Analistas moçambicanos defenderam à agência Lusa o diálogo com Venâncio Mondlane como uma solução a curto prazo para o fim das manifestações em Moçambique, considerando-o o “ator” que consegue “ligar e desligar” os protestos.
“Havendo tanta popularidade do Venâncio, sendo ele o ator que consegue ligar e desligar estes protestos, sendo o único ator que a população segue, eu acho que ele tem de ser incluído em qualquer mesa de negociação. Isso é óbvio já há muito tempo”, disse, em declarações à Lusa João Feijó, analista e pesquisador moçambicano.
Feijó defende, a curto prazo, o diálogo e discursos “menos incendiários” para pôr fim à crise pós-eleitoral em Moçambique, referindo que o Presidente da República, Daniel Chapo, tem responsabilidades acrescidas, além da responsabilidade de chamar Venâncio Mondlane à mesa de negociação.
“O importante é baixar a temperatura e para baixar a temperatura é preciso diálogo, é preciso discursos menos incendiários e o Presidente da República tem responsabilidades, sendo ele a governar, é dele que se espera a iniciativa para resolver isto”, referiu o pesquisador.
Para João Feijó, o ex-candidato presidencial é visto como um “messias” e o povo segue-o “de uma forma cega”, considerando, por isso, que ao excluí-lo do diálogo “estão a exaltá-lo perante o povo” e estão a dar-lhe “mais prisma e mais força”.
“É preciso incluí-lo nessa mesa de negociações, não há como não incluir. Tem de ser acarinhado se é que queremos serenar os ânimos deste país”, afirmou o analista.
“Nós achamos, honestamente, que não são aquelas figuras que estão ali com o Presidente Chapo, na mesa do diálogo, que vão resolver os problemas do país. As pessoas olham para Venâncio Mondlane como o representante delas, o povo está a olhar para Venâncio Mondlane como o seu legítimo representante, portanto, excluir também Venâncio Mondlane do diálogo não me parece que nós possamos conseguir a paz em Moçambique”, disse à Lusa André Mulungo, jornalista e editor no Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDD) de Moçambique.
Mulungo defende um diálogo “genuíno, sem armadilhas e o mais inclusivo possível” para o fim da crise pós-eleitoral em Moçambique, com a participação também da academia, organizações da sociedade civil e líderes religiosos, além dos partidos políticos que já têm estado na mesa de conversações.
“O Presidente Chapo diz que quer a independência económica de Moçambique, quer desenvolver o país, [mas] não se desenvolve nenhuma sociedade num cenário de instabilidade, de guerra, como está a acontecer em Moçambique neste momento”, referiu o analista, considerando “pouco inteligente” adiar o diálogo.
Os analistas convergem no alerta para incertezas, insegurança, caos e destruição da economia moçambicana caso prevaleçam os protestos no país, pedindo, além do diálogo, reformas para aliviar o custo de vida em Moçambique.
“Adiar o diálogo genuíno e inclusivo significa continuarmos a caminhar na incerteza, com um risco real de nós voltarmos para uma guerra civil”, concluiu Mulungo.
Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais de 09 de outubro, que deram vitória a Daniel Chapo.
Atualmente, os protestos, agora em pequena escala, têm estado a ocorrer em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e de outros problemas sociais.
Desde outubro, pelo menos 353 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 3.500 feridos durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.
O Governo moçambicano confirmou pelo menos 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias, durante as manifestações.
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