António Guterres na ‘short list’ para o Nobel da Paz

A agência da Organização das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), o Tribunal Internacional de Justiça e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, estão entre os favoritos ao Prémio Nobel da Paz deste ano, disseram especialistas citados pela agência Reuters.

Num ano marcado pelas guerras em Gaza e na Ucrânia e, mais recentemente, pelos desentendimentos entre Guterres e o governo de Telavive, o Comité Norueguês do Nobel, que não costuma estar alinhado com os autocracias, pode optar por Guterres. Mas também pode surpreender, diz a mesma fonte, e não atribuir o prémio. Afinal, ninguém conseguiu acabar com nenhuma das duas guerras.

As casas de apostas – uma fonte que a comunicação social norte-americana (e cada vez mais a britânica) gosta de analisar – têm o dissidente russo Alexei Navalny, que morreu numa colônia penal russa do Ártico em fevereiro, como favorito para ganhar o prémio deste ano. Ou tinha: o prémio não é atribuído postumamente. Outro favorito das casas de apostas, o ucraniano Volodymyr Zelenskiy, provavelmente não vencerá porque é o líder de uma nação em guerra.

“A UNRWA pode ser uma dessas candidatas. Está a faze um trabalho extremamente importante para os palestinianos civis que experimentam os sofrimentos da guerra em Gaza”, disse Henrik Urdal, diretor do Instituto de Investigação da Paz de Oslo, à Reuters. Um prémio para a UNRWA seria controverso, acrescentou, dadas as alegações feitas por Israel de que alguns dos seus funcionários participaram do ataque de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que desencadeou a guerra em Gaza.

Alguns países suspenderam o seu financiamento à UNRWA como resultado dessas alegações, mas a maioria já retomou. Em agosto, uma investigação interna da ONU disse que nove funcionários podem estar envolvidos no ataque e foram demitidos. A UNRWA disse Israel está a tentar dissolver a organização. A agência, criada em 1949 após o início da primeira guerra israelo-árabe, fornece assistência humanitária a milhões de palestinianos na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Síria e Líbano.

O comité secreto de cinco membros nomeado pelo parlamento norueguês também pode querer concentrar-se na necessidade de reforçar a ordem mundial internacional construída após a Segunda Guerra Mundial e sua instituição máxima, as Nações Unidas. O que pode justificar um prémio para o seu secretário-geral, Antonio Guterres, com ou o Tribunal Internacional de Justiça como co-vencedor, disse Asle Sveen, historiador do Prémio Nobel da Paz também citado pela Reuters. “Guterres é o principal símbolo da ONU”, disse Sveen.

De qualquer modo, “talvez este seja o ano em que o comité do Prémio Nobel da Paz deva simplesmente reter a atribuição e focar a atenção no facto de que este é um planeta em guerra”, disse Dan Smith, diretor do Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo.

Milhares de pessoas podem propor nomes, incluindo ex-laureados, membros de parlamentos e professores universitários de História ou Direito. As indicações são secretas durante 50 anos, mas aqueles que nomeiam podem optar por revelar as suas escolhas. Alguns dos indicados conhecidos incluem a Agência de para os Refugiados da ONU, o ACNUR, o Papa Francisco e o naturalista britânico David Attenborough. No total, 286 candidatos foram indicados para o prémio deste ano.

O prémio do ano passado foi para Narges Mohammadi, uma defensora dos direitos das mulheres iranianas, que se encontrava presa.