Calmo, curioso, informado, trabalhador e, acima de tudo, modesto. São algumas das qualidades que pessoas que trabalharam com António Costa Silva na Partex atribuem ao engenheiro de minas que o (quasi-homónimo) primeiro-ministro chamou para desenhar o crucial plano de recuperação para a economia portuguesa. São também qualidades que poderão ser úteis numa inesperada e repentina missão que tem um grau de exigência muito elevado e na que enfrenta já alguma contestação.
Nasceu em Angola em 1952, mais precisamente na Catabola, cidade da província do Bié a que chama “a minha alma”. Veio para Lisboa e licenciou-se em Engenharia de Minas pelo Instituto Superior Técnico, seguindo para o mestrado no londrino Imperial College antes de dividir o doutoramento entre essas duas instituições.
A carreira no setor petrolífero começou na estatal Sonangol em 1980 e está na Partex desde 2003. Uma das críticas à nomeação do António Costa Silva por António Costa tem sido baseada precisamente na sua longa ligação ao setor petrolífero. O PAN – Pessoas, Animais, Natureza diz que rejeita debater um plano de recuperação económica com um “homem do petronegócio”, enquanto Joacine Katar Moreira, deputada não-inscrita, afirmou que a escolha representa voltar aos ‘tempos áureos’ em que grandes investimentos em infraestruturas dinamizavam economias assentes na exploração dos combustíveis fósseis.
Colegas, altos executivos e peritos do setor descrevem Costa Silva como um engenheiro de topo, com alguns a mostrarem espanto sobre como é que um indíviduo pode acumular tanto conhecimento.
Poderá um homem do petróleo fazer um plano para a nova era ecológica? Num webinar que foi organizado pela Ordem dos Engenheiros há menos de um mês, António Costa Silva falou sobre a necessidade de Portugal investir nas infraestruturas e na digitalização, mas também falou em detalhe sobre a transição energética e mais especificamente sobre as oportunidades na energia renovável, área na qual diz que o país fez bem em investir cedo.
Os que o conhecem concordam que a curiosidade do presidente da Partex não se esgota nos aspetos técnicos da sua profissão, estendendo-se a áreas vastas, como a religião e a filosofia. Um ex-colega conta que Costa Silva a certa altura decidiu aprender engenharia civil. À pergunta sobre o que eram as plantas de edifícios que desenhava no gabinete, recebeu a seguinte resposta: “Nada, por enquanto só tem 60 andares.”
A poesia é outra corrente. Em 2014, a Arcádia publicou um livro dos poemas de Costa Silva e do seu amigo Nicolau Santos, atualmente presidente da Lusa e com quem convivera em Angola nos anos 70. No prefácio, o jornalista Pedro Santos Guerreiro diz que Costa Silva escreve muito sobre a palavra, numa poesia em que há beijos, aromas, silêncios, beleza.
Quando o Jornal Económico entrevistou o presidente da petrolífera da Gulbenkian, em março do ano passado, a citação que fez manchete dessa edição tinha o aroma de poesia: “A Partex é uma noiva muito apetecível, tem muitos pretendentes.”
A nomeação de Costa Silva apanhou os líderes políticos e os parceiros sociais de surpresa, com alguns a recusarem-se a negociar com o novo ‘paraministro’. O ainda presidente da Partex disse que não vê a negociação como parte da missão para a qual foi chamado pelo primeiro-ministro, esclarecendo que a sua tarefa consiste em preparar o plano.
No entanto, tendo em conta a relevância desta missão, crucial para o país poder sair de uma crise repentina e dolorosa com um plano a médio prazo, e com os interesses que esse plano poderá beneficiar ou prejudicar, a pressão política sobre o gestor deverá ser enorme.
Nos anos 70 do século passado, Costa Silva esteve detido três anos em Angola e aparentemente até chegou a estare perante um pelotão de fuzilamento. Essa experiência, aliada ao posicionamento político independente, como sublinham os que o conhecem há anos, deverão capacitar o gestor para lidar com essa pressão.
A metodologia na preparação do plano de recuperação até ao final deste ano deverá ser igual ao que amigos dizem que António Costa Silva aplicou ao longo de toda a sua carreira e que incutiu nos colaboradores e nos filhos: estudar, trabalhar e ter um objetivo.
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