Apesar de ter sido um ano claramente negativo para a generalidade das bolsas mundiais e de muitos investidores terem optado por sair do mercado ou reduzir a exposição a activos de risco, nasceu em 2022 um novo mercado accionista e que apresenta já desempenho positivo: o de Angola.

Num clima de estabilidade política e paz social, Angola beneficia da crise energética, acelerada pela guerra na Ucrânia, e do menor investimento na indústria petrolífera realizado na Europa ao longo dos últimos anos. No entanto, para reduzir a dependência do petróleo, matéria-prima muito volátil que ainda representa cerca de metade do PIB e 90% das exportações, o governo lançou um vasto programa de privatizações. Assim, promove-se a diversificação e eficiência da economia angolana, ao passar uma parte substancial da actividade económica para o setor privado e o respectivo financiamento para as mãos dos investidores.

A privatização de empresas estatais iniciou-se em Dezembro de 2021, com o leilão em bolsa de venda de 100% do capital do Banco de Comércio e Indústria, arrematado pela Carrinho, empresa familiar angolana que actua no setor alimentar. Em Junho de 2022, o Banco Angolano de Investimentos (BAI) estreou a bolsa, ao admitir acções à negociação na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), através da oferta pública de venda de 10% do capital que era detido pelo Estado angolano, através de duas empresas públicas: a energética Sonangol e a Endiama, operadora e concessionária dos direitos de mineração de diamantes em Angola.

A acção do maior banco pelo valor total do activo em Angola encontrou forte interesse comprador desde a estreia em bolsa, com a procura a exceder a oferta disponível, o que poderá ter motivado o emitente a anunciar em Outubro a venda de mais 5% do capital, numa operação aberta a qualquer investidor que decorre até 30 de Dezembro. Desta forma, o capital em circulação deverá ser reforçado, aumentando as possibilidades de compra e de venda sem impactar o preço da acção.

O Banco Caixa Geral Angola inspirou-se no caso do BAI e entrou em bolsa em Setembro. Gerando menores lucros por acção do que o BAI, o Caixa Angola apresenta maior capital em circulação como ponto forte, tendo sido vendidas 25% das acções detidas pelo Estado através da Sonangol. Ambos os bancos têm políticas estáveis de dividendos, distribuindo cerca de metade dos lucros. Neste momento, apenas a banca está representada em bolsa, mas há a possibilidade de outros sectores se juntarem em breve, como a seguradora ENSA e empresas do sector petrolífero.

O enquadramento para as privatizações é benigno, dado que os preços mais altos do petróleo reforçaram a situação fiscal e externa do país, afastando a necessidade de solicitar assistência financeira ao Fundo Monetário Internacional, que poderia exigir privatizações mais rápidas e em piores condições do que o governo angolano deseja. Ao mesmo tempo, a descida da inflação no país abre espaço para mais reduções nas taxas de juro, o que poderá aumentar a apetência por risco dos aforradores e investidores e o interesse por dividendos.

Como catalisadores positivos para o desenvolvimento deste mercado, destaco a eventual criação de fundos de investimento, que permitam o acesso de pequenos investidores com montantes reduzidos, e a criação do índice acionista, quando existir cinco empresas cotadas. Em termos macroeconómicos, a possível desvalorização do dólar americano, após atingir máximos de 20 anos, deverá aumentar o interesse dos investidores internacionais nas moedas e nos activos de mercados emergentes.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.