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Angola e EUA: O que está em jogo neste ‘shake hands’

Geoestratégia : Trinta anos de relações económicas e diplomáticas atingem o seu apogeu com a visita de Estado do presidente norte-americano a Angola, com a assinatura em Nova Iorque de um novo boost para o Corredor do Lobito e… com uma minicimeira de chefes de Estado a acontecer, já, em Luanda.
27 Setembro 2024, 20h15

ngola marca a agenda da Assembleia Geral da ONU e sai vitoriosa com a visita de Joe Biden, ainda que em fim de mandato, programada para 13 e 14 de outubro. Esta será a primeira visita de um chefe de Estado norte-americano a Angola. E, se por um lado, o entusiasmo pode ser refreado pelo facto de Biden estar fora da corrida presidencial, por outro, a minicimeira de que Luanda será anfitriã promete celebrar os 30 anos de bom relacionamento diplomático entre os dois países. O anúncio é da própria Casa Branca: “A visita do Presidente a Luanda celebra a evolução do relacionamento EUA-Angola, ressalta o compromisso contínuo dos Estados Unidos com os parceiros africanos e demonstra como a colaboração para resolver desafios compartilhados traz benefícios para o povo dos Estados Unidos e de todo o continente africano”.

Recorde-se que, em 1993, o então Presidente norte-americano Bill Clinton pôs fim a uma fase de tensões políticas com Angola e formalizou as boas relações diplomáticas que têm vindo a ser estabilizadas ao longo destas três décadas. O compromisso tem atingido outros patamares para lá da diplomacia, ao ponto de Angola ser, atualmente, o terceiro maior parceiro comercial dos EUA na África Subsaariana.

No meeting que se prevê ao mais alto nível em Luanda, estarão também presentes os chefes de Estado do Congo e da Zâmbia. Mas do Palácio da Cidade Alta pouco mais se sabe sobre este encontro que antecede a 17ª Cimeira de Negócios EUA-África a realizar em Angola em 2025.

Para Biden e para os Estados Unidos será sempre mais um trunfo na guerra de influências com China e com a Rússia à mistura, fazendo jus ao que disse: “The United States is all in on Africa and all in with Africa”.

A cartada final no Corredor do Lobito
Em corredor paralelo à Assembleia Geral da ONU, outro “corredor” ganha relevo. O dito Corredor do Lobito, linha ferroviária que une Angola, Congo e Zâmbia, vê fechado o triângulo com a assinatura de acordos com o Africa Finance Corporation. (AFC), possibilitando a construção de uma linha ferroviária inteiramente nova, de aproximadamente 800 quilómetros, para ligar o caminho de ferro de Benguela, em Luacano, Angola, à já existente linha ferroviária da Zâmbia, em Chingola. Para Ricardo Viegas d’Abreu, ministro dos Transportes de Angola, este projeto transformador “vai aprofundar o papel de Angola enquanto centro logístico regional e impulsionar o comércio não só com a Zâmbia, mas com o resto do mundo”.

Prevê-se que a linha férrea, a construir no âmbito dos acordos assinados em Washington, crie benefícios económicos na ordem dos 3 mil milhões de dólares (cerca de 2,6 mil milhões de euros)para ambos os países, reduza as emissões atmosféricas em cerca de 300 mil toneladas por ano, e crie mais de 1.250 postos de trabalho durante a sua construção e as operações.

Paralelamente e para que o Projeto Ferroviário Angola (Lobito) – Zâmbia esteja alinhado com os padrões ambientais internacionais, a AFC assinou também um acordo para receber um financiamento de dois milhões de dólares (cerca de 1,7 milhões de euros) da Agência de Comércio e Desenvolvimento dos Estados Unidos (USTDA), para a conclusão dos estudos ambientais e sociais do projeto. “Angola tem muito a ganhar em termos de oportunidades de investimento e de reputação se em cada um dos seus projetos estruturantes seguir e implementar as melhores práticas internacionais no domínio da proteção ambiental”, reiterou o governante angolano.

Recorde-se ainda que o Corredor do Lobito é uma via comercial mais curta, logo mais célere, de importações e exportações, ligando o Porto do Lobito à Zâmbia e ao Congo, facilitando desta forma a circulação de mercadorias e promovendo a interação com regiões mineiras e polos agrícolas. Durante os meetings em Washington, a Tanzânia mostrou interesse em juntar-se ao projeto, mas ainda sem grandes desenvolvimentos.

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