Os meses a fio passados em casa durante a pandemia, mesmo que em versão trabalho remoto, foram o gatilho. Não sendo novo, o problema estava parcialmente encoberto.
Álvaro Fernández, diretor-geral da Michael Page Portugal, uma das primeiras empresas a alertar em alta voz para a epidemia que se seguia à epidemia, admite ao Jornal Económico que nos últimos três anos houve um grande avanço na forma como as empresas abordam a saúde mental. “Se há uns anos o tema estava relegado para segundo plano, hoje, com o impacto da pandemia, muitas organizações começaram a reconhecer a importância de criar políticas que visam apoiar o bem-estar emocional dos seus colaboradores”. Não só.
Além de maior consciencialização, muitas empresas em Portugal, diz Álvaro Fernández, começaram a adotar medidas para monitorizar e melhorar a saúde mental dos colaboradores, como programas de apoio psicológico, formação para líderes em gestão de stress, e a promoção de um ambiente de trabalho mais inclusivo e empático”.
O gestor, faz, no entanto, duas ressalvas: alguma resistência em alguns setores mais tradicionais e nem todas as empresas estão no mesmo nível de desenvolvimento nesta área. O esforço tem sido liderado pelas multinacionais e pelas empresas com culturas mais modernas.
Em Portugal, os principais problemas identificados pela Michael Page nas empresas incluem o burnout, a pressão para atingir metas irrealistas, a falta de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e o ambiente de trabalho tóxico, que resulta, em alguns casos, de uma cultura de microgestão. A falta de abertura na comunicação e a relutância em discutir questões de saúde mental também continuam a constituir-se como barreiras.
Álvaro Fernández cita estudos recentes que indicam que uma parcela significativa da força de trabalho em Portugal — cerca de 30 a 40% — admite já ter enfrentado questões relacionadas com a saúde mental no ambiente de trabalho, nomeadamente stress crónico, ou burnout. “Este número é preocupante, uma vez que muitos colaboradores têm ainda dificuldade em reconhecer ou comunicar os seus problemas de saúde mental, por receio de serem estigmatizados”, salienta.
O diretor-geral da Michael Page Portugal diz os custos associados à saúde mental, em termos de produtividade, são substanciais. “Estima-se que o absentismo, o presenteísmo (o colaborador está fisicamente presente, mas com baixa produtividade devido a problemas de saúde mental) e o turnover, associados a questões de saúde mental, podem custar às empresas portuguesas, anualmente, milhões de euros. O impacto em termos de perda de produtividade pode chegar aos 4 a 6% do PIB, de acordo com estimativas globais, e Portugal não está imune a esta realidade”.
Por tudo isto, garante Álvaro Fernández: “O tema da saúde mental tem de ser encarado como uma prioridade contínua nas empresas. Promover ambientes de trabalho saudáveis é, não só uma questão de bem-estar, mas também de performance e sustentabilidade das próprias organizações”.
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