académica de Coimbra.

O caso que Catarina resolveu teve, como acontece em milhares de situações reais em todo o mundo, o pior desfecho. O homem de 57 anos entrou em paragem cardiorespiratória.

Na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra há 2.754 estudantes, dos quais 2.209 alunos dos mestrados integrados de Medicina e de Medicina Dentária. Tal como Catarina Dourado, todos têm acesso ao Caso Clínico Virtual sobre Covid-19. A porta da Body Interact está igualmente aberta a qualquer estudante de Medicina de qualquer universidade portuguesa ou estrangeira que se inscreva na plataforma, revelou Pedro Pinto, CEO da Take The Wind, ao Jornal Económico.

“Este Caso Clínico Virtual é muito mais do que uma aula interativa. Simula um doente que responde às perguntas, apresenta alterações à auscultação e restante observação, permite realizar exames de diagnóstico, prevenir mais contágios e até melhora quando são aplicados os tratamentos certos”, explica Tiago Alfaro, professor da Faculdade de Medicina de Coimbra e especialista em Pneumologia, que desenhou o caso em colaboração com o professor Filipe Froes, do Centro Hospitalar Lisboa Norte.

A Covid-19 é o último caso a integrar o portefólio da Body Interact, que Pedro Pinto define como o “simulador de voo da Medicina”. No total são já 18, desde cardiologia, neurologia e trauma a pediatria, obstetrícia e cancro, usando sempre o mesmo sistema fisiológico – o ser humano. O programa de casos clínicos virtuais é coordenado pelos professores Pedro Narra Figueiredo e Filipe Caseiro Alves, responsável do Mestrado Integrado em Medicina.

Aos Casos Clínicos Virtuais sobre pacientes suspeitos de estarem infetados pelo novo coronavírus juntam-se outras soluções de ensino à distância que a faculdade tem desenvolvido em parceria com a Take the Wind. Objetivo? Mitigar efeitos negativos da suspensão das aulas presenciais no âmbito da aplicação do Plano de Contingência para prevenção e contenção de Covid-19.

Segundo Carlos Robalo Cordeiro, Diretor da Faculdade de Medicina da UC, “o recurso à Simulação Biomédica e aos Casos Clínicos Virtuais tem sido progressivamente implementado no ensino-aprendizagem do Mestrado Integrado de Medicina, como ferramenta de grande utilidade no desenvolvimento do raciocínio clínico dos estudantes”. De referir que, fora do contexto do caso Covid-19, a plataforma está disponível para os alunos do 6.º ano de Medicina durante o ano letivo.

A Body Interact conta com engenharia, design e produção 100% portugueses. Pedro Pinto explica ao Jornal Económico que “a plataforma permite o encontro dos alunos com pacientes virtuais que reagem como pacientes reais, devido a um algoritmo fisiológico que demorou anos a desenvolver e que continua em permanente evolução”.

O estudante, ou o médico é confrontado com um doente que tem um problema, como se fosse real. Dispõe dos meios para interagir com o paciente, desde optar por medicações até fazer intervenções. “Pode tomar decisões num ambiente de simulação, o que lhe permite treinar e errar sem prejuízo”, explica.

Antigamente, para se ganhar ‘tarimba’ como médico era preciso estar exposto a situações reais, e isso levava tempo. Hoje, testar virtualmente doenças em doentes virtuais é incontestavelmente um grande passo no ensino da medicina.

Artigo publicado no Jornal Económico de 27-03-2020. Para ler a versão completa, aceda aqui ao JE Leitor

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