Os EUA decidiram aplicar, a partir do final de setembro, uma taxa de 10% sobre quase 6.000 produtos chineses, que representam 200 mil milhões de dólares (171 mil milhões de euros). A China respondeu na mesma moeda, taxando produtos norte-americanos no valor de 60 mil milhões de dólares (51 mil milhões de euros). Já em junho, Washington havia imposto taxas de 25% sobre 50 mil milhões de dólares (43 mil milhões de euros) de importações chinesas, tendo Pequim retaliado com impostos sobre o mesmo montante de bens dos EUA.

Estes sucessivos aumentos de taxas alfandegárias refletem uma perigosa escalada na guerra comercial entre os EUA e a China, que não é mais do que uma reação canhestra da administração Trump à perda de competitividade da economia norte-americana face à chinesa, nomeadamente nos setores de maior valor acrescentado. Washington receia que a China se transforme numa potência tecnológica, em virtude do desenvolvimento que o país tem vindo a registar em áreas como a inteligência artificial, a robótica, as energias renováveis e a mobilidade elétrica.

Os EUA têm razão em verberar a falta de abertura do mercado chinês e os fortes apoios que o governo de Xi Jinping dá às empresas domésticas, gerando uma concorrência desleal no comércio internacional. Mas não se responde ao protecionismo com mais protecionismo, pois todos perdem com uma guerra comercial. Os impactos negativos de um conflito desta natureza vão muito para além dos EUA e China, afigurando-se como um sério risco ao crescimento da economia global.

A história ensina-nos que as disputas comerciais não se resolvem com posições de força unilaterais. Importa, pois, encontrar plataformas de entendimento multilaterais, sendo a Organização Mundial do Comércio (OMC) o fórum mais adequado a este tipo de negociações. Acontece, porém, que Donald Trump desvaloriza (quando não hostiliza abertamente) as instituições multilaterais, enquanto a China tem sido acusada de violar as regras da OMC, nomeadamente por parte da UE.

Sendo certo que a tensão entre as duas maiores potências comerciais configura um risco para a economia mundial, também é verdade que algumas oportunidades se abrem para quem está de fora da disputa sino-americana. O governo chinês anunciou que, já em outubro, vão ser reduzidas taxas sobre produtos de vários parceiros comerciais do país. Entre esses parceiros está a UE, que tem assim o ensejo de aumentar o peso das suas exportações no apetecível mercado chinês.

Como lembrava recentemente o comissário europeu Carlos Moedas, a guerra comercial com os EUA pode servir para aproximar a UE da China, com vantagens comerciais para os Estados-membros. Portugal, que tem uma relação histórica com a China de mais de cinco séculos e que nos últimos anos captou significativo investimento chinês, pode ter neste novo quadro geoestratégico uma janela de oportunidade.