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Angola quer internacionalizar Museu do Reino do Kongo e recuperar peças no estrangeiro

Chegou a ter mais de 2.000 artefactos, mas atualmente o acervo do Museu Regional do Reino do Kongo tem pouco mais de 100 peças, que o Governo angolano espera aumentar com espólio recuperado noutros países.
Aspetos das ruas de Luanda com cartazes e bandeiras de campanha dos candidatos às eleições gerais de Angola, Luanda, Angola, 18 de agosto de 2022. As eleições gerais angolanas, quinto escrutínio da história política do país, estão marcadas para 24 de agosto e contam com candidaturas de oito formações políticas, que estão em campanha eleitoral desde 24 de julho. (ACOMPANHA TEXTO). PAULO NOVAIS/LUSA
1 Setembro 2024, 10h25

Chegou a ter mais de 2.000 artefactos, mas atualmente o acervo do Museu Regional do Reino do Kongo tem pouco mais de 100 peças, que o Governo angolano espera aumentar com espólio recuperado noutros países.

O museu, instalado no antigo palácio real construído em 1901, distribui-se por seis pequenas salas, destacando-se na entrada os retratos de figuras reais e de Henrique, filho do rei do Congo, o primeiro bispo negro africano, sagrado em 1520.

Há também aspetos da vida socioeconómica, incluindo artefactos ligados à caça e à pesca, bem como moedas que serviam para o comércio – pequenas conchas a que davam  o nome de zimbos – objetos de uso pessoal, símbolos do poder real, vestuário, instrumentos musicais e outros de uso ritual ou usadas em tratamentos tradicionais, como vai explicando a Lusa o conhecedor guia Kediamosiko Toko.

E há também uma réplica da Pedra de Yalala, com inscrições de Diogo Cão, o navegador português que chegou à costa angolana em 1482, e que se encontra atualmente numa aldeia ao pé de Matadi (República Democrática do Congo)

O reino do Congo expandia-se nessa altura por três países – a República Democrática do Congo, o Congo Brazzaville e uma parte do Gabão – além das atuais seis províncias angolanas do norte, o que levou o executivo angolano a alterar o estatuto do museu, explica o diretor, Avelino Manzueto.

A 8 de novembro de 2023, o antigo Museu dos Reis do Congo converteu-se em Museu Regional do Reino do Kongo, para que a sua  dimensão “abranja um nível internacional”, explicou o responsável, adiantando que há também um projeto de cooperação para resgatar “alguns acervos que estão em outros países”.

Segundo Manzueto, o museu, que ficou fechado entre 1982 e foi reaberto em 2007, “perdeu muitas peças devido à guerra, tendo ficado em estado de abandono”, contando atualmente com 105 peças.

 “Já identificamos alguns países, não só em termos de acervos, mas também as obras literárias e a arte, nomeadamente o Brasil. Nós sabemos a relação do Brasil com Angola, a questão do comércio triangular (de escravos), o papel do reino do Congo, dos Estados Unidos da América, a Bélgica, e do próprio Portugal, porque Angola foi uma província ultramarina de Portugal”, salientou.

Avelino Manzueto afirmou que o trabalho está a ser desenvolvido com especialistas e investigadores, “numa perspetiva da cooperação” para que se tenha “a oportunidade de resgatar os acervos museológicos”.

“Nós temos conhecimento de que alguns museus têm lá algumas peças expostas sobre o reino do Congo. E não somente peças, também as obras literárias e a arte”, reforçou.

Deu como exemplo o Museu Real da África Central, na Bélgica, onde se encontra uma vasta coleção de artefactos, nomeadamente esculturas, máscaras e outros objetos culturais, estando a ser desenvolvida uma estratégia através dos representantes culturais nestes países, para celebrar acordos para que possam ser identificados os acervos e ser feito um historial de cada peça.

“Podemos, por exemplo, receber a nossa peça originária ou ficar exposta naquele museu e recebermos uma réplica”, sugeriu.

Avelino Manzueta salienta que além da importância para a identidade cultural, o aumento do acervo iria atrair mais turistas.

No ano passado, o museu acolheu 7.420 visitantes de vários países do mundo, com destaque para Portugal, Brasil, Alemanha, os dois Congos, África do Sul e a Zâmbia.

Para o responsável do museu, o desafio passa também por reforçar os recursos humanos, renovar as exposições e criar estratégias para que seja possível construir um novo museu, de dimensão internacional, “assente nos pilares dos três Congos, com Angola, RDCongo e Brazzaville”, um projeto conjunto que se pretende que envolva especialistas dos vários países.

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