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Álvaro Santos Pereira herda banco central com prejuízos

O novo Governador chega ao Banco de Portugal, numa altura em que os resultados são negativos, sem gerarem dividendos para o acionista. A pacificação interna será um desafio.
25 Julho 2025, 07h37

Álvaro Santos Pereira vai ser o Governador do Banco de Portugal para os próximos cinco anos e herda uma era de resultados negativos do banco central. Os prejuízos não comprometem a capacidade de cumprir a sua missão, mas, no caso do Banco de Portugal, impede-o de dar dividendos ao acionista Estado.

Os bancos centrais têm reportado prejuízos, como é o caso do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco de Portugal, principalmente devido ao aumento das taxas de juro, pois os bancos centrais pagam mais pelos depósitos dos bancos comerciais e recebem menos juros pelos empréstimos que concedem.

Por outro lado, um dos mais delicados desafios de Álvaro Santos Pereira no Banco de Portugal será a pacificação interna. Álvaro Santos Pereira é tido, por quem o conhece, como um reformista, que “quer sempre mudar os sítios onde chega”. O que poderá ser um choque numa casa que é “muito posta por ordem,” como é o Banco de Portugal. A seu favor diz-se que “é uma pessoa muito fácil para se trabalhar”.

Uma das principais tarefas vai ser decidir se mantém ou não o contrato com a Fidelidade para a nova sede do Banco de Portugal, que gerou polémica nos últimos dias. O Ministro das Finanças ordenou à IGF a abertura de uma auditoria ao negócio de 191,99 milhões de euros.

Depois, e uma vez que a supervisão bancária, está no essencial no BCE, o Governador do Banco de Portugal acaba por ter um papel mais visível por se sentar no Conselho de Governadores do BCE que decide o rumo da política monetária. Mário Centeno era tido como um “Governador pomba”, que designa os que são a favor de mais alívio monetário para não prejudicar a economia real, por contraste com os “falcões” que defendem uma política de austeridade monetária. Mas não se conhece o que pensa Álvaro Santos Pereira sobre a política monetária.

O que à primeira vista parece ser um grande desafio é o seu “desconhecimento” do setor financeiro, pois não se lhe conhecem cargos neste setor. O ministro da Presidência, António Leitão Amaro, após a indigitação, referiu-se a Álvaro Santos Pereira como “o economista principal de uma das organizações principais da economia mundial. É um profundo conhecedor da economia portuguesa, um profundo conhecedor da economia internacional, conhecedor do sistema financeiro“.

Depois, e num contexto em que a Comissão Europeia se prepara para ajustar o papel da banca para que possa apoiar a União de Poupança e Investimento, nomeadamente o desenvolvimento da união do mercado de capitais, será interessante ver se vai expressar apoio ao programa liderado pela comissária Maria Luís Albuquerque.

No setor bancário os olhos serão postos no “level playing field” com as entidades que prestam serviços bancários mas que não são bancos.

Vítor Bento, presidente da APB, disse ontem ao programa da Antena 1/Jornal de negócios, que “é essencial que o novo Governador esteja aberto a ouvir, que tenha bom senso e sensibilidade para os problemas essenciais”, ao mesmo tempo que manifesta a disponibilidade da banca para “colaborar” com o novo Governador “para a defesa dos interesses do país, melhorando a competitividade da economia e do sector bancário”.

Álvaro Santos Pereira não foi a primeira escolha, mas sendo a última é quem tem de gerir o barco nos próximos cinco anos.

PS reage
O secretário-geral do Partido Socialista, José Luís Carneiro disse que se trata de uma “decisão negativa” e que “é a primeira vez em muito tempo que se quebra o compromisso histórico”, na medida em que Mário Centeno não foi reconduzido a um segundo mandato. Em declarações prestadas aos jornalistas, o próprio sublinhou que garantiu que esta é uma “decisão estritamente política”.

BPI quer “agregador” do setor financeiro e CGD elogia “regresso ao país”

O  CEO da CGD, Paulo Macedo, e o CEO do BPI, João Pedro Oliveira e Costa, comentaram a escolha do novo Governador do BdP. O CEO do BPI tem “a expectativa que o novo Governador continue a ser um fator agregador do sistema financeiro” e espera que “questione e queira continuar a melhorar e a simplificar”, pois “o país tem vantagens em ter um BdP que entenda e defenda o sistema financeiro português”.

Já o CEO da CGD destacou o facto “um dos mais reputados economistas portugueses que ocupa, por concurso internacional um dos lugares mais prestigiado de economista chefe (OCDE), estar disponível para voltar para Portugal para servir o país”.

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