António Capucho, antigo governante do Partido Social Democrata (PSD), acompanha “com muita pena” a crise política em que o país mergulhou, mas ainda tem uma réstea de esperança que haja “bom senso” e o cenário de eleições antecipadas possa ser evitado. O histórico social-democrata lamenta que todos os protagonistas apontem a ida às urnas como solução, quando, ao mesmo tempo, afirmam não querer eleições. Mas chegados aqui, e não havendo mistério quanto ao que fará o Presidente da República, António Capucho entende que devia ser o Partido Socialista (PS) a mudar de posição quanto à moção de confiança que o Parlamento esta terça-feira vota, optando pela abstenção em nome do interesse nacional, evitando assim a queda do Governo e a consequente convocação de eleições antecipadas.
“O que é extraordinário é que Pedro Nuno Santos ainda não percebeu que abster-se na moção de confiança não significa dar confiança ao Governo, porque pode perfeitamente, seja na declaração de voto, seja na intervenção que fizer em plenário, explicar que abomina este Governo, que não tem nada a ver com este Governo, que é crítico deste Governo, mas que, para homenagear o interesse nacional, pondo em primeiro lugar o interesse nacional, abstém-se”, defende António Capucho em declarações ao Jornal Económico (JE). “Não percebo qual é a dificuldade de fazer isto. Tanto mais que há vários dirigentes do Partido Socialista que abundam nesta posição”, acrescenta.
O antigo governante social-democrata não tem dúvidas de que, se inviabilizar a moção de confiança ao Governo da Aliança Democrática, como tem indicado que fará, o PS será “altamente prejudicado” nas urnas. Considerando não existir “nenhuma razão” para que Pedro Nuno Santos não se abstenha, Capucho insiste que essa seria a postura “lógica” e, mais do que isso, “a postura inteligente” perante o interesse eleitoral do próprio PS. Porque, antecipa o social-democrata, na campanha eleitoral, “vai ser fácil” Luís Montenegro “vitimizar-se” e “mostrar que a responsabilidade pelas eleições que ninguém queria não é dele”, mas sim do principal partido da oposição. “Muito provavelmente, isso vai penalizar de forma gritante o PS. Inteligentemente, Pedro Nuno Santos deveria abster-se pura e simplesmente”, enfatiza.
Questionado sobre o facto de o chefe do Governo ter avançado para a moção de confiança já sabendo de antemão que os socialistas a chumbariam (porque tem sido essa a posição do secretário-geral do PS desde o início), António Capucho afirma que não é “necessariamente assim” porque o PS “tem tido posições oscilantes”.
O social-democrata sustenta também que, perante a “forma como está a ser trucidado na opinião pública, através das oposições e também através de uma certa comunicação social”, Luís Montenegro entendeu que “não tem condições para governar se não tiver este dispositivo à sua disposição” e não teve “outra alternativa a não ser apresentar uma moção de confiança”. “Isso eu compreendo, mas pode retirá-la, não vejo problema nenhum nisso”, admite o antigo conselheiro de Estado e fundador do PSD. Mas António Capucho tem esperança que Montenegro faça isso nesta altura do campeonato? “Tenho esperança que o Partido Socialista se abstenha na moção de confiança”, responde.
Montenegro será candidato. “Qual é a dúvida?”
Sobre a certeza de que será o atual primeiro-ministro a concorrer nas eventuais eleições antecipadas de maio, o histórico social-democrata é perentório. “Não há ninguém que, neste momento, conteste que o candidato a primeiro-ministro, por todas as ordens de razões, é Luís Montenegro e não qualquer outro.” E o Conselho Nacional do PSD assim o decidirá com uma votação “se não de 100%, a rondar os 95% e os 97%”, perspectiva. “Provavelmente, vai haver outra abstenção, mas não há a mínima dúvida que quem vai avançar como candidato a primeiro-ministro por vontade do partido” é o atual líder do PSD, não havendo “outro que se saiba que esteja disponível para o efeito”.
Nem o tão desejado Pedro Passos Coelho? “Isso é a comunicação social a inventar. Pedro Passos Coelho já disse 300 mil vezes ‘não, muito obrigado, não estou interessado’. Se estivesse interessado em ser candidato a primeiro-ministro, já tinha aparecido no Conselho Nacional, já tinha feito alguns artigos, enfim, já se tinha mexido”, analisa Capucho.
O Parlamento vota esta terça-feira a moção de confiança apresentada pelo Governo na sequência do caso que envolve o primeiro-ministro e a sua empresa familiar, a qual recebeu uma avença mensal da Solverde de 4.500 euros. A notícia levou o primeiro-ministro a avaliar as suas condições políticas e familiares, tendo dessa reflexão resultado o pedido para que os partidos se pronunciassem sobre se mantinham a confiança no executivo. Na resposta, o PCP avançou com uma moção de censura que foi chumbada na última quarta-feira, uma semana e meia depois de a iniciativa do Chega ter tido o mesmo desfecho.
O PS, que se absteve na moção de censura dos comunistas, decidiu avançar com uma comissão parlamentar de inquérito ao caso da empresa Spinumviva. O Governo, por sua vez, aproveitou o início do debate da censura dos comunistas para avançar com a moção de confiança, defendendo que as eleições antecipadas “são um mal necessário” perante a “degradação lenta” que acusa o PS de querer levar a cabo.
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