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André Ventura: “Repudio veementemente o apoio da extrema-direita”

Para o candidato do PSD à Câmara Municipal de Loures, a segurança é uma prioridade política. “Loures não pode ficar uma espécie de Texas da área metropolitana de Lisboa,“ alerta. Também promete criar 10 mil novos empregos e arrancar todos os parquímetros do concelho.
19 Agosto 2017, 10h30

Decidiu candidatar-se à presidência da Câmara Municipal de Loures por iniciativa própria ou foi convidado?
Não, não foi por iniciativa minha. O convite para me candidatar surgiu através de uma conversa com o presidente da concelhia do PSD de Loures que me abordou para a eventualidade de ponderarmos esse cenário. Eu demorei algum tempo a decidir, não foi uma resposta rápida, ponderei os “prós” e os “contras”, nomeadamente o facto de ser comentador desportivo, tendo algum receio de que a discussão do futebol pudesse contaminar o debate político. E o cenário político nacional também, estive um pouco preocupado com isso. Mas depois achei que devia aceitar, dadas as ligações que tenho ao concelho e o facto de conhecer muito bem o concelho e saber os problemas, conhecer bem os problemas que as pessoas de Loures enfrentam todos os dias. Foi assim que aceitei.

Mas tinha a percepção de que seria um desafio muito difícil?
Muito, muito difícil. As eleições ganham-se, é verdade, com o facto de as pessoas conhecerem o candidato. Aí penso que tenho alguma vantagem, no sentido em que as pessoas me reconhecem. Mas isso não basta para ganhar eleições. Tem que haver dinâmica política, aproximação política, clima político. Loures é um dos maiores concelhos do país, não é imune à situação política nacional. E portanto, deixe-me dizer-lhe, sem margem para dúvidas: eu continuo a dizer que este é um desafio extraordinariamente difícil. Já tinha essa percepção inicial e continuo a achar o mesmo.

O convite da concelhia foi motivado pela sua visibilidade mediática, ou pelas ligações que diz ter a Loures?
Eu acho que é um pouco de tudo. Contribuiu o facto de eu ser dirigente nacional do PSD, o facto de a população de Loures me reconhecer, o carinho por mim que eu sinto nas ruas, acho que isso é importante porque cria uma ligação pessoal com o candidato. E contribuiu finalmente as discussões que tivemos, em que falámos sobre várias questões e eu acho que perceberam que eu tenho propostas muito reais para o concelho porque conheço os seus problemas. Nas áreas dos transportes, mobilidade, desemprego, fui o único até agora que disse quantos empregos é que vou criar, fui o único que disse quais são as medidas que vou implementar para os transportes, o que vou fazer em relação à segurança, nomeadamente com a videovigilância, todas estas ideias foram apresentadas às estruturas distritais e locais e eu acho que aí ficou consensual que havia espaço para esta candidatura. E então avançámos.

Quais são os principais projetos ou prioridades da sua candidatura?
Em relação à segurança, eu acho que o meu projeto já é mais do que conhecido. Eu ouvi Bernardino Soares [atual presidente da Câmara Municipal de Loures e recandidato pela CDU] dizer que Loures não tem nenhuma zona que seja um barril de pólvora. Eu não sei onde é que ele vive, sinceramente… Mas eu podia levá-lo a três ou quatro zonas para ver esse barril de pólvora em primeira mão. A nossa proposta em matéria de segurança é muito simples. Primeiro, garantir que não há zonas em Loures onde a polícia não entra ou tem dificuldades em entrar. Isso para mim é inadmissível e portanto a PSP terá que ter aqui um reforço significativo. Nós temos situações em que há um carro operacional da PSP para cada freguesia, isto é uma vergonha num concelho como Loures. E a videovigilância que, como sabe, é uma das nossas principais propostas. Mas não é só isso que marca a nossa candidatura. São também as questões dos transportes, da mobilidade e da educação. Nós temos hoje em Loures extraordinários problemas de mobilidade. Além das questões do metro, que eu acho que o Executivo fez muito pouco e só se lembrou dele agora nas eleições. O trânsito, as dificuldades de mobilidade em Loures são muito significativas. Basta você tentar entrar em Loures ao fim do dia, mesmo em Agosto, mas obviamente ainda pior noutros meses, para ver o caos e o inferno que é. Porquê? Porque não se tem apostado, de facto, numa mobilidade rápida. E o que é que se fez pelo contrário? Em algumas zonas, como em Moscavide e em Loures, ainda se fizeram vias de sentido único, como se aquilo fosse a Nazaré ou o passeio marítimo de Cascais. É vergonhoso aquilo que foi feito.

Está a referir-se à rua da República, em que as ambulâncias e os autocarros têm que subir os passeios e muitas vezes não conseguem passar…
Não conseguem passar porque aquilo parece que foi feito para ser uma zona turística.

E o que tenciona fazer, vai reverter uma obra que custou mais de um milhão de euros?
Reverter. Infelizmente vamos ter mais custos para o erário público, mas isso tem que ser feito. Eu não admito que na zona central de Loures não haja uma mobilidade eficaz, que as ambulâncias não consigam passar, que os pesados tenham dificuldade em passar.

 

Há um problema que as pessoas hoje em Loures identificam muito bem. E vou assumir isto: se eu ganhar, dê-me três meses que isto é para ficar feito, se eu ganhar vou arrancar todos os parquímetros que existem em Loures. Todos, todos, não há um que vá ficar de pé.

 

Na sua perspetiva, essa obra foi o maior erro da gestão de Bernardino Soares em Loures?
Sim, um dos maiores. E outro é o estacionamento. Há um problema que as pessoas hoje em Loures identificam muito bem. E vou assumir isto: se eu ganhar, dê-me três meses que isto é para ficar feito, se eu ganhar vou arrancar todos os parquímetros que existem em Loures. Todos, todos, não há um que vá ficar de pé. E digo-lhe porquê. Porque Loures está um inferno, parquímetros em todo o lado. Olhe, nem é preciso ir muito longe, basta ir à Portela e vê o inferno dos parquímetros. As pessoas não conseguem parar, não têm forma de circular nem de estacionar. Será que isto é possível? Porque é que estamos cheios de parquímetros? É uma questão muito simples, Portugal tem uma das mais insustentáveis taxas de esforço fiscal que impõe aos portugueses e nem o benefício do estacionamento lhes dá. Além de pagar educação, saúde, tudo, também tem que pagar o estacionamento. Portanto, há uma coisa que eu lhe garanto: em Loures, se eu ganhar, não vai haver parquímetros. Nenhum. Vão ser todos arrancados, do concelho todo. Eu acho que os portugueses já pagam impostos a mais para ainda terem esta carga enorme de parquímetros. É uma questão de qualidade de vida. Repare, se eu não tenho estacionamento ao pé da minha casa, ou se tenho que pagar sempre que estaciono ao pé do meu trabalho, ou da escola dos meus filhos, é um inferno. E num concelho como Loures não se compreende. E digo-lhe mais, se eu tivesse poder legislativo, arrancava-os no país todo.

Mas se a rede de transportes públicos for eficaz, as pessoas terão a opção de não utilizar o automóvel todos os dias…
Olhe para Lisboa, lembra-se que o debate nos últimos 20 anos foi sobre o melhoramento dos transportes públicos, para evitar os carros na cidade. Diziam que íamos ter uma rede de metro extraordinária. Olhe para Lisboa, como é que está? Vê menos carros em Lisboa?

No caso de Loures nem sequer há rede de metro…
Nem sequer há metro. Repare, o metro não depende da Câmara Municipal de Loures. Portanto, eu não posso prometer às pessoas que vou dar-lhes o metro, não posso porque não sei se vão dar ou não. Agora há uma coisa que eu posso garantir às pessoas e é isso que um bom autarca deve fazer, deve prometer aquilo que pode dar e não aquilo que não pode dar. E há uma coisa que eu lhes posso dar: uma zona livre de parquímetros. Isso posso dar porque é responsabilidade da Câmara Municipal de Loures.

Além dos transportes e mobilidade, destacou a educação, o que pretende fazer nessa área?
Várias pessoas têm falado comigo, nas minhas visitas ao concelho, sobre as dificuldades que tantas famílias de Loures têm em assegurar as questões de educação dos seus filhos. Bem sei que isto não é só um problema de Loures, é um problema nacional, mas em Loures reflete-se mais por ser um concelho muito grande, com muitas carências e problemas sociais. O que é que nós propomos nesta área? Propomos um cheque-educação que seja atribuído às pessoas que apresentem comprovadas carências. Não é aos que têm barcos de valor superior a 25 mil euros, nem carros, como agora aparentemente o RSI vai ser atribuído. Deve ser para aqueles que têm mesmo carências e dificuldades, para poderem ter um contributo. Eu sei que não é muito, mas é um contributo possível, da Câmara Municipal de Loures, para os estudos dos seus filhos. Nós não podemos dizer às pessoas que os filhos têm que estudar até ao 12º ano e ao mesmo tempo não lhes darmos condições para o fazerem. E depois queixamo-nos do abandono escolar. Podemos pensar que a escolaridade é uma questão nacional, mas não é. Os municípios com mais qualidade de vida, com maior nível de desenvolvimento humano, são aqueles em que a escolaridade é mais alta. Veja o caso de Oeiras, por exemplo, o nível de escolaridade. É isso que eu quero fazer em Loures. Eu sei que vai ser muito difícil, porque temos particularidades demográficas, sociais, etc. Mas quero que as pessoas sintam que a Câmara Municipal de Loures as apoia nos estudos também, com bolsas, como acontece em Cascais e Oeiras, com apoios às famílias que não têm forma de comprar os livros dos seus filhos. Portanto esta é outra das nossas grandes bandeiras.

E em relação aos bairros de Loures que por vezes ficam sem eletricidade durante meses?
Essa é uma grande questão. Ouça, eu estive em Fanhões este fim-de-semana, a apresentar o nosso candidato à junta de freguesia, e falei de duas questões centrais que nós temos. O grande lema de Bernardino Soares era “pôr Loures no mapa” e nós tivemos, se não me engano, mais de 50 falhas de abastecimento de água durante o seu mandato. Quer dizer, parece que estamos na Somália ou na Eritreia. Há zonas do concelho de Loures que têm permanentemente falhas no abastecimento de água, isto é inadmissível. E há zonas de Loures onde o saneamento não funciona. Às portas de Lisboa. Numa zona que junta milhares de pessoas que trabalham em Lisboa todos os dias. Então as pessoas olham para isto e pensam, “mas quem é que nós somos, nós somos os esquecidos da área metropolitana de Lisboa?” Olham para Lisboa, Cascais, Oeiras, Sintra, Mafra, vêm tudo a desenvolver, e o que aconteceu a Loures? Ficou cá para trás? Esqueceram-se de Loures?

Será outra prioridade sua, melhorar as estruturas de saneamento e abastecimento de água?
Sim, basta ver que um dos nossos cartazes diz mesmo “abastecimento de água sem interrupções”. Veja o nível a que estamos na discussão política, em que nós temos que fazer como proposta algo que desde os anos 70 já nem devia ser uma proposta, devia ser uma realidade no país todo. Não compreendo que alguém que disse que ia pôr o concelho no mapa, e pôs, com tiroteios, rusgas, confrontos em bairros, com o fim dos contratos locais de segurança, com níveis de desemprego que continuam elevadíssimos, com problemas nos transportes públicos, de facto pôs Loures no mapa, pelas piores razões. É isso que eu espero que deixe de acontecer no dia 1 de outubro.

O problema da eletricidade é mais complexo, há pessoas que não conseguem pagar as contas e fazem puxadas ilegais nesses bairros. Depois a EDP corta o fornecimento de luz…
E em algumas zonas a EDP não vai lá porque não pode ir.

Como é que um autarca pode resolver essas situações?
Primeiro, se houver falhas no abastecimento de água, elas são acima de tudo falha da Câmara Municipal de Loures. Tem que garantir que há formas de abastecimento de água satisfatórias. E isso não foi feito, é grave, há pessoas sem água, estamos no século XXI. Segundo, a eletricidade. Quem não consegue pagar, comprovadamente, tem que merecer uma atenção especial por parte da Câmara Municipal de Loures. E as situações que referiu, as puxadas ilegais, muitas vezes são toleradas pelas autoridades. Ou pelo menos fecha-se os olhos a que isso aconteça. E não me venham com a treta dos “mais pobres dos pobres”. Porque ouça, eu tenho que pagar a minha eletricidade, você tem que pagar a sua eletricidade, toda a gente tem que pagar. Uma coisa é mostrar que não tenho rendimentos e preciso de apoio, outra é fazer uma puxada ilegal. Porque isso é que se diz que é ilegal. Se é ilegal, tem que acontecer o mesmo que acontece em todas as situações ilegais.

Também há situações de bairros clandestinos…
Ou porque o bairro é clandestino, ou porque vivem em zonas que habitualmente não teriam acesso a eletricidade normal e portanto fazem puxadas ilegais… A questão, no fundo, acaba por ser a mesma: o Estado a tolerar exceções, quando não tolera para nós e para os outros todos. É uma questão de igualdade, não é uma questão de discriminação. Sabe porquê? Porque isto gera os conflitos centros das comunidades. Porque há uma parte que olha e diz, “eu pago a minha luz, eu pago a minha água, se eu não pagar vêm cá cortar, vêm cá penhorar a casa e os meus carros”. Enquanto ali ao lado, se não se pagar, está tudo bem, está tudo tranquilo. É isso que eu não consigo compreender.

 

O que eu proponho fazer é um levantamento rigoroso do que é que se deve e porque é que se deve. Segundo, propor um plano de pagamento acordado com as diversas comunidades onde esta situação se verifica, quer em relação à água, quer em relação à luz, quer em relação às rendas das casas. E propor um plano de pagamento que tem de ser efetivamente acordado. Não é cumprido, não é voluntariamente cumprido, então desculpe que lhe diga, tem que acontecer o mesmo que acontece em todas as outras situações, a todos os portugueses. E as pessoas têm que sair.

 

Mas repetindo a pergunta, como é que um autarca pode resolver essas situações? Não quer ter um bairro sem eletricidade, mas também não quer assumir o ónus de expulsar aquelas pessoas…
Não estou nada preocupado com isso. Muito sinceramente. Sabe porquê? Vou pela primeira vez resolver o problema. E sabe como? A forma não podia ser mais direta. Lembra-se que foi até o antigo presidente socialista, da Câmara Municipal de Loures, que falou em dívidas superiores a 140 mil euros. E agora não estou a falar de nenhuma comunidade em particular, estou a falar de todos. A primeira coisa que é preciso fazer é um levantamento de quem é que efetivamente não tem pago as rendas das casas, quem é que não tem pago as contas da água e da luz. Primeiro ponto. É preciso fazer um levantamento. É que nós nem sabemos. O presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, quando esta polémica toda começou, veio a público e podia ter dito que isto é mentira, porque na verdade não há ocupações ilegais de casas, etc. E eu próprio o levaria lá depois para lhe mostrar as ocupações ilegais de casas. Bernardino Soares podia ter dito que ninguém deve nada à Câmara Municipal de Loures, rendas das casas, contas da água e da luz, etc. Não, não fez nada disso. Limitou-se a dizer, como todos os outros, que isto era racismo, xenofobia, discriminação. O que eu proponho fazer é um levantamento rigoroso do que é que se deve e porque é que se deve. Segundo, propor um plano de pagamento acordado com as diversas comunidades onde esta situação se verifica, quer em relação à água, quer em relação à luz, quer em relação às rendas das casas. E propor um plano de pagamento que tem de ser efetivamente acordado. Não é cumprido, não é voluntariamente cumprido, então desculpe que lhe diga, tem que acontecer o mesmo que acontece em todas as outras situações, a todos os portugueses. E as pessoas têm que sair.

Ao contrário de anteriores declarações que proferiu, de teor racista e discriminatório, agora diz que não fala de “nenhuma comunidade em particular” e salienta que é preciso fazer uma levantamento das situações concretas. Porque é que anteriormente falou da etnia cigana, em particular, se ainda nem sequer dispunha de dados concretos?
É uma boa questão. Eu estava a referir-me a uma situação particular. Foram relatos que obtive em visitas técnicas e testemunhos que me foram dados. E portanto, sem querer voltar agora a tocar nessa questão, acho que já foi bastante explicada, referi-me a questões de habitação ocupada e a questões de habitação ilegal. E ainda a questões de incumprimento da lei. Foi a isso que me referi, com os dados que tinha, combinando com outros dados. E por isso é que falei do Estado de direito. Dei o exemplo dos casamentos, o exemplo dos estudos das meninas que são retiradas das escolas. E eu sei que isto não é politicamente correcto, mas se o Estado me obriga a ter os meus filhos na escola, até uma certa idade, não percebo que haja aqui exceções. Eu quis alertar para um problema que acho que é tão nacional que o país inteiro o passou a discutir. E portanto acho que foi relevante. Agora, o que lhe estou a dizer aqui, não tem nada que ver com isso. Tem que ver com fazer cumprir a lei indistintamente. Eu não compreendo, acho que ninguém compreende, que haja pessoas que não pagam nada, nem água, nem luz, nem casa, nem absolutamente nada. E depois, repare que agora estou a fazer uma caricatura genérica, depois têm um BMW ou um Mercedes à porta de casa. Eu não compreendo, desculpe lá.

Mas não compreenderia quer fosse ou não alguém de etnia cigana…
Claro, com certeza.

Então porque é que se referiu especificamente à etnia cigana? Com base no que lhe disseram nas ruas?
Com base no que me disseram, no que foi dito pelo Alto Comissário para as Migrações em 2015 e nos dados que estavam disponíveis. Portanto, ali particularizei, porque havia uma situação que eu acho que temos de discutir em Portugal. Agora não estou a falar disso, estou a dizer-lhe que acho, e isto pode também não ser politicamente correcto, mas acho que este problema tem que ser resolvido, porque é uma questão de justiça e igualdade. E acho que as pessoas não compreendem isso. É o mesmo que esta história agora do RSI, o acesso ao RSI deixou de ter a regra que proibia as pessoas de possuirem carros, barcos e aeronaves de um determinado valor. As pessoas olham para isto e sabe o que é que dizem na rua? Estão a brincar? É uma questão da dignidade da lei. Então você tem um barco na marina da Expo e está a receber o RSI? Você acha isto normal?

Mas considera que se trata de um problema generalizado e com especial incidência em Loures?
Pode ter a certeza que se eu tivesse dados sobre isso, já cá estavam fora.

Não é uma questão de âmbito nacional, mais do que local?
Sim. Estou a falar desta questão do RSI, particularmente. Acho que é grave porque o Governo já tinha planeado fazer isto há muito tempo. Isto não foi uma resposta ao que eu disse. Mas mostra bem a amarra ideológica e o preconceito que está aqui. Veja as desculpas que foram dadas. “Devíamos era atacar os banqueiros, em vez de atacar os mais pobres dos pobres.” As pessoas não percebem isso. Estamos a dividir para reinar, como se dizia, e isto é muito grave porque põe uns contra os outros e a lei, pouco a pouco, vai perdendo a sua ética. A lei deve sempre ter ética, a lei deve ter uma base moral de regulação.

 

Os meus apoios são do espaço entre o centro-esquerda e o centro-direita. Portanto é-me indiferente, completamente, que qualquer movimento de caráter extremista, racista, xenófobo, queira fazer um aproveitamento desta situação em Loures para ter visibilidade. Merece o meu repúdio.

 

Assistiu-se a uma espécie de colagem do PNR à sua candidatura. O respetivo líder José Pinto Coelho disse que você era “um dos seus” e depois endereçou-lhe até um convite público: “Venha para o PNR e será livre.” Tratando-se de um partido de extrema-direita, que defende ideias racistas e xenófobas, não sentiu incómodo com esse apoio?
Senti, sem dúvida que senti. Porque quem me conhece sabe que é tudo aquilo que eu não sou, quem me conhece sabe que o meu passado tem sido sempre e permanentemente ligado à social-democracia e às discussões das democracias modernas. E causou-me incómodo, mas também não valorizo muito, porque eu estou muito seguro de quem me apoia. Os meus apoios são do espaço entre o centro-esquerda e o centro-direita. Portanto é-me indiferente, completamente, que qualquer movimento de caráter extremista, racista, xenófobo, queira fazer um aproveitamento desta situação em Loures para ter visibilidade. Merece o meu repúdio. Não vou dizer que quem quiser pode apoiar-me, não. Eu repudio veementemente o apoio da extrema-direita.

Porque é que acha que houve essa tentativa de colagem?
Porque ninguém sabe quem ele é, porque ninguém sabe o que o partido faz. E as pessoas vêem uma oportunidade e “deixa-me cá aproveitar a boleia.”

Não terá sido por causa das declarações sobre os ciganos, ou o discurso sobre a segurança?
Não lhe sei dizer, honestamente. Porque o que eu sei da extrema-direita portuguesa é muito pouco. Foi uma tentativa de aproveitamento mediático de alguém que não está nesse espaço, mas precisam de espaço para aparecer. Portanto repudio veementemente. Não tenho absolutamente nada que ver com esse tipo de movimentos.

O que seria um bom resultado, para si, em Loures, ser eleito vereador?
Não. Seria ganhar, ganhar!

Estará disposto a fazer um acordo de governação com a CDU, tal como Fernando Costa fez no último mandato?
Se eu ganhar vou certamente convidar a CDU, porque se eu ganhar a CDU será a segunda força política, penso que o PS está claramente a esmorecer em Loures. Vou convidar a CDU para um projecto integrador. Se aceitarão ou não, isso é outra coisa. Os sinais que têm vindo a dar é que não aceitarão fazer uma coligação comigo. Eu chamo-lhe a atenção para o facto de que menos de metade dos eleitores votou nas últimas eleições em Loures. E portanto há um problema, de facto, com a abstenção. As pessoas agora estão a acordar para esse problema em Loures, é um daqueles concelhos que bateu no fundo em matéria de abstenção, porque a maior parte das pessoas desligou-se da política. E eu acho que isso não vai acontecer este ano e poderemos ter uma surpresa em relação a quem vai votar, com vontade de ir votar. Se eu vou aceitar fazer algum acordo com Bernardino Soares? Não tenho isso no horizonte. Mas tenho uma vantagem, sabe, é que eu não preciso da política para nada. E portanto não aceitarei fazer acordos para manter isto como está. Repare, como é que as pessoas olhariam para mim se eu daqui a três meses estivesse num gabinete mais espaçoso na Câmara Municipal de Loures, após ter feito um acordo, explicando que era melhor para todos? Não, pode ter a certeza de que isso não vai acontecer.

Isso significa que não tencionar cumprir um eventual mandato de vereador?
Eu sei sempre tirar as minhas responsabilidades dos atos eleitorais. E sei que, para o bem e para o mal, o que acontecer em Loures vai depender muito daquilo que eu fiz e disse. Sempre fui assim na minha vida, não ia deixar de o fazer. Se eu fico ou não como vereador, é uma decisão que terei de tomar só depois da análise dos resultados eleitorais. E também não lhe escondo isto: se a votação for decepcionante, ou se a votação for muito baixa, eu acho que tenho que assumir a minha responsabilidade e voltar à minha vida profissional. Eu acho que os portugueses só percebem a política assim, sabe? Olhar para aqueles que aproveitam sempre a situação, bem ou mal, arranjam um lugarzinho para se sentar e para ficar, não é comigo, de todo.

Também pode ser entendido de outra forma, no sentido em que se candidata e depois não cumpre o mandato para o qual foi eleito. Não estará assim a defraudar as pessoas que votaram em si?
Por isso é que eu lhe digo, se tiver uma votação que eu considero que foi expressiva, mesmo não ganhando, ficarei. Agora, se eu tiver um resultado muito baixo, tenho que assumir a minha responsabilidade. Tenho que pensar muito bem se fico ou não. Se tiver um resultado aceitável, ou bom, ficarei certamente para cumprir aquilo que as pessoas depositaram em mim.

 

Eu acho graça às críticas que fizeram quando eu disse que ia criar 10 mil empregos. Eu percebo, é quem nunca criou um único emprego na vida, percebo que lhes custe ouvir isto. Mas quer dizer, Loures não pode ficar uma espécie de Texas da área metropolitana de Lisboa.

 

Mantém a intenção de “formar um Exército” com a Polícia Municipal de Loures?
Nos EUA há uma instituição de caridade que se chama Exército de Salvação. E um dos seus grandes lemas é “fazer o que podemos com o que temos”. Dei esse exemplo para explicar que, se eu não tiver mais PSP, terei que fazer alguma coisa com a Polícia Municipal. Como sabe, a PSP é competência do Governo. E o Governo já mostrou que não simpatiza comigo. Se o Governo não atribuir mais PSP a Loures, algo que eu acho vergonhoso, ou mais meios à PSP, então terei que fazer alguma coisa com a Polícia Municipal. A Polícia Municipal também tem competências na área da segurança pública, em cooperação. E portanto, quando não temos o instrumento principal, temos que fazer com o outro. Temos que fazer alguma coisa. Eu não posso dizer às pessoas, daqui a quatro anos, “vocês votaram em mim e eu disse que ia resolver o problema de segurança, mas não me deram mais PSP, portanto, olhe, paciência.” Não. Terei que levar a Polícia Municipal até ao limite daquilo que a lei prevê para Loures. E pedir ao legislador que permita aumentar ainda mais. Sabe quantos polícias municipais há em Loures? Menos de 20.

Porque é que escolheu a segurança como prioridade política?
Olhe, vá a Loures à noite e vai perceber.

As pessoas que contactou nas ações de campanha expressaram todas essa preocupação?
Segurança, emprego e educação. Pode ter a certeza disso. As pessoas vão votar em mim porque, pela primeira vez, há alguém que não tem medo de dizer o que é vai fazer ao nível da segurança e do emprego. Depois posso estar errado, mas ao menos apresentei as propostas. Eu acho graça às críticas que fizeram quando eu disse que ia criar 10 mil empregos. Eu percebo, é quem nunca criou um único emprego na vida, percebo que lhes custe ouvir isto. Mas quer dizer, Loures não pode ficar uma espécie de Texas da área metropolitana de Lisboa.

Como é que vai criar 10 mil empregos? Serão empregos camarários?
Não, isso não tem nada a ver comigo.

Então como é que pode garantir a criação de 10 mil empregos? E como é que determinou esse número? É uma estimativa?
Eu até acho que serão 15 mil, mas quis fazer uma estimativa por baixo, para ser mais realista. Nós temos estudos feitos que apontam que o concelho de Loures está extraordinariamente subdesenvolvido em áreas fundamentais. Uma dessas áreas é o apoio a empresas “start-up”, que Lisboa já tem há muitos anos e Loures parece que adormeceu para a questão. Mas, de facto, um executivo comunista nunca poderia gostar de empresas “start-up”, por isso nós vamos fazer isso. Depois há o apoio ao turismo. Loures é um dos concelhos com maior potencial turístico, até ao nível paisagístico, mas não tem absolutamente nada, ou muito pouco, no campo do turismo. E restauração e hotelaria. Parece que, de repente, só Lisboa e Sintra é que são turísticos. O resto da área metropolitana não existe. Portanto, quando nós cruzamos os números e fazemos propostas concretas, nomeadamente para atrair muitas empresas “start-up” que estão em Lisboa, chegamos a uma estimativa de 10 mil empregos. Não são camarários, são empregos que a economia gera. E se não forem criados 10 mil novos empregos em Loures, eu não me candidato outra vez. É a vantagem quando nós somos independentes. Podemos comprometer-nos com as pessoas. E se não nos comprometermos, vamos embora, voltamos para casa.

Outra das suas ideias mais controversas é a defesa da pena de prisão perpétua para determinados crimes, porquê?
Você sabe que em Portugal existe um limite de penas, ao nível das sanções penais, de 25 anos. Nós temos tido a sorte de algum tipo mais grave de criminalidade ter estado fora do nosso horizonte, mas agora começa a estar. Começamos a ter casos de terroristas que estiveram ou estão em Portugal, começamos a ter casos de criminalidade violenta muito graves, e portanto eu acho que o sistema tem que olhar para isto com cautela. Agora dou-lhe o exemplo de um terrorista que fez um atentado ali em Lisboa, ou no Porto, ou em Loures, e matou 40 ou 60 pessoas, num centro comercial. E foi apanhado vivo. Submete-se à justiça e é julgado. No máximo, ele vai lá estar 20 e poucos anos. E mesmo que no último ano lhe perguntem se está recuperado, se se sente reabilitado? E se ele lhe disser assim, “no dia em que eu sair, ou quando eu sair, pode ter a certeza de que a primeira coisa que eu vou preparar é a vossa destruição.” Vossa, enquanto Estado e enquanto Europa. Sabe o que é que lhe acontece? Nada, sai à mesma. Ele não ficou socialmente reabilitado, cumpriu apenas uma pena. Eu defendo que nestes casos, como noutros, enquanto se mantiverem índices de perigosidade, a pena possa ser sucessivamente revista. A Espanha fez isto agora, há poucos anos. Porque é que não podemos discutir isto no quadro de um Estado de direito e pensar que, em alguns casos, o Estado tem que ser mais duro para assegurar a sua própria sobrevivência e a estabilidade e a justiça. É uma questão de justiça. Até lhe digo mais, em relação a muitos desses banqueiros que arruinaram o nosso sistema económico, e nos colocaram na situação em que estamos hoje, eu acho sinceramente que 10 a 15 anos de prisão é uma brincadeira. Portanto, é para não dizer que são só os mais pobres.

Mas se atentar nos países com penas de prisão mais duras, ou até pena de morte, não há uma correlação direta na diminuição da criminalidade. Em alguns casos até se verifica mais criminalidade do que em países com penas mais leves.
É verdade. Mas sabe que esse é o argumento utilizado pelos extremistas norte-americanos das armas, porque eles dizem que nos sítios onde há leis mais duras é onde há mais crimes de armas. Como tal, porque não deixar toda a gente usar armas e a coisa resolve-se? Não é o meu raciocínio. Porque nós estamos a fazer uma relação direta entre estatísticas e lei. Estamos a dizer que a lei só deve existir se for eficaz em fazer diminuir o número de crimes. E vou mais longe, eu acho que lei tem que ser justa. E sobretudo tem que cumprir uma função essencial, a função de prevenção.

 

Eu acho que não, que não há nenhuma predisposição genética. Acho que há um conjunto de comportamentos e hábitos que se vão assimilando pela integração social e pelas formas sociais que muitas vezes estes grupos, etnias, vivem num determinado contexto. E depois, com alguma tolerância do Estado de direito, vão desenvolvendo estes comportamentos em crescendo. E é isso que nós temos que parar.

 

A retirada do apoio do CDS-PP vai prejudicar a sua candidatura?
Fiquei decepcionado com essa decisão. Acho que foi cálculo político, a pensar não em Loures mas em Lisboa. E veremos a resposta que os eleitores vão dar. Mas a minha convicção é que o CDS-PP vai ser muito prejudicado com esta situação. No dia 1 de outubro vamos perceber quais são as consequências para cada um. E deixe-me dizer mais: o primeiro-ministro também vai ter algumas consequências, porque ele disse que esta candidatura desonrava a democracia, que desonrava o processo eleitoral, portanto se houver uma surpresa, eu quero ver o que é que ele vai dizer.

Mas ganhar ou não as eleições, ter mais ou menos votos, isso não invalida a crítica a declarações entendidas como racistas e discriminatórias…
Isso são opiniões que eu respeito.

E que refuta?
Que eu refuto. E o líder do PSD percebeu. Pedro Passos Coelho disse isso no final, que quem depois destas explicações continuar a falar de racismo, ou de xenofobia, é porque não percebeu aquilo que o André Ventura disse. Portanto, estou completamente tranquilo nesta matéria. Outra coisa é ter dito que isto desonra a democracia. Quer dizer então que os eleitores de Loures desonraram a democracia. Talvez António Costa é que não esteja a ver muito bem aquilo que os eleitores pensam e se calhar também tem que tirar algumas ilações. Como eu parto do princípio que ele acha que os eleitores de Loures não são racistas, nem xenófobos, como eu acho, se a votação for outra, se calhar é um sinal para António Costa. Para ele perceber que em Portugal os tabus já deviam ter caído há muito tempo. E que nós precisamos de discutir todas as questões de forma livre e aberta. Digo-lhe honestamente, eu não posso com os patrulhadores do pensamento, aqueles que dizem que sempre defenderam a liberdade, desde que nasceram, mas quando as opiniões divergem cai o Carmo e a Trindade, queixas e processos por todo o lado. Eu acho que é o pior que podemos contribuir para a democracia.

Considera que todas as pessoas de etnia cigana têm uma predisposição genética, ou racial, para se tornaram criminosas e abusarem de subsídios estatais?
Eu acho que não, que não há nenhuma predisposição genética. Acho que há um conjunto de comportamentos e hábitos que se vão assimilando pela integração social e pelas formas sociais que muitas vezes estes grupos, etnias, vivem num determinado contexto. E depois, com alguma tolerância do Estado de direito, vão desenvolvendo estes comportamentos em crescendo. E é isso que nós temos que parar. O que o Estado de direito tem que dizer é que as regras são para cumprir absolutamente por todos, de forma igual. Quer no pagamento de impostos, quer no pagamento de transportes públicos, quer no pagamento das casas, água, luz, etc. Porque sabe que quem gera racismo não é quem fala disto. Quem gera racismo é quem prefere fechar os olhos a isto e fingir que este problema não existe. Porque as pessoas não são parvas, as pessoas falam disto, têm uma opinião sobre isto e discutem estes problemas.

 

Teremos tempo de fazer essa reflexão já no próximo Congresso Nacional. Isso não quer dizer que não haja ilações a retirar dos resultados eleitorais de 1 de outubro.

 

Sei que também quer falar sobre eleições primárias no PSD. Defende a aplicação desse modelo?
Penso que a realização de eleições primárias nos dois principais partidos portugueses seria um sinal muito positivo para a revitalização democrática, bem como para a defesa da própria democracia. É um sinal de abertura à sociedade, fundamental para integrar dentro dos partidos as próprias dinâmicas sociais e evitar que cresçam à sua margem. Veja-se como a recente experiência francesa tem corrido muito bem.

E prevê que a liderança do PSD vai ser disputada logo após as eleições autárquicas?
Pedro Passos Coelho é o líder do PSD e penso que não deverão ser feitas leituras nacionais dos resultados autárquicos, exceto, naturalmente, num cenário de catástrofe eleitoral que certamente não se verificará. Aníbal Cavaco Silva perdeu várias vezes as eleições autárquicas e venceu as legislativas. São realidades completamente diferentes. Teremos tempo de fazer essa reflexão já no próximo Congresso Nacional. Isso não quer dizer que não haja ilações a retirar dos resultados eleitorais de 1 de outubro. Pelo contrário, teremos todos que registar as dinâmicas eleitorais e perceber aquilo que os eleitores nos quiseram transmitir. É assim que devem funcionar os partidos democráticos.

[*] Versão integral da entrevista publicada na edição em papel do Jornal Económico de 11/08/2017.

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