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André Ventura: “Ao contrário de Passos Coelho não vamos ser o lava-lençóis do PS”

Discurso de encerramento da terceira convenção do Chega ficou marcado por ameaças à esquerda e avisos ao PSD, terminando em tom de elevada dramatização: “Talvez uma bala possa um dia terminar com a minha vida, mas não terminará com este projeto.”
  • André Ventura
30 Maio 2021, 21h36

O presidente do Chega, André Ventura, encerrou a terceira convenção do seu partido com um discurso em que apontou a responsabilização da esquerda como traço distintivo entre o governo que espera formar e anteriores executivos de centro-direita. “Ao contrário de Pedro Passos Coelho e de outros governos do PSD não vamos ser o lava-lençóis do PS”, disse o líder partidário após a sua lista para a direção nacional ser aprovada por mais de 80% dos congressistas.

“De Mário Soares a José Sócrates, passando pela crise em que nos está a deixar António Costa, há uma coisa em comum: todos nos levam à ruína e chamam a direita para resolver. Desta vez vai ser diferente”, garantiu Ventura, que se referiu ao congresso realizado durante o fim-de-semana em Coimbra como o último “antes de enfrentar a luta derradeira pelo governo de Portugal” e aquele em que foram eleitos os órgãos sociais que levarão o partido “à construção de uma alternativa” com essa finalidade.

Numa longa intervenção que terminou com um toque de elevada dramatização – “talvez uma bala possa um dia terminar com a minha vida, mas não terminará com este projeto e esta força enorme que é o Chega” -, Ventura deixou alguns recados internos, garantindo que o seu partido “não cede a jogos de bastidores feitos contra a sua direção e a sua liderança”. Mas sobretudo para o centro-direita, deixando claro que “nunca seremos uma muleta do PSD”, ironizando que “nem vou dormir hoje à noite” por os sociais-democratas terem cancelado a sua presença no encerramento da convenção devido a menções que dizem ter ultrapassado “todos os limites da decência”.

Ainda assim, por entre promessas de que o Chega “não se irá moderar na luta contra a corrupção”, na exigência de que “as minorias sejam tratadas de forma igual à maioria que trabalha e paga impostos” ou na luta contra a “censura dominante com o único objetivo de tentarem controlar o que não conseguiram impedir”, o líder partidário apontou sobretudo contra o PS e contra a “geringonça”, que “transformou o nosso país numa espécie de esgoto a céu aberto”.

Especialmente na mira esteve o Bloco de Esquerda, ao qual acusou de ter deputados que deram moradas falsas para obterem subsídios na Assembleia da República, sem esquecer os ‘casos’ que envolveram o ex-vereador lisboeta Ricardo Robles, “envolvido em especulação imobiliária”, e o deputado Luís Monteiro, que recuou na candidatura à Câmara de Vila Nova de Gaia e saiu da comissão executiva do partido após ser acusado de agredir uma ex-namorada. “O Bloco tanto criticava a violência doméstica, mas quando tocou a um deputado deles disse que ele é que era a vítima”, disse Ventura.

António Costa no poder “por causa” do Chega

Quanto ao Governo “que se está a desfazer aos bocados”, André Ventura disse que António Costa tem “uma única razão” para manter os seus ministros. “São apagados, incompetentes e não lhe fazem frente”, disse o presidente do Chega, apontando incapacidade de garantir médico de família para 900 mil portugueses à ministra da Saúde, Marta Temido, enquanto que do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, disse que “se tivesse um pingo de dignidade aproveitaria para sair de cena sem ninguém dar por isso”. E apelou a que “alguém cercasse o Ministério com a palavra ‘vergonha'”.

Paradoxalmente, Ventura disse aos congressistas que o Chega está a ser o garante da permanência de António Costa no poder, garantindo que “muitos não querem eleições” para que o seu partido não traduza os resultados das sondagens no número de deputados. “Este Governo minoritário e incompetente não teria durado tanto se não fosse pelo Chega. António Costa sabe que quer ir para um tacho dourado na Europa, mas sabe que no dia em que este Governo cair seremos a força emergente em Portugal”, disse.

“O medo que eles têm é muito grande. Se com Passos Coelho houve um primeiro-ministro socialista preso, talvez com André Ventura houvesse vários dirigentes de partidos de esquerda presos pela simples razão de que roubaram o país até ao tutano”, disse o líder do Chega, para quem é impossível Portugal aguentar mais quatro anos de ‘geringonça” e as eleições presidenciais vieram mostrar que “há uma única força capaz de combater a esquerda”.

Algo que, em sua opinião, se materializará já nas próximas autárquicas, para as quais “parte com o objetivo claro de ser a terceira força política em Portugal”. Trata-se de combate eleitoral coordenado pelo seu ex-vice-presidente Nuno Afonso, também candidato à Câmara de Sintra, e cujo nome não foi referido (tal como os dois outros dois ex-vice-presidentes) por Ventura no discurso de encerramento da convenção.

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