Com 61 anos, António Horta Osório, banqueiro português com a melhor carreira internacional até ao momento, está desde agosto como vice-presidente não executivo do banco francês CCF – Crédit Commercial de France, que é detido pelo fundo de private equity da Cerberus Capital Management, onde é consultor sénior. Ao mesmo tempo é membro do supervisory board do polaco VeloBank, que adquiriu em julho o negócio de retalho do Citigroup na Polónia.
António Horta Osório acumula ainda outros cargos na banca, como o de consultor sénior da Mediobanca, e da gestora de private equity Precision Capital.
O ex- CEO do Santander UK e do Lloyds Bank, em entrevista, explica que a sua entrada na Administração do CCF, tal como a recente entrada na Administração do banco polaco VeloBank, “acontece na sequência da minha colaboração como Advisor Senior da Cerberus, que se iniciou há mais de 3 anos” e sublinha que “em ambos os bancos, a minha posição é não executiva”.
O banqueiro refere ainda que não há incompatibilidade em estar em bancos diferentes num mundo financeiro que é global, pois “são bancos que operam em mercados e segmentos distintos pelo que a questão não se põe”.Isto porque “o CCF e o VeloBank atuam no retalho em França e na Polónia respectivamente; o Quintet Bank (da Precision Capital) é um Private bank que opera no Luxemburgo, Alemanha, Holanda, Bélgica e Reino Unido, enquanto a Mediobanca é um banco de investimentos europeu”, explica.
Considera que “falar de regresso à banca não é adequado, até porque já é senior advisor do Mediobanca e da Precision Capital há alguns anos. “Ou seja, a minha ligação à banca e ao setor financeiro manteve-se sempre, apenas evoluiu para um papel diferente do que o que tive durante as décadas anteriores. Antes era CEO e agora sou Administrador não Executivo ou Advisor Senior”.
Diz também que não quer voltar a ser Executivo porque “na vida há um momento para tudo e o importante é fazer as coisas no momento certo e depois olhar para trás e sentir-se realizado com o que foi alcançado”. Mas, revela “continuo a trabalhar em média 5 dias por semana, 10 horas por dia, mas com 15% do stress que tinha como executivo”.
Dar a volta a situações adversas sempre foi a sua especialidade e não descarta voltar a fazê-lo. “É verdade que essa é a minha especialidade, sempre em conjunto com o que considero terem sido grandes equipas ou ‘núcleos duros’ – pois sempre foi um trabalho de equipa – e caso apareçam novas oportunidades desse tipo, estarei sempre disponível para as analisar”, admite.
Sobre o sistema bancário português diz que “está num dos melhores momentos de que me recordo nos últimos 30 anos” e vê a venda do Novobanco aos franceses do BPCE como “positiva para o banco, para o sistema financeiro, para os seus clientes e para o país em geral”.
Considera igualmente positivo “não haver demasiada concentração num só país, seja ele qual for, no que toca à propriedade do setor bancário”. Uma posição que o aproxima do que defendeu o Ministro das Finanças, Miranda Sarmento,
É também um defensor da “imigração inteligente”, ou seja, “receber as pessoas com as qualificações de que realmente precisamos e para as quais temos condições de integração cultural dignas e eficazes”. Sublinha que “a questão não é ‘se’ devemos acolher imigração, mas sim ‘como”.
Olhando pelo retrovisor, fala dos cargos que mais gostou de desempenhar, “fazer o Banco Santander de Negócios Portugal de raiz aos 29 anos, em conjunto com um grupo de amigos excepcionalmente competentes nas suas áreas, foi uma experiência extraordinária e que me deixou algo ‘fora de pé’ várias vezes”.
“Começar as atividades de retalho do Santander no Brasil com 32 anos foi igualmente uma experiência muito rica num país que para nós portugueses tem muitas afinidades culturais a começar pela língua” revela, acrescentando que foi acompanhado de 8 portugueses e 6 espanhóis. “Ouvíamos constantemente a pergunta se éramos do banco de Santo André (uma cidade perto de São Paulo) quando dizíamos que éramos do Banco Santander”, conta. Hoje o Santander “é o maior banco estrangeiro no Brasil e o Brasil é de longe o maior gerador de resultados para o Grupo Santander”, lembra.
“O episódio de exaustão no Lloyds foi um momento muito difícil, mas também um ponto de viragem importante na minha vida profissional e pessoal. Percebi que ninguém é imune ao stress prolongado, independentemente da experiência ou resiliência, e ganhei uma sensibilidade muito maior para as questões de saúde mental”, recorda o banqueiro que sofreu um burn-out durante a tentativa (bem sucedida) de recuperar o Lloyds Banking tendo devolvido todo o dinheiro público usado no resgate da instituição.
Fez das fraquezas forças e lançou no Lloyds um programa de prevenção de saúde mental. “Tenho muito orgulho em ter transformado um problema pessoal numa oportunidade para melhorar o bem-estar dos colaboradores e, de certa forma, contribuir para mudar a percepção pública do tema no Reino Unido”, confessa.
“O conselho que deixo aos gestores é simples: não ignorem os sinais, não confundam resistência com invulnerabilidade e criem condições nas organizações para que as pessoas se sintam apoiadas”, conclui.
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