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António Costa defende ‘paraministro’: “Convite a quem está fora da bolha partidária melhora qualidade da sessão política”

Durante o debate quinzenal, António Costa foi questionado três vezes pelos partidos sobre o convite do Governo ao CEO da Partex. O líder do Governo diz que é o seu “estilo” convidar personalidades independentes para colaborar em questões políticas e acusou direita de “mesquinhez” por trazer tema a debate.
  • António Pedro Santos/Lusa
3 Junho 2020, 18h52

O primeiro-ministro, António Costa, defendeu esta quarta-feira a escolha do CEO da Partex, António Costa e Silva, para desenhar o programa de recuperação económica e social do país, dizendo que quem está fora da “bolha partidária” pode contribuir para “melhorar a qualidade da sessão política”. O líder do Governo diz que é o seu “estilo” convidar personalidades independentes e acusou direita de “mesquinhez” por trazer tema a debate.

Durante o debate quinzenal, António Costa foi questionado três vezes pelos partidos sobre o convite do Governo ao CEO da Partex. O Partido Social Democrata (PSD) introduziu o tema no debate, mostrando estranheza pelo facto de um Governo com 70 membros (entre ministros e secretários de Estado) ter ido encomendar o plano de recuperação económica e social do país a “um privado”.

“Tem no governo 70 membros, tem 19 ministros, 4 ministros de Estado e, no entanto, encomenda este trabalho, que deve ser de grande fôlego a um privado. Estranho. Por outro lado, o que era em 2012 já não é em 2020. Critica aquilo que o Governo da altura do PSD/CDS fez e agora está a fazer exatamente o mesmo”, atirou o vice-presidente da bancada do PSD Adão Silva, referindo-se ao convite do então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho ao economista António Borges.

Em resposta a Adão Silva, António Costa considerou que a situação não é comparável pelo facto de António Borges ter respondido no Parlamento em nome do Governo PSD/CDS. “Isto sim é escandaloso, eu convidei uma pessoa para dirigir um trabalho no Governo”, esclareceu o primeiro-ministro, garantindo que a negociação com os partidos e parceiros sociais do plano de António Costa Silva desenhar caberá em exclusivo a membros do Governo.

António Costa acusou ainda o PSD de estar “cansado de estarmos num debate de nível de Estado” e ter voltado “para a pequena mesquinhez da politiquice”. “Respeito muito a opinião daqueles que são autossuficientes e acham que o sistema político pode viver sobre si próprio, para si próprio, sem contar com mais ninguém. Já percebemos qual será o estilo de governação do PSD. Não é o meu e se não se importa, enquanto eu governar, farei ao meu estilo”, afirmou.

O líder do Executivo esclareceu ainda que não convidou ninguém para “assessorar negócios” mas para “pensar estrategicamente o país”.

“Ministros fazem política, técnicos fazem trabalho técnico”

Os partidos à esquerda, que também criticaram a escolha do ‘paraministro’, não quiseram estender mais o debate sobre o convite do Governo, mas o CDS-PP não se deu por satisfeito. O líder parlamentar do CDS-PP, Telmo Correia, voltou às críticas e questionou o Governo “se não tinha já um ministro do Planeamento” e se este convite está relacionado com uma eventual remodelação do Governo.

“Não ponho em causa a pessoa e a função ainda que seja estranho alguém que diz que vai trabalhar de borla para o Governo português seja pago por uma empresa do Governo tailandês”, ironizou Telmo Correia, depois de ter sido publicado um despacho do Governo que indica que António Costa Silva não vai receber nada pelo trabalho prestado.

Para responder a Telmo Correia, António Costa atirou a Telmo Correia que “se tivesse tido a oportunidade teria concluído que é muito importante para quem exerce funções executivas poder contar com técnicos especialistas”. “Os ministros fazem política, os técnicos especialistas fazem trabalho técnico”, sublinhou, referindo-se a Telmo Correia, que foi ministro do Turismo no Governo de Pedro Santana Lopes, que durou por mais de sete meses.

“Para quem exerce funções executivas poder contar com o apoio de técnicos, especialistas e pessoas que estando fora podem aportar algo de novo e de valor à reflexão e ao trabalho que o Governo está a fazer”, insistiu António Costa.

Visão “fora da caixa” contribuir para “ir mais além” na reflexão política

Já antes o primeiro-ministro tinha referido que aprendeu muito ao chamar para colaborar consigo pessoas “de fora” da “bolha partidária-mediática” porque “têm uma visão fora da caixa” e ajudam “a refletir e ir mais além”.

Além da escolha do CEO da Partex, António Costa Silva, para elaborar o programa de recuperação económica e social 2020-2030, o líder do Executivo socialista diz que convidou, enquanto ministro da Justiça, Boaventura Sousa Santos. O mesmo aconteceu quando foi ministro da Administração Interna em que chamou Nélson Lourenço e quando esteve à frente da câmara de Lisboa em que contou com o apoio de João Caraça.

Depois do PSD e do CDS-PP, também o Chega questionou o primeiro-ministro sobre a escolha de António Costa Silva: “Porque razão vai buscar um consultor externo, quando já foi buscar outro e tem o maior Governo da história? E é ou não verdade que Pedro Siza Vieira vai para as Finanças e Mário Centeno para o Banco de Portugal?” No entanto, António Costa não respondeu a nenhuma das questões colocadas.

Para “não questionar uma quarta vez”, o presidente e deputado único do Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, anunciou apenas que apresentou um requerimento para ouvir no Parlamento com carácter de urgência António Costa Silva. No requerimento, João Cotrim Figueiredo considera que “estas matérias são verdadeiramente definidoras do futuro de Portugal, pelo que o seu escrutínio não deve ser deixado fora da Assembleia da República”.

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